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terça-feira, 4 de setembro de 2018

NEM À ESQUERDA, NEM À DIREITA. O MUNDO AVANÇA NA BASE DA FORÇA



Embora muitas das discussões - pobres e improdutivas, diga-se - sobre política, atualmente, girem em torno de nomes cuja definição quase todos desconhecem, como esquerda, direita, capitalismo e socialismo, a história da humanidade indica que a força motriz subjacente é basicamente a mesma desde, pelo menos, quatro milênios antes de Cristo, data em que se pode afirmar que nascera a civilização: a força das armas move a tudo e a todos.

Em escala internacional, a força das armas corresponde à força dos impérios. E a história dos impérios é muito antiga, embora tenhamos a tendência de nos lembrarmos apenas dos impérios modernos do nosso hemisférios ocidental.

Iniciada por Portugal e Espanha, quando da conquista do novíssimo continente americano, a era dos impérios atingiu seu ápice no período entre 1880 e 1980. Até o estouro da I Guerra Mundial, Grã-Bretanha, França, Bélgica, Holanda e Alemanha, que, somadas, correspondiam a menos de 1% da superfície da Terra e a menos de 8% da população mundial, governavam um terço do planeta e mais de 25% dos terráqueos. Ficam de fora dessa conta todos os países americanos, exceto o Canadá, ainda colônia inglesa, contudo sabendo-se terem sido eles governados por impérios europeus por séculos.

Mas a situação em escala mundial era ainda mais angustiante. A maior parte da Europa central e oriental gravitava em torno das órbitas dos impérios russo, alemão ou austríaco. Havia ainda o império Otomano, senhor absoluto do Oriente Médio, e o milenar império Chinês. E novos entrantes pareciam interessados em se juntar à festa. O Japão, após ter suas portas comerciais arrombadas por frotas yankees, logo se lançou à sua aventura imperial após invadir a Coréia.

Os EUA mesmos, embora concebido em meio a guerras anti-imperialistas, punham suas mangas de fora ao conquistar, um após outro, Texas (1845), Califórnia (1898), Alasca (1867), Filipinas, Porto Rico, Havaí e Guam (1898). O imperialismo que se iniciou em escala continental não parou até se tornar hemisférico.

Mas, no século XX, a rejeição ao imperialismo se instalou. O marco fundador dessa ojeriza foi a publicação de “Imperislismo: um ensaio”, de J. Hobson, uma crítica ferina ao Império Britânico, na qual o autor definia aquele império como uma enorme extorsão desenfreada em proveito de uma pequena elite de financistas e de seus clientes especuladores. Esse livro seminal serviu de inspiração para outra obra de tirar o fôlego: “Imperialismo: etapa superior do capitalismo”, de Vladimir Lênin. Este via a I Guerra Mundial como o embate inevitável entre nações imperialistas, não mais capazes de conviverem em paz.

Após cambalearem quase moribundos ao longo dos anos 1920 e 1930, os impérios ocidentais que sobreviveram ao primeiro conflito mundial foram abatidos pela fúria desenfreada da II Guerra Mundial, fruto da tentativa de alemães, italianos e japoneses construírem impérios próprios na Europa, na África e na Ásia.

Ao cabo, restavam quase incólumes dois impérios, ainda que suportassem um discurso anti-imperialista: EUA e URSS. A China seguia a definição de império à risca, mas não tinha territórios ultramar, portanto tinha pouca probabilidade de se beneficiar com o movimento de descolonização que se iniciou pós-1945.

O clima para a descolonização do mundo não era dos mais propícios. No mundo ocidental, a voz de Roosevelt soava única. A vontade de conceder ampla soberania às ex-colônias pode ser resumida numa frase de sincera e retumbante, pronunciada por Herbert Morrison, em 1943: “Seria um absurdo ignorante e perigoso falar em concessões de governo próprio a muitos dos territórios dependentes por algum tempo no futuro. Nesses casos seria como dar a uma criança de dez anos a chave de casa, uma conta no banco e uma arma.”

Mas Roosevelt terminou por derrotar Churchill e a descolonização do mundo ocorreu, embora os EUA tenham atrapalhado muito naqueles países onde havia o perigo de tomada do poder por grupos comunistas, como ocorreu na Indochina (Vietnã, Camboja e Laos), e no Oriente Médio. Nesses lugares, ditaduras sanguinárias forma financiadas por Washington para evitar a “ameaça vermelha”.
Se a I Guerra Mundial pôs um ponto final nas famílias imperiais dos Habsburgo (Austro-Húngaro), dos Hohenzollern (Alemanha) e no império Otomano (sediado na atual Turquia), a II Guerra enterrou os impérios britânico, francês, holandês, belga e português.

Após isso, o mundo viu assombrado o número de países do globo aumentando exponencialmente. Em 1920 havia 69 países soberanos; em 1950, o número chegou a 89; em 1995, quando o império russo finalmente desabou, havia 192 países soberanos no mundo.

Diante do crescimento abrupto da China, do enfraquecimento militar dos EUA, da retomada da indústria bélica russa... o que nos guarda o futuro?


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Colosso”

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