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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Lyndon Johnson X Ho chi Minh no Rio


Vietnã Do Brasil - Pavilhão 9

Era uma vez uma cidade maravilhosa
Cheia de praias, praças e mulheres gostosas
Cidade bela, vislumbrada pelo mundo inteiro
Quem não conhece o famoso Rio de Janeiro?
Bonde, Corcovado, Cristo Redentor
Praia de Copacabana e Circo Voador
Lugares bonitos que atraem os turistas
Mas somente o que convêm é o que mostram as revistas
E em nossas vistas
Do outro lado, o sangue tem manchado
Nossos cartões postais, nossos cartões postais
Quadrilhas rivais, matanças brutais
Por isso e por outras coisas, nem turistas tem mais
O que acontece aqui e lá, pá, pá, pá
Tem influência no país inteiro, ra-tá-tá
Um quarto mundo, dentro de um terceiro
Barril de pólvora pra explodir, cadê meu isqueiro?
De São Paulo ao Rio são só 6 horas
É logo ali, aliado não demora
E a chacina impera onde a lei não vigora
Cartão postal do futuro de agora
O pouco por que ele passa, estou certo, não agrada ninguém
Mas se o que mostra for verdade, está tudo bem
Bem, te faço um convite,mas escute o que falo
Bem vindo ao rio, bem vindo a São Paulo
A nossa vida, desse modo, está por um fio

Bem vindo a São Paulo, bem vindo ao Rio
Não tente viver um dia no Vietnã do Brasil
(refrão2x)
Bem vindo a São Paulo, bem vindo ao Rio
Yeah, cartão postal de agora, Vietnã do brasil.

A Via Dutra é o que liga esses 2 estados
E tanto lá como cá, ambos não dormem preocupados
No manto da impunidade, morre muita gente
Gente boa, gente má, gente inocente
São Paulo e Rio são bem procurados
Pessoas deixam suas casas e seus estados
À procura de emprego, se iludem fácil
Avenida paulista
Que bela vista
Museu do Ipiranga, Ibirapuera, Bangu 1, 2, 3, Carandiru
Complexo carcerário da América do Sul
Aí, a sul é beleza,aqui, a sul é perigo
Aí, a sul tem granfino, aqui, a sul tem bandido
Lotado de rico pobre, chapado de pobre rico
Interligamos os fatos, somos bem parecidos
Por sermos reféns da miséria, não existe resgate
Madrugadas selvagens, matanças à vontade
Nas vielas, nos becos, o terror e o medo
O silêncio existe pra garantir sua vida
Quem tem a língua comprida
Bum, já era
Tudo isso envergonha nosso país, Brasil
Mas ninguém ouve, ninguém viu

Bem vindo a São Paulo, bem-vindo ao Rio
Não tente viver um dia no Vietnã do brasil.
(refrão)

Lei, autoridade, cidadania
Belas palavras, que não chegam na periferia
De uma guerra surda, apenas uma batalha
Lembro as datas e vejo que a memória não falha
Outubro de 92, final do ano
E algum tempo depois, continuo pensando
Agosto, 28, de 93
Parece mentira, fizeram tudo outra vez
Crueldade em alto requinte
E os estados contam os mortos no dia seguinte
Escopetas, pistolas, ar-15
Armas de alta precisão, grosso calibre
A bandidagem da polícia facilita o ato
Bandido contra bandido, fogo cruzado
Enquanto a impunidade fala mais alto
O sangue lá do morro escorre pro asfalto
E como disse, me espelho na realidade
E penduro o meu capuz se não for verdade
Mas pense duas vezes antes de vir pra cá
Me sinto na obrigação de te alertar

Bem vindo a São Paulo, bem vindo ao Rio
Não tente viver um dia no Vietnã do brasil.
(refrão)


Rubem L. de F. Auto


UM GRITO DE SOCORRO: SÓ MAIS UM SEQUESTRO


Um Grito de Socorro - Facção Central

Naipe de mendigo, garrafa de pinga
6 meses observando a mansão da vitima
Os empregados, quem pode ser corrompido
Avaliação dos bens, frequência de amigos
Sócio majoritário de hipermercado
Sai às 8, com os vigias, num Passat blindado
Às 10, a mulher vai pro balé com os diamantes
À noite, no álibi do restaurante, vai dar pro amante
13 horas, um segurança leva o pivete pra escola
Pra não chamar atenção, cola com gol bola
Só, com uma pistola, segundo o motorista
Colabora porque uma uzi ameaça sua família
Entre a puta ou o filho, filho é mais provável
Vamo de 7 galo e um Vectra turbinado
Avenida ibirapuera, perto do shopping
Colo o vendedor, do meio da flor, um revólver
O segurança quis vazar, mas fechei, fui ninja
Morreu tipo cinema, com a cabeça na buzina
Pedestre abaixado, grávida desmaiada
Refém no porta-malas, caminho aberto a granada
Que merda, era PM o cu, vendendo drops
Tiro no capacete do truta morte instantânea num poste
10 minutos depois, rua deserta um carro novo
Alô, prepara o cativeiro, tá chegando o pote de ouro

[refrão]: tem um grito de socorro lá no cativeiro (4x)

Um mano morto na missão, mó goela, deixou pista
Se tiver com identidade, sujou a fita
Gambé filho da puta, quem pode prever?
Vou beber, dar um role, ver as noticias da tv
Do pré-pago, primeiro contato, idéia firme
500 mil e nem vem com história triste
Segue a instrução pra não ter missa de 7º dia
É sem contra-oferta e não envolve a policia
Pra mim é só negócio, não tenho coração
Desacredita e ganha um lego pra montar e pôr no caixão
Se pá, divisão anti-sequestro tá no caso
Pra boy vem até o governador de 4
Vão por chip na grana, tipo FBI
Ou vão catar o resgate pra eles e se matar pra dividir
O muleque tá mal, no quarto empoeirado
Tem bronquite, fica sem ar, amarrado
Me deixa ir pra casa, por favor
Papai paga, é Disneylândia; se não, tem noites do terror
Segundo contato e o banco não liberou a quantia
Desconfiaram e acionaram a policia
Mas pra esse ramo não tem “não”
Já amolamos a faca no chão
Vão tirar dinheiro do cu
Quando ver um dedo da mão
Foi de sedex 10, Alá, ritual satânico
E a família entendeu que ninguém tá brincando

[refrão]: tem um grito de socorro lá no cativeiro (4x)

O moleque dava dó, mas negócio é negócio
Eu nem tenho essa maldade, só que tem outros sócios
O que ria, lambendo o sangue da faca
Não chora que seu pai paga a cirurgia plástica
Fiz curativo pra não dar germe
Ele só esquecia a dor assistindo Tom & Jerry
É amanhã no Frango Frito, na via Anhanguera
Vem sozinho, sem putaria, que isso aqui não é novela
Espera na lanchonete, com todo dinheiro
Se eu ver policia a 1km, pode fazer outro herdeiro
No dia foi um truta encarregado da missão
Estilo cliente, filmou do teto até o chão
Achou que tava limpo, pediu a mochila
Do copeiro ao caixa, todo mundo era policia
Bastou psicológico, chute nas costas
E tava ele e os gambé, na cro-cro batendo na porta
Toc-toc, sou eu, tá limpo, pode abrir
A voz estranha, cachorro latindo, engatilhei, percebi
Catei o refém, fui pra janela negociar
Atirador em ponto estratégico, não dá pra escapar
13 horas de idéia, nenhum pedido atendido
Os caras se entregaram, abraçando o que o juiz tinha prometido
Eu tô ligado que se eu saio, não chego no distrito
Então boy dá tchau pro seu filho
Eu fui pro inferno
Ele foi comigo

Refrão
Tem um grito de socorro lá no cativeiro


Rubem L. de F. Auto


EMPREENDEDORES BRASILEIROS : TRAFICANTES


O Menino do Morro - Facção Central

Zona Sul, São Paulo, hospital em Santo Amaro,
no prontuário um menino descrito como mulato
Parto normal, sem pai pra visitar
outro cu que pra pagar pensão só com DNA
Filho da empregada do executivo porco,
fritando filé mignon pros outros e arrotando ovo
Filho do bebum em ziguezague no bar,
serrando pinga e ficha de bilhar
Sem anticoncepcional, plano, escolaridade,
eu fui o oitavo a fugir do controle de natalidade
Sem olho azul, distante do padrão da Globo,
não nasci pra ser o ator viado das oito
De agasalho Adidas soltando as faixas
a pé, no barro, uma hora da classe pra casa
Tudo indicava: catador de ferro
ouvindo do porteiro "Não rasga o lixo do prédio"
Até que numa tarde lá no Barateiro
foi pro short meu herói de brinquedo,
Voltei pro morro assustado, mas de nariz empinado,
orgulhoso com os moleque me abraçando admirado
Fui rei por um momento, sem choro, sem lenço
sem ouvir ''não tenho dinheiro pra essa buceta de brinquedo"
Com nove, vi que quem implora é quem não honra o próprio saco,
que vitória é resgate pago e sequestrado embalsamado

O menino do morro virou deus
O poderoso chefão, a majestade
O teste da guerra ele venceu
Subiu uma escada de sangue pra primeira classe [2x]

Na World Tennis, o mais caro da vitrine
constou a fita no doleiro: êxito no crime
Aqualand e compra no porta mala
a Brasília enferrujada ficou rebaixada
Só que de aventura só vive Indiana Jones;
mansão, assalto a banco, sempre vai um na mão dos homens
Nasci pra ser estrela, não pra ser medalha
no arrombado que pro tráfico dá o cu e a farda
Na bunda do Chevette um arsenal de polícia
seis mil na Mini-UZI, dinheiro à vista
Com 15 precisei de decisão na vida
comprei um quilo de farinha e tomei a biqueira de cima
Um alemão de 12 e três moleques de oitão
filmando o movimento da rua no portão
Pus o capuz, tipo Hollywood e fui na sede
só faltou o Oscar pra minha Sexta-Feira 13
Meus truta tesouraram a fuga do tal alemão
morreu que nem puta, gritando "Mãe!" no chão
Chacina consumada, sem baixa, sem revide
a custódia da boca é nossa, tem esfiha no Habib's
Com truta comecei a comandar de celular,
fui pra piso de granito, móveis do Interlar
Tudo certo, menos a contabilidade do sócio
subiu na 51 com Racumim no copo

O menino do morro virou deus
O poderoso chefão, a majestade
O teste da guerra ele venceu
Subiu uma escada de sangue pra primeira classe [2x]

O comando foi seco na bolsa da Nike
na caguetagem três quilos de crack
Foi um cu que, trampando pra mim, comprou um barraco,
outro dia a mãe passou mal e eu socorri no meu carro
Traição, ingratidão, vai pro colo do diabo,
depois de gritar cada pingo de plástico queimado
Em respeito ao pai crente e sem emprego
banquei a porra do enterro
Com senador me infiltrei na alta sociedade
ascensão revendendo as apreensões do DENARC
Dono de joalheria, deputado federal,
artista, modelo do Domingo Legal
Todos queriam o meu veneno na corrente sanguínea
em troca restaurante chique, bebida fina
Cheira esgoto atrás da champagne francesa,
no castelo de Caras é podre a realeza
No glamour do coquetel, negócio firmado
droga pro empresário é meu serviço pro jato
As bailarinas do programa sempre afim de um programa,
perna aberta na cama por 5 gramas
Lancei umas firmas quentes pra lavar o capital
pro farejador "No que é meu que não tem cheiro" é o acerto com a Federal
No Copacabana Palace, tipo megastar no Rio
o menino do morro já era uns dos donos do Brasil

O menino do morro virou deus
O poderoso chefão, a majestade
O teste da guerra ele venceu
Subiu uma escada de sangue pra primeira classe [2x]

Mó tempo que eu não vejo minha mãe, minha família
pela merda da religião me abomina
Um dos filhos que eu assumi saiu de casa
quer ser o pai com uma AR-15, lançador de granada
Filho de alguma das putas sem caráter, sem moral,
que por crack chupava meu pau
De vez em quando uma tonelada pra Civil pôr na TV,
pro secretário de segurança se aparecer
Um preso pra ser resgatado de Sig Sauer e FAL,
pra sair pelo portão com o diretor dando tchau
Dou risada de quem acredita na justiça
mais fácil o camelo na agulha do que eu na delegacia
Sou traficante intocável pro tribunal
que no foguete da NASA faz safári sideral
Tô na lista VIP dos cassinos clandestinos
Quer ser presidente? Traz a campanha que eu financio
Sou poderoso chefão, mas invisível como ar
se pá o pastor da Universal atrás do altar,
o apresentador que te dá casa com mobília
o sertanejo do CD de platina
Vem ver, seu time tem meu logo na camiseta,
você compra no meu shopping, voa pela minha empresa
Sou uma história de sucesso tipo Aristóteles Onassis
só que eu subi uma escada de sangue pra primeira classe

O menino do morro virou deus
O poderoso chefão, a majestade
O teste da guerra ele venceu
Subiu uma escada de sangue pra primeira classe [2x]

O menino do morro virou deus


Rubem L. de F. Auto


CRÔNICAS DE CHOQUE E CAOS


Eu Não Pedi Pra Nascer - Facção Central

Minha mão pequena bate no vidro do carro
no braço se destacam as queimaduras de cigarro
A chuva forte ensopa a camisa, o short
qualquer dia a pneumonia me faz tossir até a morte
Uma moeda, um passe me livram do inferno
me faz chegar em casa e não apanhar de fio de ferro
O meu playground não tem balança, escorregador
só mãe vadia perguntando quanto você ganhou
Jogando na cara que tentou me abortar
que tomou umas cinco injeções pra me tirar
Quando era neném tentou me vender uma pá de vez
quase fui criado por um casal inglês
Olho roxo, escoriação. Porra, o que foi que eu fiz?
pra em vez de tá brincando tá colecionando cicatriz
Por que não pensou antes de abrir as pernas?
Filho não nasce pra sofrer, não pede pra vir pra Terra

O seu papel devia ser cuidar de mim,
Não me espancar, torturar, machucar, me bater
Eu não pedi pra nascer [2x]

Minha goma é suja, louça sem lavar
seringa usada, camisinha em todo lugar
Cabelo despenteado, bafo de aguardente
é raro quando ela escova os dentes
Várias armas dos outros moqueadas no teto
na pia mosquitos, batatas disputam os restos
Cenário ideal pra chocar a UNICEF
habitat natural onde os assassinos crescem
Eu não queria Playstation nem bicicleta,
só ouvir a palavra filho da boca dela
Ouvir o grito da janela ''a comida tá pronta''
não ser espancado pra ficar no farol a noite toda
Qualquer um ora pra deus pra pedir que ele ajude
dê dinheiro, felicidade, saúde
Eu oro pra pedir coragem e ódio em dobro
pra amarrar minha mãe na cama, por querosene e meter fogo

O seu papel devia ser cuidar de mim,
Não me espancar, torturar, machucar, me bater
Eu não pedi pra nascer [2x]

Outro dia a infância dominou meu coração
gastei o dinheiro que eu ganhei com álbum do timão
Queria ser criança normal que ninguém pune,
que pula amarelinha, joga bolinha de gude
Cansei de só olhar o parquinho ali perto,
sentir inveja dos moleques fazendo castelo
Foda-se se eu vou morrer por isso
obrigado meu deus por um dia de sorriso!
A noite as costas arderam no couro da cinta
tacou minha cabeça no chão, batia, batia
Me fez engolir figurinha por figurinha,
espetou meu corpo inteiro com uma faca de cozinha
Olhei pro teto, vi as armas no pacote
subi na mesa, catei logo a Glock
''Mãe, devia te matar, mas não sou igual você
em vez de me sujar com seu sangue, eu prefiro morrer''

O seu papel devia ser cuidar de mim,
Não me espancar, torturar, machucar, me bater
Eu não pedi pra nascer [2x]



Rubem L. de F. Auto

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

QUERIDO DIÁRIO: TENHO ALGO A DIZER


Diário de Bordo (pt. IV) – Rashid

O ano é 2014
Esse é o quarto capítulo
Querido diário

Esse som representa a volta, revolta
Dos farrapos a pinheirinho, barracos do moinho
Venho, pique Django livre, num Saara ferrenho
Botando o dedo na cara do senhor de engenho
Fazendo contas simples, pouca gente entendeu
Eu cantei nós + nós, num mundo de eu + eu
Pois bem, escolha o que condiz com seu caráter
Que a minha cota é invadir as mente tipo hacker
Mano, fiz disso meu aproach
Meu caderno traz vida ao contrário do death note
É o novo clube da esquina, sob a luz alva
Função: salvar as vidas que o SUS não salva
Sou seu incomodo, que num blefa só truca
Já fui mosca na sopa, hoje sou cano na nuca
É a selva de pedra, num enfeita
Lobos à espreita neguim, e o pior, tucanos à direita
Pressão, todo santo dia sem recreio
Declaração de guerra na sua caixa de correio
Boyzão, tirando num é raro
Arrasta os médicos cubano, mas aqui cês nunca pisaram
E meu papel, a la fidel, é fogo no céu, sou corte no véu
Nos mande um Nobel
Soldado Michel, zera o carretel, vai Maquiavel
Na rua é cruel, é click, clack, blew! Inferno ou céu?

Raiz é cordel, e patativa do assaré
Protegido na guarda do homem de Nazaré
Na fé, sem a mínima confiança nos 'home'
Desses que mata nossos adolescentes e some
Seu racismo grita em orgia
Igual essa suástica tatuada na sua ideologia
Meu Rap vai do amor ao ódio, incorruptível
Mas a mira'inda tá no seu sistema desprezível
É tipo Sin City, corações num iglu
Aqui onde a terra prometida virou xingu
A luta segue, parça, num tem pausa
Só que sem hashtag, pra vários num é causa
Né? Ao combate, pro seu abate minha diss
Contra a negligência que gera várias boate kiss
O mundo é injusto e a gente não discerne
Heróis tipo Mandela vão embora e por aí tem tantos verme
Meu caso é sério “doutô”, grudo no colarinho
Deixo os bunda mole em choque, efeito rolezinho
Cês diz que o gigante acordo, eu to só olhando
Porque o Rap já tá acordado há “miliano”
E esse tem mais de 140 caracteres
É trending topic na rebeldia dos alferes
Fere sua carne, e faz seu espírito dizer: concordo!
Esse é meu legado
Meu Diário de Bordo


Rubem L. de F. Auto


ESTEREÓTIPOS: RASHID STEREO ÓPTICO


ESTEREÓTIPOS - RASHID

Querem mandar no que eu visto, querem julgar quem eu sou
Querem anular o que eu conquisto e que eu fique só com o que sobrou
Pode procurar nos registro, meu, o que fazem com a nossa cor
E se você é mais um tipo eu, resista onde quer quer for
Porque

Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!
Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!
Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!
Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!

Um dos 5 moleques no carro no Rio, podia ser eu
Ou o Douglas que se foi no Jd. Brasil, podia ser eu
Outro inocente morto a noite e ninguém viu, podia ser eu
E em nenhum desses casos cê nada sentiu, só se fosse eu!
Faz tempo que a rua não é fábula, vim tipo rábula
Pelos meus com discurso pra encabular
Conteúdo! Boy, senta o rabo lá
E me escuta, cansei do estábulo, não vou te adular
Com essa Stabilo em mãos escrevi coisas que me levaram a confabular
Na facul que você curte cabular
Falemos de chances, mas aviso
Não existe igualdade pra quem tem que correr atrás de quase 400 anos de prejuízo
Cê num sabe o que é isso, já antecipo
E nem ser seguido na loja pelo segurança que é do seu bairro e acha que conhece seu tipo
Se chama inversão de valores, ou show de horrores
Quando a definição de suspeito vem com uma tabela de cores
Sua justiça morreu quando embrião, sua lei já falhou no protótipo
E o azar é daquele que assim como eu se encaixa no estereótipo, ótimo!

Querem mandar no que eu visto, querem julgar quem eu sou
Querem anular o que eu conquisto e que eu fique só com o que sobrou
Pode procurar nos registro, meu, o que fazem com a nossa cor
E se você é mais um tipo eu, resista, onde quer quer for
Porque

Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!
Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!
Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!
Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!

Pela roupa que eu visto, a quebrada que eu moro e a cor que eu sou
O tira me para enquanto a filha dele deve tá querendo colar no meu show
Imagina que loko, durante o café da manhã, quando ele vai ler o jornal
E vê minha foto na capa e não é por óbito, nem motivo criminal
Mais um igual tantos que já levou tantas porta na cara que perdeu a conta
Minha vingança é estilo Carl Brashear, só d'eu tá aqui representa uma afronta
Agora me conta, olha pro mundo de ponta a ponta e vê como é sujo
Quantas Cláudias se foram antes de ter a chance de ser Taís Araújo?
Falemos de chances, pra você que esbraveja com raiva que é contra as cotas
Quantas vez cê já teve que provar que o que é seu, é seu, quase mostrar a nota?
Quantas vez cê acordou pra trampar, passou 2 horas só no caminho
E no vestibular disputou com quem acordou mais de 2 horas e foi pro cursinho?
Fica facinho assim, e a mentalidade aí se define
Quando gente igual eu só te serve se tiver fazendo gol pelo seu time
Esse estereótipo é baseado em séculos de história controversa
E se você que abraça não sabe, já sei quem tem mais Q.I nessa conversa!

Querem mandar no que eu visto, querem julgar quem eu sou
Querem anular o que eu conquisto e que eu fique só com o que sobrou
Pode procurar nos registro, meu, o que fazem com a nossa cor
E se você é mais um tipo eu, resista onde quer quer for
Porque

Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!
Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!
Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!
Somos todos alvos, somos todos alvos aqui!

Ô maloqueiro, aonde quer que vá fique ligeiro
As ruas não estão de brincadeira
Vizinhos nos vêem como forasteiros!

Ô maloqueiro, aonde quer que vá fique ligeiro
As ruas não estão de brincadeira
Vizinhos nos vêem como forasteiros!



Rubem L. de F. Auto

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

AMO MEU RICO DINHEIRINHO: MONEY


Money – Pink Floyd

Money, get away
Get a good job with more pay and you're okay
Money, it's a gas
Grab that cash with both hands and make a stash

Dinheiro, fuja
Tenha um bom emprego, com um salário razoável e você estará bem
Dinheiro é volátil
Agarre aquela grana com suas duas mãos e ponha no cofre

New car, caviar, four star daydream
Think I'll buy me a football team

Carro novo, caviar, sonhos cinco estrelas
Acho que vou comprar um time de futebol para mim

Money, get back
I'm all right, Jack, keep your hands off of my stack
Money, it's a hit
Don't give me that do goody good bullshit

Dinheiro, volte
Estou bem, Jack, não ponha as mãos no meu montinho
Dinheiro é sucesso
Não me venha com aquele papo de que fazer coisas boas é gratificante

I'm in the high-fidelity, first class travelling set
And I think I need a Learjet

Estou entre os VIPs, viajante de primeira classe
E acho que preciso de um jato particular

Money, it's a crime
Share it fairly, but don't take a slice of my pie
Money, so they say
Is the root of all evil today

Dinheiro, isso é crime
Distribua com justiça, mas não toque na minha parte
Dinheiro, então eles dizem
É a raiz de todo mal nos nossos dias

But if you ask for a rise, it's no surprise
That they're giving none away

Mas se você pedir um aumento, não haverá surpresa
Você não receberá nada

(Yeah, I was in the right!
Yes, absolutely in the right!
I certainly was in the right!
Yeah, I was definitely in the right
That geezer was cruising for a bruising
Yeah!
Why does anyone do anything?
I don't know, I was really drunk at the time!
I was just telling him it was in, he could get it in Number Two
He was asking why it wasn't coming up on freight eleven
After, I was yelling and screaming and telling him why
It wasn't coming up on freight eleven
It came to a heavy blow, which sorted the matter out)

Sim, eu estava certo
Sim, com certeza correto
Certamente eu estava certo
Sim, definitivamente com a razão
Aquele senhor estava procurando confusão
Sim!
Por que ninguém faz alguma coisa?
Sei lá, eu estava realmente muito bêbado na hora!
Eu estava apenas dizendo a ele que tinha chegado, ele poderia pegá-la na Número Dois
Ele perguntou por que não chegava pelo frete onze *
Depois, eu estava gritando e berrando e dizendo a ele o porquê
De não estar chegando pelo frete onze
Terminou num soco forte, que deu um fim à confusão


Rubem L. de F. Auto


*Frete mais barato 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

COMING FROM THE DIRTY: COMO SURGIRAM OS HERÓIS DA RESISTÊNCIA CONTRA PESTES


Segundo alguns historiadores, é possível identificar no período que se estende do século XI ao XV, uma revolução agrícola que permitiu uma melhor alimentação e propiciou o aumento populacional do continente de 25 milhões de pessoas em 950 para 75 milhões em 1250.

As pessoas viviam geralmente em aldeias ou povoados minúsculos, separados uns dos outros por enormes distâncias. Em meados do século XIV, por exemplo, a França era o pais mais populoso do continente, contando com cerca de 20 milhões de pessoas. A Inglaterra, no mesmo período tinha 6 milhões.

Ainda eram tempos de sistema feudal, portanto todas as terras pertenciam ao rei. Incapaz de aproveitá-las por si só, concedia enormes domínios a nobres, que se comprometiam a trabalhá-la e defendê-la contra ataques externos. Os nobres, no entanto, concediam partes do que receberam a cavaleiros, estes sim obrigados a ir ao conflito caso houvesse. Por fim, as subdelegação alcançavam o homem simples, do povo, que ficava obrigado a trabalhar alguns dias da semana para seus suseranos, em troca da concessão de um lugar para morar e trabalhar.

A maior parte absoluta das pessoas eram camponeses, que laboravam usando ferramentas bastante primitivas e estavam sujeitos a todo tipo de intempérie. Começavam o plantio pela semeadura, aproveitando os dias curtos e frios do inverno, esperando colher os alimentos no verão, quando ocorriam festas que reuniam todos os moradores das aldeias.

As pessoas eram divididas em classes sociais, cujo pertencimento era desígnio divino, e raramente se ascendia para outra classe. Questionar essa ordem das coisas era impensável, e mesmo que se se pensasse corria-se o risco de sofrer punições terríveis. Até mesmo se mudar de cidade, vila ou aldeia era raro.

Ainda que a produção agrícola da Baixa Idade Média tivesse aumentado, o incremento populacional foi tal que a fome continuava a ser uma sombra que volta e meio se projetava sobre as pessoas. Quando tal desgraça ocorria, a solidariedade entre vizinhos e parentes aplacava seus efeitos. Os mais pobres eram esquálidos e pálidos normalmente, podendo passar períodos de fome. Comia-se a mesma coisa todos os dias: sopa de ervilha, vagens, legumes, um pão duro e escuro, por ser produzido a partir de cereais inferiores, que traziam ainda o risco de se morder terra ou pedra dos locais onde se moíam os cereais. Cultivavam-se trigo, aveia, cevada, centeio, criavam-se galinhas, porcos e abelhas nos quintais. Queijos e ovos também estavam disponíveis aos mais pobres. O tipo de carne mais consumida entre os pobres eram resultado de caças: coelhos eram bem comuns. Em dias de festas era possível comer carne de carneiro, veado. As panelas dos pobres eram feitas de barro ou de ferro, e o fogão era a lareira. Bebiam um tipo de cerveja com pouca concentração de álcool, ou o famoso aguapé, um vinho misturado com água.

Bem diferente viviam os ricos. Comiam em torno de mesas grandes, os pratos eram servidos por pajens. Contavam sobre a mesa com: cozidos, assados, doces como o pudim. A carne também vinha de caçadas, porém eram bem mais gordurosas e freqüentes. Comer carne era sinal de prestígio. Bebiam vinho, sidra ou um suco de pera fermentado.

Ser comilão era de tal maneira prestigioso que reis que não se empanturravam eram mal vistos pelos súditos, como ocorrera com o Duque de Espoleto, a quem fora recusada a coroa francesa por seus hábitos alimentares contidos. Isso, apesar do pecado da gula...

Uma carne bastante consumida era a de porcos, que viviam nos bosques nos arredores das cidades. O fruto do carvalho também era apreciado. Comiam-se peixes em profusão. Costumavam-se criar pomares ao redor das casas, o que propiciava o consumo de frutas. Para adocicar o paladar, mel era mais comum do que açúcar.

Nas cidades, adquiriam-se os alimentos em mercados, ao contrário dos camponeses, que contavam basicamente com sua produção. Também nas cidades se dava o consumo mais freqüente de carne, muitas vezes de boi, embora fosse mais comum seu uso como ferramenta de trabalho. Nas cidades também era mais comum o consumo de pão de trigo, ao contrário do pão preto do campo.

Talheres eram em geral desconhecidos, usando-se apenas uma faca para cortar alimentos, unha, tirar verrugas... Como não era incomum consumir alimentos podres, ou quase podres, era aconselhável fazer largo uso de especiarias e condimento: pimentas, canelas, gengibre, cravo-da-índia. No entanto, especiarias ainda eram muito caras, quase exclusivas dos ricos.

O dia a dia de um comerciante abastado morar de uma cidade se iniciava com a oração diária, após acordar. Em seguida passava ao café da manhã, quando comia um pedaço de pão, bebia vinho e ia trabalhar. De negociação em negociação, chegava ao mercado, onde adquiria mercadorias para sua loja. Por volta das 10 horas da manhã, retornava à casa, onde almoçava. A depender de suas capacidades financeiras, poderia se empanturrar: assados, pastéis, tortas, caldos, legumes. Já o jantar corria pelas 6 horas da tarde. A hora de dormir girava em torno das 9 horas.

As leis eram bastante rigorosas com relação a pesos e medidas. O padeiro que fraudasse no peso ou na qualidade dos pães que vendia estava sujeito a punições como ser arrastado pelas ruas em estrato puxado por um cavalo, ouvindo a população zombar dele a plenos pulmões.

O destino manifesto pregava o casamento, quase incondicionalmente. Aos doze anos as meninas alcançavam a idade para o matrimônio; para os meninos, a idade era de 14 anos, quando se dava sua entrada na vida adulta. Aos sete anos apenas, uma menina já poderia estar comprometida a um homem.

Nas famílias nobres, os pais contavam com a ama de leite, quem alimentava os bebês, além das empregadas que tomavam conta das crianças. As famílias pobres evidentemente só contavam com si mesmas.

A infância dos nobres era curtida até os sete anos, mais ou menos. Após, se menino, era enviado a um mestre, quem lhe ensinava a caçar, manejar armas e montar cavalos. Caso não fosse primogênito, provavelmente seria enviado a um mosteiro. As primeiras letras eram ensinadas por professores particulares.
Já os filhos dos pobres camponeses se iniciavam na vida adulta acompanhando os pais na lavoura. Se fosse filho de artífice, frequentaria a oficina do pai. Mais tarde, seria enviado a um mestre para trabalhar como aprendiz.  

O capítulo reservado à higiene pessoal daquela época chega a ser assombroso. Eduardo III, rei inglês, deixou seus súditos escandalizados quando tomou três banhos no curto intervalo de três meses. Tanto a medicina quanto a Igreja criam que tomar banho com freqüência aumentava as chances de contrair doenças – além daqueles que viam algo pecaminoso em se tocar durante uma bela ducha. Santa Inês ficou famosa por passar a vida inteira sem se banhar. São Francisco de Assis nem se banhava nem trocava de roupas. A regra eram roupas encardidas de lã ou linho grosso.

As roupas também indicavam o pertencimento social: os homens comuns vestiam túnica, culote, capuz e manto. As damas nobres vestiam chapéus enormes. Meias e calções serviam a ambos. Já na hora de dormir despiam-se completamente.

Pelo dito, as pulgas fizeram uma enorme festa naquele ambiente imundo, amplamente propício ao aparecimento de pragas. Tanto a pulga do rato-preto quanto a pulga do homem transmitiam a peste negra.
Nas cidades grandes, o problema dos banhos raros era bastante amenizado. Muitas delas contavam com banhos públicos a la Roma antiga, chamados de “estufas” e que disponibilizavam banhos quentes e frios, além de uma piscina. Algumas casas contavam com tinas. Em Bruges foram encontrados mais de 40 banhos públicos, funcionando diariamente.

A casa tradicional dos camponeses era construída com madeira, os telhados eram de palha e o chão, de terra batida. Portanto os incêndios eram um problema comum naquela época. Havia também as residências de sapé, simples e de um cômodo apenas, com paredes de treliça de junco ou ramos secos, preenchidas com barro socado. As paredes eram tão frágeis que não eram incomuns mortes por lança perdida, que atravessava a parede e atingia o morador em seu interior.

No centro da residência, havia a lareira, normalmente um amontoado de pedras, sobre as quais punham as panelas. A fumaça, como não possuía um escape apropriado, impregnava a casa. Sua função também era esquentar o interior das casas, também.

Desde o século XIII, passaram-se a construir muitas casas de pedras, com telhado de telhas de barro. A dificuldade maior desse tipo de construção era o transporte das pedras, desde a pedreira até o local da construção: apenas nobres, grandes comerciantes e senhores feudais possuíam uma desse tipo. Não eram incomuns nessas residências paredes rebocadas com cimento feito de água, areia e cal. Paredes pintadas e vidros nas janelas eram um luxo, mas existiam.

Em suma, a residência medieval típica era gelada, úmida, escura, fumacenta, fedorenta, cheia de insetos, os caibros do telhado aparentes eram criadouros de ratos e morcegos. Banheiros inexistiam: usavam-se o mato ou baldes. Os nobres contavam com latrinas, a que chamavam de “guarda-roupa”, pois o fedor era tamanho que as traças das roupas fugiam do fedor quando alguém se aproximava desta. Era si9mplesmente um assento sobreposto a um buraco, com uma fossa debaixo.

O mobiliário da época, mesmo nas casas mais abastadas, incluía mesas, cadeiras, banquinhos, arcas, estantes, armários e pouco mais. A cama era o móvel mais caro, embora fosse pouco mais do que uma tábua com um colchão de palha sobreposto. Os nobres, por sua vez, poderiam adquiri colchões de penas, que pinicavam menos. Mas os dois eram colônias de pulgas.

Os mais ricos gostavam de adornar suas residências com objetos de luxo importados do Oriente: vasos, tapetes etc. Já os pobres deveriam se contentar com tapetes de palha, que cobriam o chão de terra batida. Utensílios de ferro eram um luxo, pois eram normalmente de madeira.

A iluminação interna poderia ser à base de vela de cera de abelha, mas essas eram caras. O homem do povo usava lamparinas a óleo ou velas de gordura animal. As velas de cera eram mais comuns em igrejas e castelos.

Até o ano 1000 d.C., as pessoas viviam, em regra, no campo. Dali em diante, com o aumento populacional e com o ressurgimento do comércio, após o interlúdio da fase mais obscura da Era Medieval, as cidades voltaram a florescer: a reurbanização estava em curso.

O processo é bem conhecido. Em geral, as pessoas se agrupavam em torno de uma igreja, com campos abundantes ao redor: nascia assim uma aldeia. Por volta do século XIV, início da peste negra, as cidades eram, geralmente, aldeias com menos de mil habitantes. Quando o total de residentes superava 20 mil, era considerada cidade importante. Gênova, Florença, Veneza, Paris e Londres conseguiram superar os 50 mil moradores.

Nas cidades, havia um ambiente de produção artesanal e de trocas comerciais. Os negócios funcionavam normalmente no andar de baixo da residência do comerciante. Os estabelecimentos se concentravam nas ruas principais, que reuniam comerciantes, mascates, mendigos, vendedores ambulantes etc. Além de mendigos, os marginais incluíam vagabundos, prostitutas, sem-tetos etc.

Como não havia iluminação pública, deveria-se evitar ao máximo sair de casa após o sol se pôr: era a hora dos bandidos. Se fosse inevitável sair à noite, que se fizesse armado, portanto tochas e acompanhado de criados.

Com o tempo, diversas cidades passaram a contar com bairros mais caros, onde residiam os abastados; havia também o bairro dos judeus, o bairro dos estrangeiros, o bairro dos pobres, a depender do poder aquisitivo e do estrato social de seus residentes.

A segurança das cidades contra invasões era provida por muralhas, em geral com fossos ao redor. Essas muralhas terminavam por delimitar até onde as cidades poderiam se expandir. Quando a densidade populacional alcançava certo ponto, o crescimento ficava desordenado. Os prédios ficavam mais altos, contando com três, quatro ou cinco andares. Isso gerava problemas de iluminação, pois o sol já iluminava o solo, estreitava sobremaneira as ruas. No limite, derrubavam-se as muralhas, abriam-se novas ruas e avenidas e se reconstruíam as muralhas em local mais afastado. Isso tudo gerava gastos públicos elevados, que geravam tributos onerosos para a população.            

As ruas medievais eram estreitas e sinuosas. Geralmente eram feitas com a medida necessária para passar um cavaleiro com sua lança atravessada na diagonal. No meio das ruas geralmente passava uma vala para escoar água da chuva e esgoto. Com isso, as cidades viraram criadouros de doenças como tifo, febre tifóide e gripes diversas.

Lixo e detritos fecais se acumulavam e seu odor fétido era algo comum ao homem daquela época. Cães, gatos e porcos se divertiam naquela imundície. A limpeza ficava a cargo da natureza, quando mandasse uma chuva mais forte. As ruas em cidades francesas ganharam nomes em função da quantidade de excrementos nas cercanias: Rue Merdeux, Rue Merdelet, Rue Merdusson, Rue dês Merdons e Rue Merdiére eram algumas.

Aos excrementos se somavam sangue e restos de animais destrinchados por açougueiros no meio das ruas, trazendo consigo moscas diversas. Além do risco de pisar em fezes, corria-se o risco de tomar um banho de merda ao andar pelas ruas, pois o hábito de lançar água servidas pelas janelas era bem difundido. No máximo, gritava-se “Cuidado aí embaixo”.

Caso uma mulher saísse às ruas desacompanhada, ou era louca ou era prostituta. Se solteira, ela deveria ficar dentro de casa – embora às vezes escapasse das regras estreitas ao se dependurar na janela, observando os rapazes à distância. A mulher casada poderia sair de casa, mas acompanhada.

As mulheres deveriam ser obedientes. Melhor ainda se fosse analfabeta, pois se evitariam trocas de cartinhas com outros homens. Desejava-se que fosse pouco faladeira e não tivesse ambições. Fora isso: recatadas, educadas e comportadas. Rir pouco e de modo discreto era elogiável. Vestir-se modo respeitoso, então, nem se fala.

As meninas aprendiam a fiar, bordar, tecer, cozinhar. Se nobres, aprendiam a fazer contas. As pobres, permaneciam ignorantes. As meninas mais ricas, mandadas para conventos, aprendiam canto e música.
O poder do marido sobre a mulher alcançava o direito de espancá-la, caso houvesse motivo. Santo Tomás de Aquino pregava que os filhos deveriam amar mais os pais do que as mães.

A mulher deveria cuidar da horta e tratar os animais, prover a alimentação da família, ir ao bosque catar lenha, ir ao poço e encher os baldes de água. De manhã cedo, ela acendia o fogo para assar o pão, cozinhava a sopa. Depois enrolava o colchão de palha, varria o chão da choupana. Nos dias dedicados ao suserano, à mulher cabia cuidar da horta do senhor das terras onde habitavam. Ordenhar vaca e recolher ovos também deveriam estar na lista de coisas a fazer. Fora isso, cuidar dos filhos e dos idosos.

Aos domingos, ir à missa. Acompanhar procissões. Também era hábito ir ao mercado vender os produtos que cultivavam, mas não consumiram: leite, ovos, frutas, verduras. Caso viúva, a mulher poderia dar andamento aos negócios do marido. Tendo se desincumbido dessas tarefas, ela poderia ficar um pouco lã aos pés da roca.

Já a mulher nobre deveria dar um filho homem: o herdeiro.

O modelo de beleza era: branca, loira e testuda. Pele rosada, mãos pequenas, olhos negros completavam o visual idealizado.

Os altos índices de mortalidade pós-peste negra propiciaram a entrada das mulheres no mercado de trabalho, tendo-se criado até mesmo guildas de mulheres, apenas.

Um dos grandes fatores que contribuíram para a expansão da peste foi o estágio em que se encontrava a medicina pratica na época, cujos procedimentos datavam de mais de mil e setecentos anos antes, quando Hipócrates poderia ser encontrado para clinicar.

Dissecações de cadáveres humanos era vedado pela Igreja, o que obrigava o estudo de fisiologia com porcos. Muitos professores de medicina ensinavam inclusive a relação entre doenças e alinhamento de planetas.

Toda a medicina conhecida era aquela de Galeno, Avicena, Hipócrates e dos seus seguidores árabes.  
Mais da metade das crianças morriam ainda na tenra infância. Somando-se a esse cenário desolador, não existiam hospitais públicos. Os pacientes ou se dirigiam a edifícios monásticos, onde seria atendido por uma freira piedosa. Portanto a regra era: se cair doente, faça imediatamente seu testamento.

Capítulo à parte era a capacidade incrível que os médicos desenvovleram de analisar a urina dos pacientes: conta-se sobre médicos que descobriam se uma mulher estava grávida apenas examinando sua urina – e ainda revelavam o sexo do bebê.    

Os tratamentos, em geral, recorriam a plantas e ervas, baratos e relativamente eficientes.

Portanto o ano de 1347, quando a peste negra alcançou a Europa, o cenários era o de uma tempestade perfeita. Nada menos do que uma tragédia ocorreria.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “1348 – A peste negra”  

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

XADREZ PARA LER E PARA JOGAR


O primeiro livro contendo as regras do xadrez moderno surgiu em fins do século XV, escrito por um espanhol de nome Lucena. Continha passagens como “Se jogardes à noite com uma única vela, colocai-a de vosso lado esquerdo, de modo que não atrapalhe vossos olhos; se jogardes de dia colocai vosso adversário voltado para a luz, o que vos dará grande vantagem. Procurai também jogar com vosso adversário quando ele tiver acabado de comer e beber abundantemente. Para jogar durante muito tempo é melhor ter comido ligeiramente. Para evitar de ficar atordoado durante o jogo, deveis beber água, mas, de maneira alguma, vinho.”

Em 1512, um boticário português chamado Damiano publicou uma obra muito bem sucedida sobre xadrez. Até 1560 a publicação teve sete edições e chegou a ser falsificado por dois outros autores. Foi citado por grandes mestres pelos três séculos seguintes.

Em 1561, um padre espanhol chamado Ruy López de Segura, considerado o melhor enxadrista da Espanha e beneficiário de uma fortuna paga pelo rei Filipe II, grande aficionado pelo grande mestre, publicou sua obra sobre xadrez. Desse período em diante, toda corte européia tinha seu mestre enxadrista, a quem recompensavam desmedidamente.

O século XVI viu a supremacia no jogo passar da Espanha para a Itália, pelas mãos dos mestres Giovanni Leonardo e Paolo Boi. Este último chegou a disputar uma partida contra o rei português D. Sebastião, usou suas habilidades notáveis no jogo para se livrar de sua prisão por piratas argelinos e muito mais. Ao cabo de dez anos de invencibilidade no tabuleiro, havia amealhado mais de 30 mil coroas, numa época em que mil coroas anuais garantiam uma vida bastante confortável.

Giacchino Greco deu início a suas vitórias espetaculares em 1621, na corte do Duque de Lorena, em Nancy. Mudou-se para Paris, onde ganhou 5 mil coroas derrotando três nobres mestres em xadrez, em sequência. Mudou-se para Londres, mas foi assaltado na viagem, perdendo tudo. Mas suas habilidades no xadrez lhe garantiram uma rápida recuperação financeira. Mudou-se para a Espanha, onde garantiu ainda mais dinheiro derrotando adversários diversos na corte de Filipe IV. Levado À América por um nobre, morreu em 1634, deixando sua fortuna para os jesuítas.

As grandes partidas eram disputadas nas cortes, especialmente dos reis aficionados pelo jogo, como Catarina de Médicis, Henrique IV, Luís XIII, quando foram abertos os primeiros cafés em Paris, em fins do século XVII. Em Londres, o café Slaughter`s ocupou o centro da vida dos jogadores de xadrez.

O sírio Phillip Stamma deu um grande salto na técnica de ensinar táticas de xadrez quando, pela primeira vez, empregou a notação algébrica para identificar as colunas no tabuleiro, em sua obra The Noble Game of Chess, de 1745 – na verdade era uma tradução para o inglês de seu primeiro livro sobre o assunto, Essay sur Le Jeu des Echecs, publicado em Paris em 1737. Essa obra recebeu edições em diversas línguas pelos 120 anos seguintes.

Em 1717, Stamma foi derrotado por aquele que seria um dos maiores enxadristas de todos os tempos, o francês André Philidor, gênio na música e nos tabuleiros. Aos onze anos, Philidor compôs o coro “Motete com Grande Coro”, executado na presença do rei. Foi também na capela, observando os músicos da orquestra, que Philidor aprendeu a jogar xadrez.

Com o estatus de melhor jogador da orquestra, Philidor aventurou-se no Café de la Régence, onde os melhores começavam a se concentrar para disputas que arrastavam multidões para seu interior. Conquistar o estatus de melhor da França foi questão de tempo. Após, já era admirado em diversos países. Em 1748, Philidor publicou o Analyses Du Jeu dês Echecs. Teve três edições já no ano de lançamento.

Por meio de contribuições de fãs ingleses e com a boa tiragem de sua obra, Philidor viveu alguns anos em Londres, até se mudar para Berlim, sob o governo de Frederico, o Grande, também grande fã do jogo de xadrez.

Quando retornou a Londres, deparou-se com um fato inusitado: sua grande fama de mestre no xadrez fez com que se duvidasse de suas composições musicais, afinal era incrível que alguém pudesse ter nascido com ambas as habilidades. Para silenciar a crítica, Philidor musicou o poema “Ode on St. Cecilias`s Day”, de Pope, obtendo amplo reconhecimento pelo feito – Handel ouviu e adorou a música.

Após, passou a trabalhar com óperas-cômicas. Seu sucesso no Théatre de la Foire fez com que o Théatre Italien, até então o maior de Paris, fosse à beira da falência. A fusão dos dois deu origem à atual Ópera Comique.

Embora tivesse jogado partidas contra Robespierre, a proximidade da Revolução Francesa e o fato de ser conhecido por dezenas de nobres franceses o fizeram retornar a Londres. Morreu em 1795.

Luis Charles Mahé de la Bourdonnais, nascido rico mas logo tornado pobre por jogadas financeiras péssimas, foi o mestre seguinte. Sua pobreza somente foi atenuada por convites para enfrentar os melhores mestres ingleses na época. Foi sepultado ao lado de seu maior adversário, Alexander MacDonnell, quem derrotou diversas vezes. As disputas entre os dois foram as primeiras partidas registradas na história, lance a lance.

Finalmente, em 1843, o mundo do xadrez viu a supremacia se mudar para o norte, para a Inglaterra. Em 1843, Howard Stauton derrotou o mestre Pierre de Saint-Amant. Em 1851, por ocasião da Grande Exposição de Londres, organizou-se uma competição internacional. Foi vencida pelo alemão Adolf Anderssen.

Stauton mostrou-se péssimo competidor, ao não admitir a superioridade do adversário. Mas o próprio alemão veria um jovem norte americano, Paul Morphy, ofuscar a todos após derrotá-lo em 1857.
O mestre seguinte, o alemão William Steinitz, foi o primeiro jogador agraciado com o título de campeão mundial, em 1862. Após derrotar Anderssen, Steinitz passou os vinte e sete anos seguintes derrotando os maiores mestres europeus. Mudou-se para os EUA, a convite de admiradores. Suas maiores vitórias ocorreram em 1885, contra Zukertort, em NY, Saint Louis e Nwe Orleans; em 1889 e 1892, em Havana, contra o mestre russo Tchigorin.

Até meados do século XIX, o xadrez na Rússia estava limitado à alta sociedade. Foram grandes amantes do jogo: Pushkin, Tolstoi, Turgenev. O melhor enxadrista daquele século foi Dimitrovich Petroff. O primeiro enxadrista russo a participar de uma competição internacional foi Simon Winawer, comerciante de Varsóvia, arrastado para o torneio por acaso, enquanto estava em Paris a fim de realizar negócios, em 1867. A ocasião de seu durante a Feira Mundial de Paris. A organização decidiu chamá-lo após ser informada de que ele entrara no Café de la Régence e derrotou os melhores jogadores da casa.

Na competição internacional, Winawer ficou em segundo, somente perdendo para Steinitz, o então campeão mundial.

Em 1880, foi fundado o primeiro clube de xadrez russo, em São Petersburgo, por Mikhail Tchigorin. Este ficou empatou com Winawer em terceiro lugar, em 1881, quando tinha apenas 31 anos de idade, no torneio internacional de Berlim. Assombrou a todos a originalidade dos jogadores russos, até então um tanto isolados do resto da Europa.

Em 1883, Tchigorin derrotou a todos, inclusive a Steinitz, por duas vezes. Na final do campeonato mundial, em 1889, Steinitz sairia vencedor, mas foi Tchigorin quem seduziu a todos com suas belas jogadas. Inclusive a popularização do xadrez na Rússia deveria muito a ele.

Quarenta anos depois surgiria o primeiro campeão mundial russo.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “História do xadrez”


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

XADREZ E RÚSSIA: UM AMOR VERDADEIRO


Os russos tiveram contato com o jogo de xadrez por volta do século VIII, no encalço da expansão comercial florescente. OS mercadores russos levavam produtos do país rio abaixo, pelo Volga, até o mar Cáspio – de lá, seguiam em direção a algum porto persa, de onde seguiam sobre camelos até Bagdá, maior mercado muçulmano no período.

Foi lá provavelmente onde aprenderam a jogar xadrez com árabes e persas, amplamente familiarizados com o jogo.

Nos séculos XII e XIII, os mongóis invadiram o território russo e levaram para lá  sua própria variedade do jogo. Apesar de terem recebido o jogo diretamente dos indianos, a variedade mongol apresentava peças ligeiramente diferentes: o conselheiro virou um cachorro; o elefante virou um camelo bactriano.

Embora o jogo já fosse amplamente praticado no país, até meados do século XIx conviviam a modalidade russo-asiática, em que a Dama se movimentava de casa em casa, diagonalmente - e a modalidade russo-européia do jogo. Esta última foi derivada da internalização das regras do xadrez europeu, a partir das modernizações impostas pelo imperador Pedro, mais de duzentos anos antes.  

Um momento fundamental da história do xadrez na Rússia se deu quando da introdução do cristianismo no país, cerca de 1000 d.C. Inicialmente, e a exemplo de sua contraparte romana, ela tentou suprimir a prática do xadrez, angariando resultado igualmente fracassado.

Alguns trabalhos eclesiásticos chegavam a pôr bêbados, feiticeiros, libertinos no mesmo patamar que jogadores de xadrez. Não vendo surtirem efeitos satisfatórios, apelou-se ao poder secular e os czares também editaram decretos que proibiam o xadrez – embora hipocritamente fosse amplamente praticado dentro da Corte, haja vista o próprio imperador Ivan, o Terrível, ter morrido diante de um tabuleiro de xadrez.

A proibição do xadrez na Rússia teve o mesmo destino das proibições em geral: fez aumentar significativamente a prática do jogo, de tal forma que em nenhum lugar o jogo se infiltrou tanto em todas as classes sociais.

Pedro, o Grande, quando adotou as regras do xadrez europeu em sua corte, acabou por incentivar a publicação de livros sobre xadrez. Mas o efeito dessas publicações foi muito limitado, porque os russos eram em geral analfabetos.

Contudo, após a Revolução Bolchevique e da adoção da educação pública universal, o jogo atingiu seu atual caráter internacional. O próprio Lênin era um jogador inveterado. Além disso, o jogo compunha o treinamento mental, que coexistia com a larga prática de esportes, que era o eixo da educação física, conforme orientava o regime soviético. É comum, no inverno, a hora de almoço se dar em frente a um tabuleiro, com a movimentação de peças ocorrendo entre uma garfada e outra.

Em 1925, quando disputava um torneio internacional em Moscou, o campeão norte americano Frank Marshall revelou que nos dias de competição o trânsito em moscou ficava paralisado devido à multidão que se apinhava na porta do edifício onde se dava a competição.

Após a melhoria das condições de vida no país em decorrência da Revolução comunista, o país se tornou o principal viveiro de mestres jogadores de xadrez.   

Os grandes campeões saem geralmente das escolas, onde o jogo é ensinado e incentivado. Malwaukee, nos EUA, copiou essa iniciativa, com resultados brilhantes.   


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “A história do xadrez”



CUIDADO! O XADREZ VAI DESTRUIR A FAMÍLIA


A entrada do jogo de xadrez da Europa, a partir de sua concepção indiana, se deu por duas vertentes, ambas a cargo dos muçulmanos. A Espanha recebeu-o dos mouros; a Itália, dos sarracenos. Ambas por volta do século IX.

Já o nome do jogo, exceto na Espanha e em Portugal, deriva da palavra latina scac, uma latinização da palavra árabe shah, que designava o rei no idioma original. Desde então o nome local para o rei passou a designar todo o jogo, não apenas a peça principal, nos países onde a entrada do jogo se deu a partir da Itália. Contudo, na Espanha e em Portugal, a denominação do jogo usou a palavra árabe shatranj, que virou ajedrez em espanhol e xadrez em português.

Uma carta de 1061, escrita por Petrus Damiani, cardeal-bispo de Ostia, ao papa Alexandre II, dá testemunho da péssima reputação de que o jogo desfrutava na sua modalidade com apostas. Já a modalidade sem apostas desfrutava de melhor reputação.

Mas a atração que o jogo exercia sobre as pessoas mostrou-se mais forte do que as proibições impostas pela Igreja. Quando, por volta de 1400, percebeu-se que sua prática era comum em quase todas as cortes européias, tornou-se desinteressante proscrevê-lo. Muitos clérigos inclusive se tornaram exímios praticantes e autores da primeira literatura sobre o jogo. A Inglaterra conheceu-o após as invasões normandas. Já em 1230 um livro islandês comentava sobre uma partida de xadrez. E fins do século XI, era conhecido do Mediterrâneo à Islândia, de Portugal à Rússia.

Mas era visto como algo a que desocupados se dedicava, como os menestréis. Naturalmente servos dos castelos tinham contato com o jogo por meio de seus senhores. Também guerreiros e cavaleiros o conheciam por meio das Cruzadas. Mas o homem simples dificilmente teria contato com o jogo de xadrez.
Até o período final da Idade Média, todo tipo de alteração das regras originais haviam sido tentada, sempre desejando reduzir o tempo das partidas. Por exemplo, o jogo ainda segundo as regras herdadas dos muçulmanos definia que um peão poderia se tornar Ferz (posteriormente rebatizado para Dama) sempre que atingia a oitava coluna. Creia-se, muitos questionaram a moralidade de um rei polígamo, caso o participante transforme ainda detenha a rainha e acrescente ao tabuleiro mais uma. Depois de muita discussão, decidiu-se por simplesmente chamar as Damas por transformação de um peão de outro nome.

De fato, apenas a Torre e o Rei, as peças mais fortes, guardaram seus movimentos originais. Já a transformação do Peão em Dama, aumentando a força dessas duas peças, reduziu o tempo de jogo pela metade. Já então a literatura sobre xadrez acumulava mais de sete séculos de desenvolvimento, contudo viram-na se tornar completamente obsoleta após as últimas alterações.  

Por volta de 1500 as regras se estabilizaram e o jogo é mais ou menos o mesmo desde então. Os meios de comunicação mais modernos permitiram a padronização das regras e sua posterior exportação.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “A história do xadrez”

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

GAMÃO: O XADREZ DA VIDA


Uma bela peça de origem persa, hoje em exposição no Museu Metropolitano de Arte de NY, data do século XIV, mostra o momento em que Buzurgmehr, um sábio persa, ao enviado do xá persa Anushirvan. Em outra miniatura, Buzurhmehr está na corte de Dewasarm, monarca indiano, ensinando o que agora se sabe ser o gamão.

Embora seja um jogo que faz uso dos dados, seu caráter de jogo de azar não lhe tirou o brilhantismo, quanto mais exibindo uma base intelectual tão brilhante.

Como explicou seu inventor, o tabuleiro representa o ano. Este continha 24 pontos, representando as 24 horas do dia. Divide-se tal tabuleiro em duas metades, cada uma contendo 12 pontos, isto é, os 12 meses do ano – e os 12 símbolos do Zodíaco. Dois dados faziam as vezes de dia e noite. Os dados traziam o seis em oposição ao um; o dois em oposição ao cinco e o três em oposição ao quatro: a soma dos pares dava sempre sete, isto é, o número de dias da semana, e de planetas no sistema solar conhecido até então.

Até mesmo a indesejada presença dos dados tinha um significado óbvio: é evidente a dependência do homem em relação ao destino, por sorte ou azar.      


Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “A história do xadrez”

CHESS FOR FOOD: A HISTÓRIA DO XADREZ


Conta-se que o indiano Sissa, uma espécie de cientista brâmane da corte do rajá Blahait, foi encarregado por este de criar um jogo que exigisse de seus contendores qualidades como prudência, diligência, previsão e conhecimento. O objetivo era se livrar do fatalismo dos jogos praticados até então, que exigiam apenas sorte nos dados.

A resposta de Sissa veio na forma de um tabuleiro com peças de xadrez bastante parecidas com as atuais. Tais peças eram a representação das quatro frentes do exército indiano: carros, cavalos, elefantes e soldados a pé. Comandavam-nas o rei e seu vizir. Sissa julgava que a guerra era o ambiente que melhor aferiria as capacidades dos participantes.

Pela formação de batalha das forças da região quando da chegada de Alexandre, o Grande, calcula-se que o jogo date do século IV a.C.

O rajá Balhait ficou de tal forma estupefato com a invenção, que ordenou que fosse mantida nos templos, além de servir como ferramenta fundamental nos treinamentos para batalhas.

Supondo que Sissa desejasse uma recompensa à altura de seu feito, Balhait assim se dirigiu ao mesmo: “Pedi qualquer recompensa que desejardes; será vossa”. Amante do conhecimento e desprendido de vaidades mundanas, Sissa se disse perfeitamente recompensado pelo prazer que seu invenção estava a causar nas pessoas.

Mas Balhait realmente desejava recompensar seu cientista favorito, insistiu que este lhe fizesse o pedido de sua preferência, ao passo que o mesmo então propôs a seu rei: “Dai-me uma recompensa em grãos de milho sobre o tabuleiro de xadrez. Na primeira casa, um grão; na segunda, dois; na terceira, quatro; na quarta, o dobro de quatro; e assim por diante, até a última casa.”

Impressionado pela simplicidade do pedido, o rei então ordenou que se trouxesse todo o milho pedido por Sissa, não sem antes poder notar um leve sorriso no canto da boca do inventor, enquanto dizia: “Não preciso de mais. Basta-me uma pequena porção dos bens mundanos.”

Balhait deve ter ficado boquiaberto quando notou que antes mesmo que se atingisse a metade das 64 casas do tabuleiro todo o milho da Índia já havia sido empenhado a Sissa. Balhait então se volta desesperado a Sissa, que revela já ter prévio conhecimento de que toda a produção de milho da Índia seria insuficiente para atingir sua solicitação.

De fato, Sissa disse-lhe que a quantidade de grãos necessária seria suficiente para cobrir toda a superfície do planeta Terra com um tapete de milho de nove polegadas de espessura.

O número calculado era 264, ou 18.446.744.073.709.551.615 grãos de milho. Quando o sistema decimal, inventado pelos indianos, finalmente alcançou os matemáticos árabes, al-Beruni calculou que o número citado, se contasse número de pedras, poderia erguer 2.305 montanhas, e que o planeta Terra não conteria toda a matéria necessária para tanto.

Com isso, Balhait não sabia dizer se admirava mais a engenhosa invenção de Sissa, ou sua capacidade de elaborar enigmas matemáticos absolutamente contra-intuitivos.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “História do Xadrez”
     

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

GOG: SONHANDO ALTO DEMAIS ?

Talvez Seja Querer Demais
Gog

Tem saúde, pai e mãe, uma vida boa, e vive reclamando...
Diz que vai entrar pro crime,,,
Talvez seja querer demais...

Mas antes vem comigo,
visite os asilos, conheça mães que jorram veneno pelos mamilos
na cama, o drama dos parceiros paraplégicos,
demora, operação, erros médicos...
visite as crianças portadoras de leucemia,
pacientes com a dor corroendo os ossos dia-a-dia,
seja útil, não fuja, aceite o desafio,
profissão, tensão, a vida por um fio...
esteja presente aos enterros, aos velórios,
a aflição dos irmãos, da mãe, dos órfãos,
vá ao IML assistir um corpo ser autopsiado,
veja o rosto, preste atenção na feição, conte os buracos
esteja presente a alguém sendo reanimado,
descargas elétricas, choques, família desesperada,
veja quanto sangue, um coraçao sendo operado,
pense sem maldade, quanto disso evitado...

Visite um centro de reabilitação de drogados,
crise de abstinência, tremor, maus tratos...

Quer mudar, abandonar essa nau, o mal persegue,
quer lutar mas não dá, o adversário é forte, não consegue
veja quanto não somos nada, e muito ingênuos,
veja o mal, lesão cerebral, um segundo sem oxigênio
visite os renais crônicos, não funcionam os rins,
pergunte se querem viver, vão dizer que sim!
acompanhe pacientes terminais no último suspiro
e diga eu posso, vou batalhar, ainda respiro!
entreviste médicos, enfermeiros, legistas,
chegue adiantado na hora das visitas,
várias histórias, coisas pra aprender,
um recebeu alta o outro não vai sobreviver...
um vai reagir, vai se levantar,
o outro consumido pela infecção hospitalar
visite as creches, as maternidades,
a Casa do Cantador e outras entidades,
conheça a ação desenvolvida pela COPERIFA,
Somos mais que Dogg Dog, Dre, Queen Latifa,
Porque somos terceiro mundo,
sem caviar, sem champanhe, nesse submundo...
Quer entrar pro crime? vai! mas antes!
RESPEITE OS ARGUMENTOS DESSE IGNORANTE.

G O G... (refrão)

Olha a América Latina, esse imenso arquipélago,
sua grande ilha chama-se Brasil (Brasil)
onde pequenas porções de riqueza,
são cercadas por porções de pobreza por todos os lados,
veja a prova
Muita gente sonha viver só de glória,
Carros, luxúria, status, só vitória...
olhar pro céu, ver tudo azul sem problemas,
viver a vida intensamente sem dilemas...
os ricos são tão pobres que não percebem a frieza,
a triste pobreza em que usufruem suas malditas riquezas
pagam fortunas pra construir modernas mansões,
se divertem em frente aos telões...
forçados a comer em restaurantes fechados,
cercados, protegidos por policiais privados,
terminam de jantar são obrigados a ir aos palácios,
sem o prazer de ir ao cinema, ao teatro...
presenteiam belos carros aos seus filhos,
mas não dormem (mas não dormem), não dormem tranquilos...
Portão automático, invento prático dos dias atuais,
pontes elevadiças dos castelos medievais...
no exterior vestindo etiquetas,
e a maior concentração de renda do planeta...
chamados de assassinos da candelária,
portadores de malária, dengue, verminose e outras pragas,
porém a maior pobreza dos ricos brasileiros,
encontra-se em sua incapacidade,
primeiro, só pensar em encher seus cofres!
segundo, não enxergar a riqueza que há nos pobres,
se tivessem percebido essa riqueza
e libertado a terra junto com os escravos...
os ricos brasileiros teriam abolido a pobreza,
que os acompanha ao redor da riqueza
a pobreza de visão dos ricos os fez incapacitados
de enxergar a riqueza que há nos braços e no cérebro dos pobres,
Essa sim seria uma causa nobre...
Ganharia então o Brasil por inteiro,
pobres sairiam da pobreza, os ricos do cativeiro,
da insegurança, escassez de paz, Talvez Isso Seja Querer Demais...
que que tem, se outro tem? sem desdém, com trabalho
mas pra elite brasileira dedo médio apontado!
as mãos que menos abrem, mais festejam,
as mãos que menos cultivam, mais apedrejam!
parados, imobilizados, não daremos um passo a frente,
presas faceis, vítimas do veneno da serpente!
a vida mostra sim facilidades, mas cuidado, melhor viver a realidade!

G O G (refrão / final)


Rubem L. de F. Auto

VAI PRA CUBA! JACKSON BROWNE GOSTOU DA IDEIA


Going Down To Cuba
Jackson Browne

Sometimes I get to feeling low
Wish I could just pick up and go somewhere new
Change my point of view
Maybe somewhere I don't know
Toss the idea to and fro
Not sure what makes it come and go
There it is again: sweet music on the wind
Over the Gulf of Mexico

Algumas vezes fico desanimado
Desejo que pudesse escolher um lugar novo para ir
Que mude meu ponto de vista
Talvez algum lugar que não conheça
Remoer as idéias de um lado para outro
Sem certeza do que as faz virem e irem embora
E lá está de novo: música doce ao vento
Sobre o Golfo do México

I'm going to down to Cuba someday soon
Following that Caribbean moon
It's been too long since I've been there
I'm going down to Cuba with my friends
Down where the rhythm never ends
Where women wear gardenias in their hair

Vou a Cuba em breve
Seguindo aquela lua caribenha
Faz muito tempo que estive lá
Vou a Cuba com meus amigos
Lá, o ritmo nunca para
Onde as mulheres usam gardênias no cabelo

People will tell you it's not easy
You're not supposed to go, they say

They say that Cuba is the enemy
I'm going down there anyway

Pessoas lhe dirão que não é fácil
Você não deveria ir, dizem
Dizem que Cuba é o inimigo
Vou para lá de qualquer maneira

I'm going down to Cuba to see my friends
Down where the rhythm never ends
No problem is too difficult to solve
Yeah times are tough down there it's true
But you know they're going to make it through
They make such continuous use of the verb to resolve

Vou a Cuba para ver meus amigos
Lá, o ritmo nunca para
Nenhum problema é difícil demais para resolver
Sim, os tempo lá são duros, é verdade
Mas você sabe que eles vão resolvê-los
Ele fazem uso contínuo do verbo resolver

They've got to deal with that embargo
Enough to drive any country insane
They might not know the things you and I know
They do know what to do in a hurricane
Maybe I'll go through Mexico
Old Jesse Helms don't have to know
Anyway all the allies of the USA
Travel to Cuba everyday

Ele têm de lidar com o embargo
Suficiente para deixar qualquer país louco
Ele podem não saber das coisas que eu e você sabemos
Eles sabem o que fazer em caso de furacão
Talvez eu vá atravessando o México
O velho Jesse Hems não tem que saber
De qualquer maneira, todos os aliados dos EUA
Viajam para Cuba todos os dias

I'm going down to Cuba to see my friends
Down where the rhythm never ends
Where by comparison my trouble will just unravel
I'm North American, you know
Don't like to hear where I can't go
Free people will insist on the freedom to travel


Vou a Cuba para ver meus amigos
Lá o ritmo nunca para
Onde por comparação meu problema será revelado
Sou norte americano, você sabe
Não gosto de ouvir onde não posso ir
Pessoas livre insistirão na liberdade de viajar
Vou beber o rum mojito
E passear no Malecon
Em uma mão, um Monte Cristo
E na outra, um sorvete

I'm going down to Cuba with my band
We're going to formulate a plan
Whereby we obtain that cultural permission

Vou a Cuba com minha banda
Vamos formular um plano
Por meio do qual obteremos nossa permissão cultural

If I told you once I told you thrice
It'll put a smile on your face
To see a Chevrolet with a Soviet transmission

I bet the country casts a spell
And there are things I think of still
Like the beauty of that woman that spoke to me
In the Hotel Nacional

Se falei uma vez, falei três
Isso porá um sorriso em seu rosto
Para ver um Chevrolet com uma caixa de transmissão soviética
Aposto que o país lança um feitiço

E há coisas que ainda penso
Como na beleza daquela mulher que veio falar comigo
No Hotel Nacional

I'm gonna book my flight today
I'm definitely on my way
Just hold my place and I'll get back in the race
And I'm back in the USA

Vou comprar minha passagem hoje
Definitivamente, estou indo
Guarde meu lugar e eu voltarei correndo

De volta aos EUA


*JESSE HELMS, Senador responsável pela lei de embargo a Cuba.


Rubem L. de F. Auto