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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

O COSMOPOLITISMO ESTÁ NA RAIZ DO SAMBA: INSTRUMENTOS



Assim como o próprio país em que está inserido, o samba é o resultado de inúmeras contribuições culturais, provenientes das mais diversas culturas. E essa realidade pode ser conferida na origem geográfica dos instrumentos tradicionalmente utilizados na feitura desse gênero musical. Se não vejamos:

1 – Pandeiro: o pandeiro tem origem árabe. Foi levado para a Europa ainda durante a Idade Média e adotado tanto por artistas ambulantes – ao estilo dos trovadores – quanto por diversos músicos de Cortes. O primeiro nome intimamente associado a esse instrumento no Brasil foi o de João da Baiana.
Está presente no choro, em rodas de samba e etc.

2 – Cavaquinho: instrumento com origem portuguesa, também conhecido como braguinha, braga, machete, dentre outros nomes, é utilizado em funções de acompanhamento musical ou em solos.
Tradicionalmente, o choro conta com flauta, violão e cavaquinho, mas se faz presente também no samba. O grande ícone do cavaquinho foi Waldir Azevedo, autor de Brasileirinho, uma das músicas brasileiras mais tocadas em todo o mundo.

3 – Violão: o violão é um instrumento de origem milenar: arqueólogos acharam instrumentos de cordas, com um corpo e um braço, algumas vezes  pontuado com trastes no Egito (que já usava amplamente a Harpa, a qual foi modificada para adquirir a aparência de um violão), na Assíria e em outros lugares da Antiguidade.
A história é um tanto confusa, mas surgiram duas hipóteses: ou seria derivado do instrumento grego khetara que, após as invasões romanas, recebeu o nome latino de cítara (semelhante à lira);ou seria uma evolução do Alaúde, proveniente dos árabes.
Chegaram à Europa medieval por meio da Península Ibérica, convivendo por muito tempo na Espanha.
Com o tempo, a khetara grega deu origem à guitarra latina, enquanto que o Alaúde árabe originou a guitarra mourisca.
No século XVI, esse instrumento ganhou cinco cordas, fato comprovado em uma gravura italiana do período. Tornou-se o instrumento musical predileto na Europa, ganhou afinação Lá-Ré-Sol-Si-Mi, quase a esma dos violões atuais, e recebeu diversos nomes: vihuela (Espanha), rizzio gitarre (França) e guitarra batente (Itália).
Os portugueses desenvolveram desde muito cedo a Viola Portuguesa, semelhante à viola caipira brasileira. Esse instrumento é um pouco menor e muito semelhante à guitarra espanhola. Quando se depararam com o equivalente espanhol, a vihuela, passaram a chamá-la pelo aumentativo de viola: violão.
Somente no século XX tanto os portugueses quanto nós, brasileiros, voltamos a usa o nome guitarra para o violão elétrico.

4 - Violão de 7 cordas: de provável origem russa, tem mais uma corda a mais, afinada em tom grave (daí ser ele mais prolífico nas “baixarias”). Iniciou sua trajetória em solo nacional por meio dos chorões: China e Tute. Mas seu manejador  mais genial foi Dino 7 Cordas. Dentre os apóstolos do grande mestre, deve-se destacar o nome de Raphael Rabello. 
É um instrumento bastante comum no samba contemporâneo.

5 – Cuíca: o nome deita raízes em Angola e no Congo. Acredita-se que foi trazido ao Brasil por africanos de etnia banto, vindos como escravos – mas essa hipótese é controversa, haja vista alguns crerem que foi trazido da Holanda. Assemelha-se a um tambor, preenchido por uma membrana distendida e com uma haste presa à membrana pela parte inferior. É acionado atritando-se a haste, movendo-a com a mão direita.

6 – Banjo: esse instrumento era conhecido em Portugal por bandurra; na Espanha, bandurria. Mas nos EUA, os negros reduzidos à escravidão passaram a chama-lo de banjo. O formato lembra um tambor, com uma membrana esticada, braço longo e cordas.
Tornou-se popular no Brasil no início do século XX, pelas mãos de Gastão Bueno Lobo. No final da década de 1970, Almir Guineto o trouxe de volta a lume, quando o afinou como um cavaquinho e o pôs a ressoar pela quadra do Cacique de Ramos.

7 – Tamborim: foi trazido ao Brasil pelos europeus. E esse fato é comprovado na Carta do Descobrimento, de Caminha. É usada em danças de origem africana, como maracatus e cucumbis. Entrou no universo das Escolas de Samba e de lá não saiu mais.

8 – Surdo: o surdo foi criado no bairro do Estácio, onde surgiram as Escolas de Samba, e logo foi introduzido nas baterias, com a função de marcação de ritmo.

9 – Reco-reco: esse instrumento produz som pelo contato de uma baqueta sobre uma superfície com ranhuras. Também faz arte da bateria das escola de samba.

10 – Agogô: tem origem afro-brasileira e é composto de dois pedaços de metal em formato de sino e que emitem sons diferentes ao serem percutidos por uma vareta de metal. Além do samba, é usada em macumbas e capoeiras.

11 – Tantã e repique de mão: ambos são produto da genialidade dos pagodeiros do Cacique de Ramos. O tantã foi criado por Sereno; o repique de mão nasceu das mãos de Ubirani. São tambores de tamanho reduzido e ajudaram na popularização do pagode, que necessitava de maior mobilidade e só poderia contar com instrumentos acústicos.


Rubem L. de F. Auto

Fontes: Almanaque do Samba: a história do samba...

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