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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

CHESS FOR FOOD: A HISTÓRIA DO XADREZ


Conta-se que o indiano Sissa, uma espécie de cientista brâmane da corte do rajá Blahait, foi encarregado por este de criar um jogo que exigisse de seus contendores qualidades como prudência, diligência, previsão e conhecimento. O objetivo era se livrar do fatalismo dos jogos praticados até então, que exigiam apenas sorte nos dados.

A resposta de Sissa veio na forma de um tabuleiro com peças de xadrez bastante parecidas com as atuais. Tais peças eram a representação das quatro frentes do exército indiano: carros, cavalos, elefantes e soldados a pé. Comandavam-nas o rei e seu vizir. Sissa julgava que a guerra era o ambiente que melhor aferiria as capacidades dos participantes.

Pela formação de batalha das forças da região quando da chegada de Alexandre, o Grande, calcula-se que o jogo date do século IV a.C.

O rajá Balhait ficou de tal forma estupefato com a invenção, que ordenou que fosse mantida nos templos, além de servir como ferramenta fundamental nos treinamentos para batalhas.

Supondo que Sissa desejasse uma recompensa à altura de seu feito, Balhait assim se dirigiu ao mesmo: “Pedi qualquer recompensa que desejardes; será vossa”. Amante do conhecimento e desprendido de vaidades mundanas, Sissa se disse perfeitamente recompensado pelo prazer que seu invenção estava a causar nas pessoas.

Mas Balhait realmente desejava recompensar seu cientista favorito, insistiu que este lhe fizesse o pedido de sua preferência, ao passo que o mesmo então propôs a seu rei: “Dai-me uma recompensa em grãos de milho sobre o tabuleiro de xadrez. Na primeira casa, um grão; na segunda, dois; na terceira, quatro; na quarta, o dobro de quatro; e assim por diante, até a última casa.”

Impressionado pela simplicidade do pedido, o rei então ordenou que se trouxesse todo o milho pedido por Sissa, não sem antes poder notar um leve sorriso no canto da boca do inventor, enquanto dizia: “Não preciso de mais. Basta-me uma pequena porção dos bens mundanos.”

Balhait deve ter ficado boquiaberto quando notou que antes mesmo que se atingisse a metade das 64 casas do tabuleiro todo o milho da Índia já havia sido empenhado a Sissa. Balhait então se volta desesperado a Sissa, que revela já ter prévio conhecimento de que toda a produção de milho da Índia seria insuficiente para atingir sua solicitação.

De fato, Sissa disse-lhe que a quantidade de grãos necessária seria suficiente para cobrir toda a superfície do planeta Terra com um tapete de milho de nove polegadas de espessura.

O número calculado era 264, ou 18.446.744.073.709.551.615 grãos de milho. Quando o sistema decimal, inventado pelos indianos, finalmente alcançou os matemáticos árabes, al-Beruni calculou que o número citado, se contasse número de pedras, poderia erguer 2.305 montanhas, e que o planeta Terra não conteria toda a matéria necessária para tanto.

Com isso, Balhait não sabia dizer se admirava mais a engenhosa invenção de Sissa, ou sua capacidade de elaborar enigmas matemáticos absolutamente contra-intuitivos.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “História do Xadrez”
     

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