O período da Guerra Fria trouxe um fenômeno tão imprevisível
de generosidade bastante interesseira: as duas superpotências, EUA e URSS
tiveram de tratar as nações mais pobres do mundo, à época agrupadas sob a
denominação de Terceiro Mundo, denominação essa forjada por Mao Tsé Tung, com
largos sorrisos e uma mão estendida. Temendo vê-la se bandear para o lado inimigo,
disponibilizavam às mesmas imensas quantias de dinheiro, fosse para um ditador
africano, como Mobuto, do Zaire, fosse um ditador latino, como o chileno Augusto
Pinochet. O que importava era fechar as portas para os interesses do oponente.
Pois bem, a “queda do Muro” pôs um ponto final a essa
política do mundo bipolar. Não eram poucas as nações que somente conseguiam
fechar suas contas após os aportes da potência aliada.
Não se pense que essa foi a realidade de todos os países, em
toda parte. Países como a China aproveitaram o período de bonança para atrair
imensos investimentos estrangeiros, que lhe garantiram um parque industrial
invejável, base para décadas de crescimento vertiginoso. O sucesso da China foi
precedido por diversos outros países asiáticos (como Japão e Cingapura) e foi
simultâneo ao da Índia.
Se o mundo pós-II Guerra era composto por 1/5 de países
ricos e 4/5 de países pobres, o mundo pós-Guerra Fria apresentava um aspecto um
tanto diferente: 1/5 de ricos, 3/5 de emergentes e 1/5 de pobres. Este último
grupo, batizado por Paul Collier de “o bilhão de baixo”, costuma suscitar maiores
preocupações sociais e humanitárias.
Mas uma pergunta fundamental resta sem resposta: o que um
país deve fazer para se tornar rico? Não há respostas prontas, apenas hipóteses
e especulações. Alguns culpam o clima e a geografia, que influenciam a
qualidade das colheitas; outros acreditam que fatores culturais, como o modo de
lidar com a propriedade privada, são os que realmente desequilibram a balança
para o seu lado; há quem veja o estado do progresso das instituições políticas
como o fator que permite o enriquecimento do país; por outro lado, muitos creem
que se tornar um país rico é puro acaso, um acidente na história; por sua vez,
há quem veja isso como uma manifestação do destino – um destino manifesto.
Caso a desigualdade entre países seja analisada à luz da história,
somente após a Revolução Industrial, cujo estopim foi deflagrado na Inglaterra
de meados do século XVIII, este desnível atingiu proporções relevantes. A
pequena valeta descambou em abismo no caso de diversos países da África
subsaariana. Séculos de exploração e expropriação de riquezas minerais e
agrícolas, iniciadas ainda em épocas medievais e tendo por base a escravidão de
tribos inimigas relegaram o continente ao fundo do abismo das desigualdades
planetárias.
Embora diversos países africanos tenham encontrado o rumo do
progresso, a África subsaariana convive com agricultura de subsistência, com localidades
cujos índices de mortalidade são equiparáveis aos da Europa pré-Reforma
Protestante. Tudo posto, soma-se a isso a epidemia da Aids e temos uma
expectativa de vida média de meros 50 anos de idade.
Com a intenção de orientar o desenvolvimento do mundo, as
Nações Unidas estabeleceram em 2001 os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,
os ODM, que deveriam ser alcançados até 2015. Eram eles: erradicar a pobreza
extrema e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre
os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a
saúde materna; combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças; garantir a
sustentabilidade ambiental; estabelecer uma parceria mundial para o
desenvolvimento.
Embora nem todos tenham sido alcançados, os resultados em
nível planetário foram encorajaram a edição de um novo conjunto de objetivos
para os próximos anos.
Collier procurou, ao lado do esforço para entender as
atitudes que levam ao enriquecimento, listar as armadilhas que levam os países
ao fundo do poço do progresso: Guerra Civil (vide Síria, Líbia etc.); a Doença
Holandesa, ou a armadilha dos recursos naturais (vide Venezuela); Desvantagens
geográficas (vide Bolívia, sem saída para o mar); Maus governos (não tenho
dedos para contar...).
O modo de lidar com a pobreza em escala planetária já sofreu
vários revezes: desde organismos multilaterais, como Banco Mundial e Nações
Unidas, a ONGs, como Oxfam, muito tem se tentado. Mas nenhum aporte de
donativos é capaz de mudar a estrutura produtiva desses países. Apenas o
comércio internacional, com pequenas vantagens, como erguimento de barreiras
comerciais que os protejam da enxurrada de importados e a isenção de tarifas na
importação de seus produtos por países ricos pode trazer a superação da pobreza
de maneira decisiva.
E quem mais tem dado contribuições nesse sentido, mormente
no caso da África, é a China, fomentando obras de infraestrutura em países que
ela considera estratégicos para suas aspirações políticas e econômicas.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “50 Ideias de Economia: que você precisa
conhecer”
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