A entrada do jogo de xadrez da Europa, a partir de sua
concepção indiana, se deu por duas vertentes, ambas a cargo dos muçulmanos. A
Espanha recebeu-o dos mouros; a Itália, dos sarracenos. Ambas por volta do
século IX.
Já o nome do jogo, exceto na Espanha e em Portugal, deriva
da palavra latina scac, uma latinização da palavra árabe shah, que designava o
rei no idioma original. Desde então o nome local para o rei passou a designar
todo o jogo, não apenas a peça principal, nos países onde a entrada do jogo se
deu a partir da Itália. Contudo, na Espanha e em Portugal, a denominação do
jogo usou a palavra árabe shatranj, que virou ajedrez em espanhol e xadrez em
português.
Uma carta de 1061, escrita por Petrus Damiani, cardeal-bispo
de Ostia, ao papa Alexandre II, dá testemunho da péssima reputação de que o
jogo desfrutava na sua modalidade com apostas. Já a modalidade sem apostas
desfrutava de melhor reputação.
Mas a atração que o jogo exercia sobre as pessoas mostrou-se
mais forte do que as proibições impostas pela Igreja. Quando, por volta de
1400, percebeu-se que sua prática era comum em quase todas as cortes européias,
tornou-se desinteressante proscrevê-lo. Muitos clérigos inclusive se tornaram
exímios praticantes e autores da primeira literatura sobre o jogo. A Inglaterra
conheceu-o após as invasões normandas. Já em 1230 um livro islandês comentava
sobre uma partida de xadrez. E fins do século XI, era conhecido do Mediterrâneo
à Islândia, de Portugal à Rússia.
Mas era visto como algo a que desocupados se dedicava, como
os menestréis. Naturalmente servos dos castelos tinham contato com o jogo por
meio de seus senhores. Também guerreiros e cavaleiros o conheciam por meio das
Cruzadas. Mas o homem simples dificilmente teria contato com o jogo de xadrez.
Até o período final da Idade Média, todo tipo de alteração
das regras originais haviam sido tentada, sempre desejando reduzir o tempo das
partidas. Por exemplo, o jogo ainda segundo as regras herdadas dos muçulmanos definia
que um peão poderia se tornar Ferz (posteriormente rebatizado para Dama) sempre
que atingia a oitava coluna. Creia-se, muitos questionaram a moralidade de um
rei polígamo, caso o participante transforme ainda detenha a rainha e
acrescente ao tabuleiro mais uma. Depois de muita discussão, decidiu-se por
simplesmente chamar as Damas por transformação de um peão de outro nome.
De fato, apenas a Torre e o Rei, as peças mais fortes,
guardaram seus movimentos originais. Já a transformação do Peão em Dama,
aumentando a força dessas duas peças, reduziu o tempo de jogo pela metade. Já
então a literatura sobre xadrez acumulava mais de sete séculos de
desenvolvimento, contudo viram-na se tornar completamente obsoleta após as
últimas alterações.
Por volta de 1500 as regras se estabilizaram e o jogo é mais
ou menos o mesmo desde então. Os meios de comunicação mais modernos permitiram a
padronização das regras e sua posterior exportação.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “A história do xadrez”
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