Pesquisar as postagens

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

PAÍS RICO, PAÍS POBRE – O QUE O RICO NÃO ENSINA AO POBRE SOBRE DINHEIRO



O período da Guerra Fria trouxe um fenômeno tão imprevisível de generosidade bastante interesseira: as duas superpotências, EUA e URSS tiveram de tratar as nações mais pobres do mundo, à época agrupadas sob a denominação de Terceiro Mundo, denominação essa forjada por Mao Tsé Tung, com largos sorrisos e uma mão estendida. Temendo vê-la se bandear para o lado inimigo, disponibilizavam às mesmas imensas quantias de dinheiro, fosse para um ditador africano, como Mobuto, do Zaire, fosse um ditador latino, como o chileno Augusto Pinochet. O que importava era fechar as portas para os interesses do oponente.

Pois bem, a “queda do Muro” pôs um ponto final a essa política do mundo bipolar. Não eram poucas as nações que somente conseguiam fechar suas contas após os aportes da potência aliada.

Não se pense que essa foi a realidade de todos os países, em toda parte. Países como a China aproveitaram o período de bonança para atrair imensos investimentos estrangeiros, que lhe garantiram um parque industrial invejável, base para décadas de crescimento vertiginoso. O sucesso da China foi precedido por diversos outros países asiáticos (como Japão e Cingapura) e foi simultâneo ao da Índia.

Se o mundo pós-II Guerra era composto por 1/5 de países ricos e 4/5 de países pobres, o mundo pós-Guerra Fria apresentava um aspecto um tanto diferente: 1/5 de ricos, 3/5 de emergentes e 1/5 de pobres. Este último grupo, batizado por Paul Collier de “o bilhão de baixo”, costuma suscitar maiores preocupações sociais e humanitárias.

Mas uma pergunta fundamental resta sem resposta: o que um país deve fazer para se tornar rico? Não há respostas prontas, apenas hipóteses e especulações. Alguns culpam o clima e a geografia, que influenciam a qualidade das colheitas; outros acreditam que fatores culturais, como o modo de lidar com a propriedade privada, são os que realmente desequilibram a balança para o seu lado; há quem veja o estado do progresso das instituições políticas como o fator que permite o enriquecimento do país; por outro lado, muitos creem que se tornar um país rico é puro acaso, um acidente na história; por sua vez, há quem veja isso como uma manifestação do destino – um destino manifesto.

Caso a desigualdade entre países seja analisada à luz da história, somente após a Revolução Industrial, cujo estopim foi deflagrado na Inglaterra de meados do século XVIII, este desnível atingiu proporções relevantes. A pequena valeta descambou em abismo no caso de diversos países da África subsaariana. Séculos de exploração e expropriação de riquezas minerais e agrícolas, iniciadas ainda em épocas medievais e tendo por base a escravidão de tribos inimigas relegaram o continente ao fundo do abismo das desigualdades planetárias.

Embora diversos países africanos tenham encontrado o rumo do progresso, a África subsaariana convive com agricultura de subsistência, com localidades cujos índices de mortalidade são equiparáveis aos da Europa pré-Reforma Protestante. Tudo posto, soma-se a isso a epidemia da Aids e temos uma expectativa de vida média de meros 50 anos de idade.

Com a intenção de orientar o desenvolvimento do mundo, as Nações Unidas estabeleceram em 2001 os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, os ODM, que deveriam ser alcançados até 2015. Eram eles: erradicar a pobreza extrema e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

Embora nem todos tenham sido alcançados, os resultados em nível planetário foram encorajaram a edição de um novo conjunto de objetivos para os próximos anos.

Collier procurou, ao lado do esforço para entender as atitudes que levam ao enriquecimento, listar as armadilhas que levam os países ao fundo do poço do progresso: Guerra Civil (vide Síria, Líbia etc.); a Doença Holandesa, ou a armadilha dos recursos naturais (vide Venezuela); Desvantagens geográficas (vide Bolívia, sem saída para o mar); Maus governos (não tenho dedos para contar...).

O modo de lidar com a pobreza em escala planetária já sofreu vários revezes: desde organismos multilaterais, como Banco Mundial e Nações Unidas, a ONGs, como Oxfam, muito tem se tentado. Mas nenhum aporte de donativos é capaz de mudar a estrutura produtiva desses países. Apenas o comércio internacional, com pequenas vantagens, como erguimento de barreiras comerciais que os protejam da enxurrada de importados e a isenção de tarifas na importação de seus produtos por países ricos pode trazer a superação da pobreza de maneira decisiva.

E quem mais tem dado contribuições nesse sentido, mormente no caso da África, é a China, fomentando obras de infraestrutura em países que ela considera estratégicos para suas aspirações políticas e econômicas.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “50 Ideias de Economia: que você precisa conhecer”

Nenhum comentário:

Postar um comentário