Pesquisar as postagens

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

PROTECIONISMO: A INSTITUIÇÃO PARA SUA PROTEÇÃO



Nos EUA, na década de 1980, o temor dos norte americanos era o Japão, país cada vez mais predominante no comércio internacional. A resposta veio na forma de um episódio cômico: congressistas convocaram uma conferência de imprensa na escadaria do Senado e quebraram um rádio Toshiba, símbolo da “ameaça” nipônica.

Na década de 1990, o temor político era a debandada de empregos em direção ao sul, após a remoção de barreiras alfandegárias no comércio com o México.

Nos anos 2000, ficou famosa a decisão do Legislativo dos EUA impedindo que uma empresa chinesa adquirisse uma petroleira norte americana; além de impedirem que investidores do Oriente Médio comprassem uma grupo portuário.

O protecionismo é caracterizado como a imposição de barreiras e impostos a produtos importados e à aquisição de companhias nacionais por grupos estrangeiros. Trata-se de fenômeno de longa data: o comércio é quase tão antigo quanto a imposição de tarifas alfandegárias.

No mundo moderno, as ferramentas protecionistas são variadas: cotas por quantidades ou valores, subsídios a produtores (a União Europeia é prolífica neste método), subsídios a exportadores, manipulação das taxas de câmbio e muita burocracia.

A Crise de 2008 revelou outra técnica protecionista: bancos somente poderiam emprestar a residentes no próprio país. Se, por um lado,  o primeiro-ministro Gordon Brown chamou-a de “mercantilismo financeiro”, por outro ele incentivou bancos ingleses a fazerem o mesmo.

Apesar de a realidade apresentar um quadro bastante diverso, os políticos geralmente pregam em seus discursos serem contra o protecionismo, a favor do livre comércio, dizendo que barreiras ao comércio empobrecem todo o país (e os eventuais parceiros comerciais impedidos de venderem seus produtos nesses mercados) e ainda criam problemas diplomáticos que podem levar a guerras.

A crítica é amparada pela teoria das vantagens comparativas: ao se especializarem em dados produtos e serviços, todo o país prospera.

Mas o jogo político é mais complexo: se dada fábrica nos EUA não consegue mais competir por preços com seus concorrentes, um economista liberal recomendaria que a mesma fosse fechada. Já um protecionista recomendaria aumento de tarifas de importação, ou concessão de subsídios, tudo para salvar os empregos em risco.

Certamente o segundo apelo geraria mais benefícios eleitorais; enquanto que o primeiro economista diria que cabe aos trabalhadores despedidos acharem oportunidades de trabalho em outros setores da economia, mais competitivos no mercado internacional.

Os benefícios advindos do livre comércio puderam ser testemunhados após a Rodada Uruguai de conversações multilaterais na OMC, no início dos anos 1990. Esse acordo ajudou a impulsionar o comércio mundial na década que se seguiu. Contudo, durante a Rodada Doha, de 2001, desavenças surgidas entre, de um lado, China, Índia e Brasil, de outro os EUA, que pretendiam reduções significativas nos seus subsídios agrícolas, travaram as conversas e os benefícios que poderiam beneficiar a economia mundial.

A implantação de barreira protecionistas pode ser enganosa no curto prazo: o aumento das tarifas geralmente aumenta a arrecadação do governo, além de melhorar o Balanço das empresas domésticas, que passam a vender mais.

Entretanto, no longo prazo, os países costumam se deparar com perda do crescimento econômico. E o motivo é icônico na história mundial.

Na década de 1930, em meio à Grande Depressão, o soerguimento de barreiras comerciais foi a regra. Essa políticas receberam o apelido de “empobreça seu vizinho”. O mal-estar provocado entre as nações foi um dos motivos que levaram o mundo a descambar na II Grande Guerra. Como disse o economista francês do século XIX Frédéric Bastiat: “Quando as mercadorias não conseguem cruzar fronteiras, os exércitos o fazem”.

Após aquele conflito, as barreiras erguidas nas décadas precedentes começaram a ser demolidas. As vantagens comparativas voltaram à ordem do dia e o mundo entrou em crescimento acelerado, especialmente nas décadas de 1950 e 1960.

Outro exemplo muito citado é a própria China, uma economia rica e pulsante no século XV, a mais avançada do mundo, que entrou num período de fechamento quase absoluto. O resultado disso foi o empobrecimento e o esgarçamento do país, que somente retornou à tona no final do século XX, quando de seu retorno ao comércio entre nações.

Os temores atuais decorem da crise de 2008. Diversos países lançaram mão do expediente protecionista com vistas a recuperarem suas economias. Caso a onda de protecionismo se espalhe, as consequências para a economia mundial serão mais decisivos do que uma eventual depressão ou mesmo uma deflação ligada ao aumento da dívida pública.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “50 Ideias de Economia: que você precisa conhecer”

Nenhum comentário:

Postar um comentário