Assim como o próprio país em que está inserido, o samba é o
resultado de inúmeras contribuições culturais, provenientes das mais diversas
culturas. E essa realidade pode ser conferida na origem geográfica dos instrumentos
tradicionalmente utilizados na feitura desse gênero musical. Se não vejamos:
1 – Pandeiro: o pandeiro tem origem árabe. Foi levado para a
Europa ainda durante a Idade Média e adotado tanto por artistas ambulantes – ao
estilo dos trovadores – quanto por diversos músicos de Cortes. O primeiro nome
intimamente associado a esse instrumento no Brasil foi o de João da Baiana.
Está presente no choro, em rodas de samba e etc.
2 – Cavaquinho: instrumento com origem portuguesa, também
conhecido como braguinha, braga, machete, dentre outros nomes, é utilizado em
funções de acompanhamento musical ou em solos.
Tradicionalmente, o choro conta com flauta, violão e
cavaquinho, mas se faz presente também no samba. O grande ícone do cavaquinho
foi Waldir Azevedo, autor de Brasileirinho, uma das músicas brasileiras mais tocadas
em todo o mundo.
3 – Violão: o violão é um instrumento de origem milenar:
arqueólogos acharam instrumentos de cordas, com um corpo e um braço, algumas
vezes pontuado com trastes no Egito (que
já usava amplamente a Harpa, a qual foi modificada para adquirir a aparência de
um violão), na Assíria e em outros lugares da Antiguidade.
A história é um tanto confusa, mas surgiram duas hipóteses:
ou seria derivado do instrumento grego khetara que, após as invasões romanas,
recebeu o nome latino de cítara (semelhante à lira);ou seria uma evolução do
Alaúde, proveniente dos árabes.
Chegaram à Europa medieval por meio da Península Ibérica,
convivendo por muito tempo na Espanha.
Com o tempo, a khetara grega deu origem à guitarra latina,
enquanto que o Alaúde árabe originou a guitarra mourisca.
No século XVI, esse instrumento ganhou cinco cordas, fato
comprovado em uma gravura italiana do período. Tornou-se o instrumento musical predileto
na Europa, ganhou afinação Lá-Ré-Sol-Si-Mi, quase a esma dos violões atuais, e
recebeu diversos nomes: vihuela (Espanha), rizzio gitarre (França) e guitarra
batente (Itália).
Os portugueses desenvolveram desde muito cedo a Viola
Portuguesa, semelhante à viola caipira brasileira. Esse instrumento é um pouco
menor e muito semelhante à guitarra espanhola. Quando se depararam com o
equivalente espanhol, a vihuela, passaram a chamá-la pelo aumentativo de viola:
violão.
Somente no século XX tanto os portugueses quanto nós,
brasileiros, voltamos a usa o nome guitarra para o violão elétrico.
4 - Violão de 7 cordas: de provável origem russa, tem mais uma
corda a mais, afinada em tom grave (daí ser ele mais prolífico nas “baixarias”).
Iniciou sua trajetória em solo nacional por meio dos chorões: China e Tute. Mas
seu manejador mais genial foi Dino 7
Cordas. Dentre os apóstolos do grande mestre, deve-se destacar o nome de
Raphael Rabello.
É um instrumento bastante comum no samba contemporâneo.
5 – Cuíca: o nome deita raízes em Angola e no Congo.
Acredita-se que foi trazido ao Brasil por africanos de etnia banto, vindos como
escravos – mas essa hipótese é controversa, haja vista alguns crerem que foi
trazido da Holanda. Assemelha-se a um tambor, preenchido por uma membrana
distendida e com uma haste presa à membrana pela parte inferior. É acionado
atritando-se a haste, movendo-a com a mão direita.
6 – Banjo: esse instrumento era conhecido em Portugal por bandurra;
na Espanha, bandurria. Mas nos EUA, os negros reduzidos à escravidão passaram a
chama-lo de banjo. O formato lembra um tambor, com uma membrana esticada, braço
longo e cordas.
Tornou-se popular no Brasil no início do século XX, pelas
mãos de Gastão Bueno Lobo. No final da década de 1970, Almir Guineto o trouxe
de volta a lume, quando o afinou como um cavaquinho e o pôs a ressoar pela
quadra do Cacique de Ramos.
7 – Tamborim: foi trazido ao Brasil pelos europeus. E esse
fato é comprovado na Carta do Descobrimento, de Caminha. É usada em danças de
origem africana, como maracatus e cucumbis. Entrou no universo das Escolas de
Samba e de lá não saiu mais.
8 – Surdo: o surdo foi criado no bairro do Estácio, onde
surgiram as Escolas de Samba, e logo foi introduzido nas baterias, com a função
de marcação de ritmo.
9 – Reco-reco: esse instrumento produz som pelo contato de
uma baqueta sobre uma superfície com ranhuras. Também faz arte da bateria das escola
de samba.
10 – Agogô: tem origem afro-brasileira e é composto de dois
pedaços de metal em formato de sino e que emitem sons diferentes ao serem percutidos
por uma vareta de metal. Além do samba, é usada em macumbas e capoeiras.
11 – Tantã e repique de mão: ambos são produto da
genialidade dos pagodeiros do Cacique de Ramos. O tantã foi criado por Sereno;
o repique de mão nasceu das mãos de Ubirani. São tambores de tamanho reduzido e
ajudaram na popularização do pagode, que necessitava de maior mobilidade e só
poderia contar com instrumentos acústicos.
Rubem L. de F. Auto
Fontes: Almanaque do Samba: a história do samba...
Nenhum comentário:
Postar um comentário