Os russos tiveram contato com o jogo de xadrez por volta do
século VIII, no encalço da expansão comercial florescente. OS mercadores russos
levavam produtos do país rio abaixo, pelo Volga, até o mar Cáspio – de lá,
seguiam em direção a algum porto persa, de onde seguiam sobre camelos até
Bagdá, maior mercado muçulmano no período.
Foi lá provavelmente onde aprenderam a jogar xadrez com
árabes e persas, amplamente familiarizados com o jogo.
Nos séculos XII e XIII, os mongóis invadiram o território russo
e levaram para lá sua própria variedade do
jogo. Apesar de terem recebido o jogo diretamente dos indianos, a variedade
mongol apresentava peças ligeiramente diferentes: o conselheiro virou um
cachorro; o elefante virou um camelo bactriano.
Embora o jogo já fosse amplamente praticado no país, até meados
do século XIx conviviam a modalidade russo-asiática, em que a Dama se
movimentava de casa em casa, diagonalmente - e a modalidade russo-européia do
jogo. Esta última foi derivada da internalização das regras do xadrez europeu,
a partir das modernizações impostas pelo imperador Pedro, mais de duzentos anos
antes.
Um momento fundamental da história do xadrez na Rússia se
deu quando da introdução do cristianismo no país, cerca de 1000 d.C. Inicialmente,
e a exemplo de sua contraparte romana, ela tentou suprimir a prática do xadrez,
angariando resultado igualmente fracassado.
Alguns trabalhos eclesiásticos chegavam a pôr bêbados,
feiticeiros, libertinos no mesmo patamar que jogadores de xadrez. Não vendo
surtirem efeitos satisfatórios, apelou-se ao poder secular e os czares também
editaram decretos que proibiam o xadrez – embora hipocritamente fosse
amplamente praticado dentro da Corte, haja vista o próprio imperador Ivan, o
Terrível, ter morrido diante de um tabuleiro de xadrez.
A proibição do xadrez na Rússia teve o mesmo destino das
proibições em geral: fez aumentar significativamente a prática do jogo, de tal
forma que em nenhum lugar o jogo se infiltrou tanto em todas as classes
sociais.
Pedro, o Grande, quando adotou as regras do xadrez europeu
em sua corte, acabou por incentivar a publicação de livros sobre xadrez. Mas o
efeito dessas publicações foi muito limitado, porque os russos eram em geral
analfabetos.
Contudo, após a Revolução Bolchevique e da adoção da
educação pública universal, o jogo atingiu seu atual caráter internacional. O
próprio Lênin era um jogador inveterado. Além disso, o jogo compunha o treinamento
mental, que coexistia com a larga prática de esportes, que era o eixo da
educação física, conforme orientava o regime soviético. É comum, no inverno, a
hora de almoço se dar em frente a um tabuleiro, com a movimentação de peças ocorrendo
entre uma garfada e outra.
Em 1925, quando disputava um torneio internacional em
Moscou, o campeão norte americano Frank Marshall revelou que nos dias de
competição o trânsito em moscou ficava paralisado devido à multidão que se apinhava
na porta do edifício onde se dava a competição.
Após a melhoria das condições de vida no país em decorrência
da Revolução comunista, o país se tornou o principal viveiro de mestres
jogadores de xadrez.
Os grandes campeões saem geralmente das escolas, onde o jogo
é ensinado e incentivado. Malwaukee, nos EUA, copiou essa iniciativa, com
resultados brilhantes.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “A história do xadrez”
Nenhum comentário:
Postar um comentário