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terça-feira, 20 de setembro de 2016

SOBRE A LAVA JATO


Tornou-se um problema dar pitacos sobre a operação da PF, MPF e Judiciário que investiga esquemas ilegais ligando partidos, empresas doadoras de campanhas e quetais, todos bastante comuns no Brasil desde ... sempre.
Quando alguém elogia a operação, corre o risco de ouvir críticas quanto aos excessos que descambam para a quase ilegalidade, ou sobre o caráter inquisitorial contra o PT, ou quanto à ligação muito próxima entre procuradores e Igrejas Batista que se posicionam contra o PT.
Se o comentário for uma crítica à operação, a resposta é única, uníssona: petralha defensor de ladrão !
Pois bem. Eu gosto de polêmicas como essas. Segue minha opinião.
Os esquemas de corrupção desvendados até agora mostram o cenário que impregna a política brasileira de maneira clara, pelo menos, desde a década de 1950. Empreiteiras, que dependem de obras públicas para manter seu modelo de negócio em funcionamento saudável (o que garante boas condições junto a bancos e fornecedores quando operarem outras obras) operam junto a partidos e políticos, financiando campanhas e fazendo favores. Com um esquema dessas operando em mais de 5.000 municípios, 26 estados, DF e União tínhamos empreiteiras lucrativas mesmo em períodos de grande recessão. Esse evidentemente crescia em períodos de grandes obras, como nos governos do PT (graças a saldos da Balança de Pagamentos positivos) e no período do Regime Militar (quando os empréstimos externos faziam o mesmo pelo bem do Orçamento Público).
Dito isso, deve-se lembrar: é tudo ilegal. Fica bastante fácil associar favores e decisões ilícitas a favores recebidos quando da campanha política. Ou seja: se você quiser derrubar um governo, basta atacar os pontos que são reconhecidamente foco de corrupção. 
Imagine a cena: você começa a trabalhar em uma empresa e percebe que ninguém cumpre corretamente a jornada de trabalho. Um dia você resolve sair mais cedo e conta com o hábito dos colegas de fazê-lo sem avisar ao chefe. No dia seguinte, você é demitido por justa causa. Justo ? São as regras ... mas ... :-(
Pois bem. Vamos acreditar piamente na versão oficial: em dado momento, MPF e PF receberam denúncias e iniciaram investigações para desbaratar os esquemas corruptos que ocorriam durante os governos do Partido dos Trabalhadores, que envolviam partidos aliados e empreiteiras, grandes doadoras de campanhas políticas.
Até o momento diversos empresários foram condenados, embora quase todos estejam cumprindo prisão domiciliar. Alguns políticos foram condenados, quase todos do PT. Operadores dos partidos, como Fernando Baiano, do PMDB, também foram condenados. O cérebro de tudo, o cappo Alberto Youssef segue sua penitência desde meados dos anos 2000, quando foi pego no caso Banestado. Já devolveu centenas de milhões de dólares e ainda tem muita grana no banco ...
A despeito das dúvidas e questionamentos que surgem do desenrolar do processo, é muito fácil aceitar que pessoas estejam sendo condenadas por esses crimes, embora ache um certo exagero colocar a Lava Jato como algo inédito na história do Brasil.
Exagero também é dizer que as estatais ligadas a esse esquema estão à beira da falência ou passando dificuldades financeiras em razão dos desvios ora investigados. Ainda que estejam em dificuldades, há razões de mercado e de má gestão (diferente de corrupção) que ajudam a explicar essas dificuldades, em grande parte momentânea.
Contudo, inexplicáveis mesmo, na minha opinião, são os episódios em que ela se lança sobre o ex-presidente Lula. Inexplicável por quê ? Veja:
1- todos os condenados, em dado momento, foram investigados, ouvidos, condenados e levados a cumprir suas penas.
2- poucos foram apresentados à imprensa ainda na fase de inquérito (na verdade não lembro de nenhum), sem provas. Foram imediatamente denunciados, condenados e presos.
3- no entanto Lula, por mais de uma vez, é levado à defenestração pública por meio da imprensa, é atacado, achincalhado e nada ocorre. Mesmo uma simples denúncia não é apresentada. Faz-se polêmica, chove-se no molhado mas não há condenação, pena, nada.
Minha sensação é essa. Há duas Lava Jato. Uma é legítima e procura legitimar a outra, ilegítima. Se alguém fala de perseguição ao PT, a Lava Jato legítima responde: mentira, estamos condenando. Se alguém elogia a legítima, a ilegítima dá azo à contraparte para que argumente que há perseguição ao PT.
Logo, sou levado a crer que se trata de uma tática de minar o PT, reduzi-lo à insignificância política por meio do amaldiçoamento de seu líder, em período de eleições municipais. E quanto às condenações até o momento ? Empresários presos a suas mansões ? Operadores semianalfabetos que ficaram milionários trabalhando para ladrões ? Eles que se danem ! Aguentem 5 aninhos na cadeia. Depois vão curtir o resto da vida, com suas famílias, vivendo a riqueza que nunca teriam adquirido por meios legais.
Estão conseguindo. O partido está bastante debilitado atualmente. Mas permanece minha curiosidade. Onde isso vai dar ?  


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