Controlar regiões ricas em minérios faz parte do beabá de
todos os impérios desde o surgimento do primeiro que se fez digno desse nome.
Os romanos tomaram a região correspondente à atual Grã-Bretanha, a Província da
Bretanha, em busca do estanho e da prata, ali abundantes. Foi o ouro que atraiu
os mesmos romanos para a região do atual Portugal, na época Província de
Portugália. Também foi o ouro que atraiu os conquistadores espanhóis para a
região do atual Peru, no século XVI. Esse mesmo ouro levou os britânicos a
invadirem o Transvaal africâner no século XIX, correspondente a parte da atual
África do Sul.
E em todos esses casos, a cultura do invasor vencedor se fez
presente e influenciou sobremaneira a cultura local.
É por razões que têm esse aprendizado como fundamento que a atuação
dos EUA no Oriente Médio é revestida de um inegável caráter imperialista.
Afinal, o interesse na riqueza mineral local é óbvio: petróleo, o ouro negro, o
sangue que irriga o mundo industrializado; ao mesmo tempo, o interesse em mudar
a cultura prevalecente na região, notadamente sob o aspecto político, faz parte
do discurso de Washington há muitas décadas. Petróleo-democracia, parece ser
esse o binômio que “justificou” a atuação imperial dos EUA no Oriente Médio
desde o início.
Caso seja realmente esse o motivo balizador, então os
resultados devem ser considerados, no mínimo, desastrosos. Um claro caso de política
muito mal sucedida. Se na década de 1950 petroleiras dos EUA eram praticamente
detentores dos infindáveis campos de petróleo naquela região, as seguidas
nacionalizações posteriores praticamente expulsaram aquelas companhias, em
geral partindo de governos abertamente antiamericanos.
Os critérios da Freedom House permitem que somente Israel e
Turquia sejam qualificados como democracias, dentre os 15 países da região. Em
1950 essas mesmas nações assim seriam classificados, contudo Egito, Irã, Líbano
e Síria estavam mais perto de uma democracia do que atualmente.
Por esses motivos, diversos líderes ocidentais mostraram ver
a política para o Oriente Médio como uma reedição das Cruzadas na era Medieval.
Se, por um lado, não soe moralmente aceitável, muito menos ético, declarar uma
guerra, um choque de civilizações em lugar de uma diplomacia civilizada; por
outro, revela-se aí uma importância tal que a perda de influência sobre a mesma,
já no início da década de 1970, era impensável.
Antes de 1950, a presença norte americana no Oriente Médio
era meramente acadêmica, ainda que motivada por razões estratégicas. Diversas
instituições de educação americanas, como universidades com campus no Cairo e
em Beirute, além do Roberts College em Istambul, ou o Alborz College no Irã,
garantiram sua presença na região.
O papel dos EUA deu um passo adiante em 1946, quando Loy W.
Henderson, diretor do Escritório de Negócios Africanos e do Oriente Médio do Departamento
de Estado, assim definiu a política americana para o Oriente Médio: “impedir
rivalidades e conflitos de interesse na área de se transformar em hostilidades
que eventualmente pudessem levar a uma terceira guerra mundial”. Isto é, os EUA
se declaravam árbitros “desinteressados” nos eventuais conflitos com que se
deparassem, exercendo sua força militar imperial recentemente conquistada ao
final da II Guerra Mundial. Mas não passava disso.
Um ano depois, os EUA deram mais um passo adiante para se “assenhorarem”
do Oriente Médio, mas foi um golpe do acaso: diante das dificuldades
insuperáveis causadas pela trágica II Guerra Mundial, os britânicos decidiram
entregar aos EUA o papel que até então exerciam na Turquia – e,
consequentemente, na Grécia. Ainda assim, soldados britânicos seriam os mais
numerosos na região por mais uma década. Somente após a crise do Canal de Suez
os britânicos deixariam de considerar aquela região finalmente fora de sua
esfera de influência.
Os primeiros passos dos EUA no Oriente Médio remontam a
1920. Companhias de Petróleo americanas pressionaram suas contrapartes
britânicas a abrir-lhes participação na Companhia de Petróleo Turca – mais tarde
o “Turca” seria alterado para “Iraquiana”. Essa pressão viria no encalço da
descoberta de petróleo em Baba Gugur, em 1927.
Ainda não se poderia prever o papel do Oriente Médio no
mundo dali a poucas décadas: em 1940, todo o petróleo saído da região somava
apenas 5% do fornecimento mundial do ouro negro. Mas os estrategistas de
Washington já estavam convencidos de que o potencial de produção daqueles
campos de petróleo era extraordinário.
Foi um arabista britânico, Harry St. John Philby, quem
costurou o ingresso dos EUA no Oriente Médio, ao transformar os reinos
encabeçados por membros da Casa de Saud numa colônia americana.
Após, diante do esgarçamento britânico, propuseram tornar a
Arábia Saudita região de influência unicamente de Washinton, enquanto a Pérsia
permaneceria sob a influência britânica; Iraque e Kuwait seriam desfrutados por
ambos.
Foi então que se traçaram as linhas gerais que guiariam as
relações EUA-Arábia Saudita: armas e dinheiro fluindo para os bolsos sauditas;
petróleo e bases militares seguindo o fluxo inverso. A medida seguinte foi a
fundação da Companhia Árabe-Americana de Petróleo (a ARAMCO, considerada por
muitos a maior corporação empresarial do planeta Terra), desde o início a
principal fonte de renda da família real saudita: cerca de metade da receita
auferida era enviada aos Saud, livre de impostos.
Quando John Foster Dulles visitou o Oriente Médio, na
condição de Secretário de Estado americano, não se conteve e declarou que aqueles
recursos minerais todos eram “vitais
para nosso bem estar”.
Por tudo isso é quase incompreensível o apoio americano à
fundação do Estado de Israel: nada foi mais eficiente para afastar qualquer
possibilidade de apoio ou mesmo de simples simpatia. Menos compreensível ainda
se torna se considerarmos que o Departamento de Estado foi contra esse apoio,
ainda em 1948. Foi o presidente Harry Truman quem costurou esse apoio, que
contra todos os prognósticos cresceu, a ponto de já em 1958 ter se tornado
axioma da política externa dos EUA. Um embaixador americano no Egito certa
feita declarou: “Israel representa nosso mais antigo interesse na área... A
continuação de Israel como um Estado independente certamente representa um
compromisso básico da política externa dos Estados Unidos...”.
No compêndio de análises a esse respeito não faltam especulações
sobre as motivações de Washington: a influência irresistível no lobby sionista,
sentimento de culpa pelo Holocausto, o fato de Israel ser a única democracia
por aquelas bandas. Até o crença protestante de que o retorno dos judeus a
Israel é um sinal do breve retorno de Cristo é apontada entre as razões.
Seja como for, as discordância entre EUA e Israel também são
numerosas. Primeiramente, o apoio costurado por Truman não incluía assistência militar
ou bélica. Dulles, que previu a importância fundamental do petróleo saudita
para a economia americana, suspendeu diversas vezes o auxílio americano a
Israel. Os EUA se pronunciaram contra Israle por ocasião da invasão da Fixa de
Gaza e do deserto do Sinai, em 1956. OS EUA não foram capazes de garantir
liberdade de passagem aos navios israelenses pelo estreito de Tiran, nos
estertores da Guerra dos Seis Dias, apesar de terem prometido na ONU que o
fariam.
Poucos anos depois, os EUA defenderam a internacionalização
de Jerusalém e criticaram publicamente a colonização de territórios árabes, em
1967, com o fim de torna-los assentamentos de judeus. Os EUA não se
manifestaram a favor dos eventos em Gaza e na Cisjordânia.
Por todo o exposto, pode-se afirmar que o motivo
preponderante para a entrada decidida dos EUA no Oriente Médio, em 1950, foi
outro: medo da URSS! O fim dos impérios europeus, consequência do caos
pós-guerra, incutiu o medo de que os russos capitalizassem influência no mundo
árabe de maneira tão decidida quanto haviam feito na Ásia.
Mas esse medo era, de certa forma, exagerado. Os russos
mostraram muito pouca competência ao tentar atrair o apoio de Teerã e, ao fim,
nada conseguiram. Por sua vez, a derrubada do primeiro-ministro iraniano
Muhammad Mussadegh, pioneiro do processo de nacionalização de companhias
petrolíferas ocidentais e, por consequência direta, pioneiro dentre os políticos
árabes derrubados por meio de golpes de Estado patrocinados por Washington, mostrou-se
tão bem sucedida que renovou os ânimos por dominar a região.
Essa derrubada ocorreu por meio da operação Ajax. Seu
estopim foi a nacionalização da Companhia Anglo-Iraniana de Petróleo. Embora a
iniciativa fosse britânica, quem operacionalizou tudo foi a CIA.
O caso do Egito se desenrolou entre idas e vindas
surpreendentes. Inicialmente, os EUA apoiaram o líder nacionalista Gamal Abdel
Nasser, na altura em meio a turras com os britânicos, exigindo que retirassem sua
presença militar da região do Canal de Suez. Contudo, em 1956, Nasser já estava
flertando com os russos, além de fazer inflamados discursos visando ao apoio
das demais nações árabes.
Em seguida, os EUA se recusaram a financiar o projeto da
represa de Assuã. A resposta revoltada de Nasser foi a nacionalização do Canal
de Suez. A indignação britânica levou-a a se juntar à França na tentativa desastrada
de invadir e tomar à força o Canal do Egito. Faltava apenas um motivo claro, e
este veio a cargo de Israel, que invadiu territórios vizinhos, levantando os
temores relacionados a uma guerra árabe-israelense. OS EUA cumpriram o aviso antecipado:
não apoiaram a aventura neocolonial dos inconformados antigos impérios
europeus.
A invasão anglo-francesa foi respondida pela URSS com a
ameaça de uso de armas nucleares. Foi o suficiente para demover os dois europeus,
embora alguns sustentem que a razão preponderante foi um surpreendente ataque
especulativo contra a libra – sem falar na falta de financiamento da empreitada
por Washington.
Foi então que outro evento deixou os analistas ocidentais sem
fôlego: Nasser instigou alguns oficiais iraquianos a criarem uma revolta em
Bagdá, visando à derrubada do rei pró-britânico Faisal II – ao lado do primeiro-ministro
Nuri es-Said. Nem o envio de 15 mil soldados para o Líbano foi capaz de conter
aquele movimento.
As consequências foram incalculáveis: o novo governo
iraquiano revogou as concessões de exploração de petróleo da Companhia de
Petróleo Iraquiana – concessões que remontavam à invasão de 1917.
Para completar o quadro da degringolada ociedental, os
sauditas suspenderam as compras de armas dos EUA e avisaram que não renovariam
a autorização de funcionamento da base aérea americana em Dhahran.
Impossível não ouvir risadas contidas de Nasser.
Desde a década de 1950, a convivência pacífica entre árabes
e israelenses era virtualmente impossível. Para complementar o quadro de
entreveros na região, surgiu um fenômeno novo que assustaria boa parte do
planeta nas décadas seguintes: o terrorismo.
Não era algo exatamente novo: sionistas radicais tinham
usado essa mesma tática para expulsar soldados britânicos da Palestina, ainda
na época em que detinham o mandato sobre a governança da região. Agora, eram os
palestinos que ameaçavam os israelenses usando-se das mesmas táticas; e o
motivo era o mesmo: o desequilíbrio de forças é de tal ordem que um embate
militar tradicional está descartado.
Ainda durante as discussões sobre a criação do Estado de
Israel, foi posta sobre a mesa a proposta de solução de dois Estados, mas essa era
àquela altura uma proposta inaceitável para os árabes. Líbano, Síria, Iraque,
Transjordânia e Egito (com o apoio mal disfarçado da Arábia Saudita) partiram
para a guerra, com o intuito de sufocar Israel. Mas nada disso ocorreu: o fracasso
árabe foi retumbante .
Se Grã-Bretanha e França foram escorraçadas de Suez, Israel,
quem deu o motivo para a invasão, saiu-se bem melhor: ocuparam a Faixa de Gaza
e o Sharm el-Sheikh, embora essas regiões tenham, sido postas sob controle da
ONU, logo após.
Em 1967, movimentações militares pelo Egito deram azo à
Guerra dos Seis Dias, fato inflado por declarações de Nasser expressando seu
desejo de apagar Israel do mapa. Novamente o desempenho árabe foi sofrível, e
Israel contava agora com o Sinais, Gaza e, em represália à Jordânia, que apoiou
o lado árabe, a Judeia (o que incluía Jerusalém e Samaria, também chamada
Cisjordânia). As colinas de Golã estavam nesse pacote.
Em 1973, o Egito e a Síria se lançaram em mais um ataque a srael: a Guerra do Yom Kippur. O começo
foi animador para os árabes, mas nem mesmo o apoio soviético e iraquiano foram
capazes de fazer Israel recuar um centímetro que seja.
Tantas vitórias seguidas deram o ânimo que faltava a Israel
para, em 1982, invadir o Líbano.
Os EUA, além de não terem sido consultados sobre qualquer
dos eventos acima, não viram com muita satisfação as acachapantes vitórias israelenses:
segundo Nixon, a região estava virando os Bálcãs antes da I Guerra Mundial – os
conflitos insolúveis poderiam levar a um embate direto entre EUA e URSS, ainda
que ambas não desejassem isso.
Por exemplo, no confronte de 1973, os EUA apoiaram Israel
apenas após terem certeza de que os soviéticos apoiavam o Egito. E foram as
duas superpotências que negociaram o cessar-fogo.
No período seguinte, de 1976 a 1985, a ajuda americana a
Israel tomou umn fôlego inédito: 25% de toda a assistência militar norte
americana tomou o rumo de Israel – cerca de 25 bilhões de dólares, ou 13% do
PIB israelense.
Ainda assim, a única concessão que Israel fez a Washington
foi atender à súplica de Jimmy Carter para que devolvessem o Sinai, em nome de
um acordo de paz com o Egito. Mas quando em 1981 Israel decidiu incluir
unilateralmente as colinas de Golã no seu território, Washington ficou ao lado
da ONU, condenando essa atitude.
Durante a invasão do Líbano por Israel, os EUA enviaram
soldados para as forças de paz, que tentavam impedir Israel. As tentativas de
Reagan de resolver os conflitos foram todas embargadas por Israel. Apenas
quando Reagan e Yitzhak Shamir acordaram sobre o aumento da cooperação americana
para Israel, houve algum acordo sobre os conflitos, em 1983.
Após anos recusando qualquer oferta, em 1988 Yasser Arafat
aceitou um acordo bilateral com a Palestina: mas os israelenses mostravam cada
vez menos disposição de retornar às fronteiras originais, anteriores a 1967. Os
americanos também protestaram contra o assassinato de palestinos que jogavam
pedras em soldados israelenses, mas mesmo isso trouxe poucos resultados. O
mesmo ocorreu em relação aos assentamentos, que em 1983 já somavam mais de 30
mil pessoas.
Tudo isso ocorreu simultaneamente ao aumento da relevância econômica
dos países árabes no mundo. Se Israel estabelecera décadas antes uma
superioridade incontestável sobre os países árabes, agora o cenário parecia
ficar ainda mais confuso.
Em 1953, os EUA produziam mais da metade do petróleo do
mundo; em 1973, produziam apenas 21%. Nos anos 1950, os EUA praticamente não
importavam petróleo; em 1977, 46% do que consumiam eram importados – e o
principal fornecer era justamente o Oriente Médio.
O pronto positivo era que a renda auferida pelos árabes era
quase que integralmente investida em ativos norte-americanos: eram os petrodólares,
famosos por irrigarem os empréstimos para os países em desenvolvimento, que
seriam plasmados na forma da crise da dívida externa dos anos 1980, após o
aumento das taxas de juros internacionais.
Entre 1970 e 1972, as importações de armas produzidas nos
EUA pela Arábia Saudita multiplicaram-se por vinte. Já a participação de
companhias petrolíferas americanas nos poços sauditas caiu a praticamente zero
após a nacionalização da Aramco.
Ainda assim, a importância do petróleo do Oriente Médio é
muito mais crucial para os aliados dos EUA, notadamente os países europeus, do
que para os EUA. O controle daquela região pela URSS traria o domínio da Europa
ocidental pelos soviéticos, o que jogaria a OTAN na lata de lixo da história.
E os resultados de Washington, nesse sentido, foram
positivos. Os conselheiros militares soviéticos já tinham quase que totalmente
deixado o Cairo já por volta de 1972. Somente mantinham alguns representantes
na Síria. Já os EUA eram presença marcante no Kuwait, nos Emirados Árabes
Unidos, no Bahrein, no Qatar e em Omã. Já Kissinger conseguiu tanto estabelecer
um modus vivendi entre Israel e Egito quanto derrubar o embargo do petróleo saudita
aos EUA – episódios conhecidos como a diplomacia da ponte aérea.
Mas as dores de cabeça de Washington não teriam fim, ainda.
Muanmar al-Qaddafi, ditador líbio, aproveitou o conflito árabe-israelense de
1967, quando a demanda por pet´roleo líbio aumentou, em face da redução da
produção nos países em conflito, para aumentar seus preços. Por fim,
nacionalizou as petrolíferas estabelecidas na Líbia.
Em 1973, com o recrudescimento dos conflitos que opunham
Israel e árabes, os sauditas, em represália, elevaram o preço do seu petróleo
em 70%. Além disso, anunciaram uma redução da oferta aos aliados de Israel em
5% ao mês.
Os EUA enfrentaram a decisão saudita dobrando os repasses a
Israel. Os sauditas então anunciaram novo embargo de petróleo contra os EUA.
Tudo isso quando o mundo adotava políticas keynesianas para manter o crescimento
do PIB. O impacto foi um verdadeiro apocalipse sobre suas economias. Inflação
em alta, déficit fiscal indecente, desemprego estratosférico... e piorou! A
revolução iraniana de 1979, um dos episódios mais vergonhosos da política
externa dos EUA, apresentou um novo ator econômico: a temida estagflação.
A Revolução Iraniana viu a queda do ditador sanguinário e marionete
de Washington, o Xá Reza Pahlavi, e sua sucessão pelo líder islâmico radical
Ruhollak Komeini, uma espécie de Lênin islâmico. Para se ter uma melhor visão
da tragédia americana naquela região, o Irã era o segundo maior país do Oriente
Médio, atrás apenas da Turquia. Sua população era o triplo da população do
Iraque. Sua produção de petróleo só perdia para a da Arábia Saudita. Em 1973,
mais de 10% do petróleo produzido no mundo era iraniana.
A Revolução Iraniana levantou temores em Saddam Hussein de
uqe os xiitas iraquianos, a maioria da população, abraçasse o discurso de
Komeini e levasse caos para seu território. O resultado foi a guerra
Irã-Iraque, que levou Kssinger a revelar seu desejo de que ambos perdessem...
Embora os dois lados fossem declaradamente e radicalmente “anti-yankees”,
o lado de Saddam parecia o menos pior: era um governo secular, apenas
nacionalista árabe. O mais surpreendente mesmo foi a aula de “maquiavelismo” da
diplomacia Reagan, capaz de fazer enrubescerem alguns dos mais detestáveis
líderes políticos da história.
Basicamente, Washington vendeu armas e apoiou ambos. Vendeu
armas ao Irã, secretamente, com o fim de libertar reféns americanos, que
trabalhavam na Embaixada no país quando da revolução; mas também para arrecadar
fundos para a invasão americana da Nicaraguá, na América Central. Saddam, por
seu turno, recebia créditos e mercadorias que bateram 1 bilhão de dólares em
1989 – e não sofreu qualquer represália por usar armas químicas largamente, nem
por atacar um navio militar dos EUA.
A mesma realpolitik foi usada para fornecer apoio aos
mujahedins afegãos, com vistas a fazê-los derrotar a URSS no seu próprio Vietnã.
Os anos seguintes veriam negociações fortes para o
estabelecimento de bases militares na Arábia Saudita, o fim da presença soviética
na região – e no mundo – e a entrada em cena de Osama bin Ladden...
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Colosso” – Niall Ferguson