Imagine que você entre numa máquina do tempo e retorne até o
ano de 1750. Imagine agora que você capture um ser humano daquela época, o
enfie em sua máquina do tempo e avancem até o ano atual. Imagine-se
apresentando o mundo em que vivemos a esse cidadão de 1750. É provável que ao
reparar nos meio de transporte, nas máquinas, nos meio de comunicação, nas
formas de entretenimento, essa pessoa tenha uma sensação tão forte de surpresa
que poderia ser levada à beira da morte.
Certamente seria uma tarefa quase impossível a esse cidadão
do passado entender conceitos como dirigir um automóvel por uma autoestrada,
conversar com alguém que estava ontem mesmo do outro lado do Atlântico, assitir
a uma partida esportiva que está ocorrendo nesse momento no Japão, assistir a
um show de música que aconteceu em Woodstock, há 50 anos, gravar um momento
numa câmera de vídeo, ver sua própria localização no planeta Terra apenas
olhando para uma tela, nas suas mãos, conversar com alguém a milhares de
quilômetros de você etc.
Pois bem, agora imagine que aquele cidadão de 1750 tenha
agora sua própria máquina do tempo e, desejando se vingar pelo que fizeram com
ele, retorne o mesmo intervalo de tempo do experimento anterior, para 1500,
capture um cidadão daquela época e avance com ele até 1750. Ao apresentar o
mundo 250 anos depois, certamente a pessoa de 1500 sentisse uma grande sensação
de espanto, teria de entender muitos progressos, muitas coisas lhe soariam
quase ininteligíveis, mas não seria uma sensação de quase morrer de surpresa.
O cidadão de 1500 teria de aprender algumas conquistas
intelectuais no campo da astronomia e da física, ouviria sobre a moda política da
época, o imperialismo, teria de aprender alguns avanços em cartografia... e
nada muito além disso.
Pois bem, essa aceleração continua do progresso humano, que
aponta para pontos de inflexão que demarcam invenções disruptivas em intervalos
cada vez mais curtos foi batizada pelo futurista Ray Kurzweill de Lei dos
Retornos Acelerados: sociedades mais avançadas têm a habilidade de progredir a
uma taxa mais acelerada do que sociedades menos avançadas. Daí a sociedade do
século XVIII ter evoluídos mais rapidamente do que a sociedade do século XV; o
mesmo raciocínio vale para a sociedade atual em relação àquela de 250 anos
atrás.
O mesmo paralelo poderia ser aplicado para o filme De Volta
para o Futuro. A obra é de 1985, e o passado explorado no filme ocorreu em 1955.
Foi marcante a surpresa do personagem de Michael J. Fox ao ouvir as notícias da
“atualidade” da época, ao ver os preços dos bens, a falta de interesse no som
de uma guitarra distorcida, o desconhecimento das gírias...
Sem sombra de dúvidas, a surpresa do personagem foi
arrebatadora. Mas, imagine que o filme fosse refilmado hoje! Em relação a 1985,
os 30 anos seguintes veriam inovações como: PCs, internet, telefones
celulares... Enfim, talvez Marty McFly se sentisse mais perdido hoje do que em
1955.
E tudo isso vale para o futuro, claro. Segundo Kurzweill, o
progresso no século XXI será 5 vezes mais rápido do que no século XX: ou seja,
todo o progresso do século XX ocorreiria em apenas 20 anos do século XXI.. E se
acelerando. Entre 2000 e 2014, o famoso futurólogo teria observado um progresso
semelhante ao ocorrido em todo o século XX; e um outro período de salto
tecnológico ocorrerá até 2021 – ou seja, o intervalo de 14 anos foi reduzido
para 7 anos, apenas, seguindo uma curva exponencial.
Isso tudo aponta para um futuro em que saltos tecnológicos
como o ocorrido ao longo de todo o século XX ocorrerão dentro do mesmo ano, em
intervalos de poucos meses.
Ou seja, o mundo de 2050, por exemplo, poderá ser
inteiramente diferente do nosso mundo atual, talvez até irreconhecível para uma
pessoa de hoje em dia. Ouvir hoje que alguém está fazendo uma terapia para se
tornar imortal pode parecer uma insanidade absurda. Mas imagine o que uma
pessoa de 1750 pensaria de alguém que lhe dissesse que comprou um tíquete para
voar de avião de NY a Londres em algumas poucas horas...
Pois bem. O conceito de inteligência artificial é um desses
casos, que se apropriam aos poucos de nossas mentes, desde a suposição de que
se trata de um mero delírio até a normalidade com que se lida com tais avanços
no cotidiano. Certamente muitos pensaram tratar-se de uma abstração presente
nos filmes de ficção científica; contudo, muitos também ouviram esse conceito
ser entoado por um cientista respeitado e brilhante, ainda que você não tenha
entendido patavinas do que ele falou.
O passo-a-passo que você seguiu, trilhando os rumos da
inteligência artificial, quase seguramente foram esse:
1-
Coisa de filme “de Hollywood”: Star Wars; O
Exterminador do Futuro; 2001: uma Odisséia no Espaço; Jetson etc. Todos
abordaram inteligência artificial em seus roteiros, de uma forma ou de outra.
2-
Aos poucos, a tecnologia invade seu dia-a-dia: desde
uma função esperta adicionada à calculadora do seu telefone até um carro que se
dirige sozinho, aos poucos aquela “coisa de Hollywood” vai tomando parte em sua
rotina.
3-
Por fim, a inteligência artificial passa a usada
nas mais diversas aplicações sem que tomemos conhecimento disso. A expressão “inteligência
artificial” foi criada por John McCarthy em 1956. Ele mesmo já havia reclamado
do fato de que quando a IA se torna uma aplicação, as pessoas imediatamente
paravam de chamá-la por esse nome. Por esse motivo, segundo McCarthy, a
expressão IA sempre parecia algo futurista, com um quê de cultura pop,
denotando algo que nunca chega.
Um melhor entendimento sobre o assunto pode ser alcançado da
seguinte forma. Em primeiro lugar, esqueça robôs: estes são objetos que contêm
IA, em geral mimetizando seres humanos. Inteligência Artificial equivale ao
cérebro; o robô equivale ao corpo humano. Por exemplo: a assistente virtual
Siri é uma IA; a voz que ouvimos é apenas uma personificação dessa
inteligência. E não há sequer um robô envolvido.
Um outro conceito bem interessante é o de singularidade: o
momento no futuro em que a IA atingirá o mesmo patamar da inteligência humana.
A partir daí passaremos a viver num mundo completamente diferente do nosso;
ali, as leis que regem nossas vidas atuais não mais terão validade.
Bem, até aqui falamos em inteligência artificial
genericamente. Existem diferentes tipos ou formas de Inteligência artificial?
Sim existem.
1 – Inteligência Artificial Estreita – Artificial Narrow Intelligence:
também chamada Weak AI, ou IA Fraca, é uma IA nespecializada em uma área apenas.
Por exemplo: jogar xadrez – e nada mais.
2 – Inteligência Artificial Geral – General AI: ou Strong
AI, ou Ia de Nível Humano. Ela é capaz de realizar diversas tarefas
caracteristicamente humanas, e já está à beira da aplicação real. Conceitualmente,
é uma IA capaz de pensar, planejar, resolver problemas, pensar abstratamente,
compreender idéias complexas, aprender rapidamente e aprender por meio da
experiência.
3 –Superinteligência Artificial: IA capaz de superar os
seres humanos em quaisquer áreas do conhecimento: conhecimento científico,
conhecimentos gerais, habilidades sociais. É aqui que a IA começa a causar
calafrios nas pessoas, especialmente quando se fala em “imortalidade” das
máquinas frente aos seres humanos e em sua capacidade de nos extinguir da face
da Terra.
A travessia da Intelligência Artificial Estreita (ANI) até a
Superinteligência Artificial é uma
jornada, e estamos apenas no seu início; afinal, o nosso mundo atual já é
governado pela ANI. Senão vejamos:
·
Os nossos carros estão cheios de ANI Systems.
Desde o sistema de ABS, passando pela injeção eletrônica de combustível, até os
carros autônomos, lotados de ANI, a indústria automobilística tem investido
bastante nessas tecnologias.
·
Nossos telefones são pequenas usinas de ANI.
Seja navegando pelo seu aplicativo de mapas, ou quando você recebe sugestões de
músicas do Spotify, ou quando você lê a previsão do tempo para amanhã, ou
quando você interage com sua assistente de navegação, tudo isso é uma forma de
interação com sistemas de ANI.
·
Sabe o filtro de Spam do seu e-mail? Pois é, é
uma ANI. Ela aprende a identificar o que é Spam de acordo com seus hábitos, a
partir da inteligência inserida quando de sua concepção.
·
Sabe aquela coisa que acontece quando você
procura por um produto na Amazon e vê o mesmo produto na sessão “Recomendado
para você”, em outro site? E quando o Facebook sugere um amigo para seus
contatos e, de fato, trata-se de um amigo que você gostaria de adicionar?
Então, isso tudo é uma rede de sistemas ANI, trabalhando conjuntamente, de
forma a uma comunicar a outra sobre quem você é, do que você gosta e, assim,
podem decidir o que é relevante para você. O mesmo vale para aquela sessão da
Amazon: Pessoas que compraram isso também compraram aquilo. É um ANI cuja
função é reunir o máximo de informações sobre você e sintetizá-las de maneira
inteligível , retornando informações que possam levá-lo a comprar mais.
·
Outra aplicação de ANI ocorre no Google
Tradutor. Ele conta também reconhecimento de voz e diversas outras aplicações
em ANI.
·
Quando um avião pousa, é uma inteligência
artificial quem decide qual Portão será usado no Terminal. Aliás, o preço das
passagens aéreas também é decidido por IA.
·
Os melhores jogadores virtuais de xadrez, gamão,
palavras-cruzadas, damas... Virtuais do mundo são meras aplicações de ANI.
·
Aliás, o buscador Google é um cérebro ANI. O
mesmo vale para as Newsfeed do Facebook.
·
Citamos aplicações comerciais largamente
conhecidas. Poderíamos descrever os mais diversos usos nos setores militar,
industrial, financeiro (mais da metade das ações transacionadas nos EUA ocorrem
por meio de algoritmos de alta freqüência), médico (algoritmos que diagnosticam
doenças) e no entretenimento (o IBM Watson ganha de qualquer ser humano em
jogos de quizz).
Essas aplicações relativamente
simples já são capazes de causar alguns transtornos quando algo dá errado:
vimos variações assombrosas nos mercados financeiros devido a algoritmos de
alta freqüência mal programados; usina nuclear desligada automaticamente sem motivo
aparente.
Imagine quando a IA estiver ainda
mais presente em nossas vidas. A ver...
Rubem L. de F. Auto
https://waitbutwhy.com/2015/01/artificial-intelligence-revolution-1.html
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