Em 1939, após empreender a invasão da Polônia, tem início a
II Guerra Mundial. O efeito mais imediato do conflito no campos das artes foi a
redução de materiais culturais disponíveis (cinema, teatro, discos etc.).
O regime nazista da Alemanha era caracterizado pelos seu
caráter antidemocrático, totalitário, racista, anti-semita, nacionalista e
expansionista. À união daquela Alemanha com o fascismo italiano e o Japão
imperialista de Hirohito deu-se a denominação de Eixo. Terminado o conflito, os
ventos democráticos passaram a varrer o ocidente, dividindo-se assim o mundo
entre os países de influência capitalista e aqueles de linha socialista: era a
Guerra Fria.
A adesão do Brasil ao conflito se deu a conta-gotas. Vargas
e o governo brasileiro demonstravam clara simpatia pelos nazifascistas, mas
terminaram por se filiarem aos Aliados.
Por esse tempo o estilo musical preferido do povo era o
samba, e as emissoras de rádio não paravam de irradiar canções de samba que o
povo adorava ouvir.
Mas o clima que vigiu no pós-guerra era de tristeza e
melancolia. Milhões morreram nas trincheiras, cidadãos não envolvidos na guerra
diretamente tiveram suas vidas abreviadas por conta de bombas lançadas sobre as
cidades. Foi assim que o samba adquiriu um aspecto mais triste, passou a cantar
desamores e relacionamentos mal sucedidos. O bolero passou a dar o tom. Era o
samba-canção, estilo que revelou intérpretes valorosos e compositores
inspiradíssimos.
O samba-canção, samba lento, de melodia romântica e letras dolorosamente
românticas, surgiu em fins da década de 1920. Era chamado também de samba de
meio de ano, para diferenciá-lo dos sambas-enredo. A primeira intérprete a se
popularizar nesse estilo foi Aracy Cortes.
O samba-canção sofreu algumas influências externas, como dos
boleros latinos. As letras traziam muito da filosofia existencialista europeia com
seus desencantos do mundo. A orquestração semi-erudita é outro ponto forte do
estilo musical.
Foi também na década de 1950 que a comunicação de massa aportou
definitivamente aqui. Rádios, jornais, revistas e as recentes emissoras de
televisão agitavam milhares de fãs em torno dos artistas mais populares.
O bairro que sediava os cantos e encantos do samba-canção
era Copacabana, batizada de “princesinha do mar” na canção Copacabana, de João
de Barro e Alberto Ribeiro. Saia de cena a Lapa e entravam nos melhores
roteiros os bares, cabarés e restaurantes de Copa, que abrilhantavam a vida
noturna dos boêmios.
Se na década de 1930 Copacabana era um idílico paraíso
natural semi-desabitado, agora prostitutas, madames, políticos, intelectuais,
milionários, traficantes e seus clientes, bronzeados, livres, leves e soltos
dividiam espaço pelas ruas animadas do bairro.
Contudo, ao final da década de 1950, o clima contido dos
anos de guerra deu espaço à alegria. O governo JK devolveu o otimismo. E a
música brasileira abriu alas para a bossa nova. Agora, jovens da Zona Sul
carioca cantavam sobre amor, sol, mar, mulheres bonitas. Assim, ficava para
trás a fossa e entrava em cena a alegria de viver.
Em 1963, surge um marco divisor de águas: o bar Zicartola,
de propriedade de Cartola e sua esposa, dona Zica, localizado num sobrado no
centro do Rio de Janeiro. Cantores como Zé Kéti, Elton Medeiros, Hermínio Bello
de Carvalho, Tom Jobim, Carlos Lyra, Sérgio Ricardo, Nelson Sargento, Nara Leão
e Paulinho da Viola batiam ponto no estabelecimento. Daí nasceram dois shows Marcantes:
Opinião e Rosa de Ouro.
E a evolução musical brasileira estava apenas começando...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Almanaque do samba: a história do samba...”
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