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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

XADREZ E RÚSSIA: UM AMOR VERDADEIRO


Os russos tiveram contato com o jogo de xadrez por volta do século VIII, no encalço da expansão comercial florescente. OS mercadores russos levavam produtos do país rio abaixo, pelo Volga, até o mar Cáspio – de lá, seguiam em direção a algum porto persa, de onde seguiam sobre camelos até Bagdá, maior mercado muçulmano no período.

Foi lá provavelmente onde aprenderam a jogar xadrez com árabes e persas, amplamente familiarizados com o jogo.

Nos séculos XII e XIII, os mongóis invadiram o território russo e levaram para lá  sua própria variedade do jogo. Apesar de terem recebido o jogo diretamente dos indianos, a variedade mongol apresentava peças ligeiramente diferentes: o conselheiro virou um cachorro; o elefante virou um camelo bactriano.

Embora o jogo já fosse amplamente praticado no país, até meados do século XIx conviviam a modalidade russo-asiática, em que a Dama se movimentava de casa em casa, diagonalmente - e a modalidade russo-européia do jogo. Esta última foi derivada da internalização das regras do xadrez europeu, a partir das modernizações impostas pelo imperador Pedro, mais de duzentos anos antes.  

Um momento fundamental da história do xadrez na Rússia se deu quando da introdução do cristianismo no país, cerca de 1000 d.C. Inicialmente, e a exemplo de sua contraparte romana, ela tentou suprimir a prática do xadrez, angariando resultado igualmente fracassado.

Alguns trabalhos eclesiásticos chegavam a pôr bêbados, feiticeiros, libertinos no mesmo patamar que jogadores de xadrez. Não vendo surtirem efeitos satisfatórios, apelou-se ao poder secular e os czares também editaram decretos que proibiam o xadrez – embora hipocritamente fosse amplamente praticado dentro da Corte, haja vista o próprio imperador Ivan, o Terrível, ter morrido diante de um tabuleiro de xadrez.

A proibição do xadrez na Rússia teve o mesmo destino das proibições em geral: fez aumentar significativamente a prática do jogo, de tal forma que em nenhum lugar o jogo se infiltrou tanto em todas as classes sociais.

Pedro, o Grande, quando adotou as regras do xadrez europeu em sua corte, acabou por incentivar a publicação de livros sobre xadrez. Mas o efeito dessas publicações foi muito limitado, porque os russos eram em geral analfabetos.

Contudo, após a Revolução Bolchevique e da adoção da educação pública universal, o jogo atingiu seu atual caráter internacional. O próprio Lênin era um jogador inveterado. Além disso, o jogo compunha o treinamento mental, que coexistia com a larga prática de esportes, que era o eixo da educação física, conforme orientava o regime soviético. É comum, no inverno, a hora de almoço se dar em frente a um tabuleiro, com a movimentação de peças ocorrendo entre uma garfada e outra.

Em 1925, quando disputava um torneio internacional em Moscou, o campeão norte americano Frank Marshall revelou que nos dias de competição o trânsito em moscou ficava paralisado devido à multidão que se apinhava na porta do edifício onde se dava a competição.

Após a melhoria das condições de vida no país em decorrência da Revolução comunista, o país se tornou o principal viveiro de mestres jogadores de xadrez.   

Os grandes campeões saem geralmente das escolas, onde o jogo é ensinado e incentivado. Malwaukee, nos EUA, copiou essa iniciativa, com resultados brilhantes.   


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “A história do xadrez”



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