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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

LIBERDADE NÃO É DADA, É LUTADA E SUADA – REVOLUÇÃO AMERICANA



A Revolução que resultou na fundação da República dos Estados Unidos da América pode ser classificada de duas maneiras: alguns diriam que foi uma guerra cujas batalhas se estenderam entre 1775 e 1783, opondo colonos britânicos e sua metrópole desejosa da manutenção de seu poder; outros buscariam razões e justificativas auscultando um período maior de tempo. Seguiremos segundo o último grupo.

A Revolução americana envolveu um conjunto de 13 colônias britânicas que ocupavam o lado oriental da América do Norte. Essas colônias não tinham autonomia, haja vista não estarem representadas no Parlamento de Westminter. Por outro lado, contavam com um Parlamento local, cujas decisões deveriam ser referendadas na metrópole. Embora os colonos reclamassem maior autonomia, o rei George III podava qualquer pretensão nesse sentido.

Este estado de coisas só começou a mostrar mudanças a Guerra dos Sete Anos. Essa série de conflitos marcou uma verdadeira guerra mundial entre França e Grã Bretanha, incluindo metrópoles e colônias localizadas em todo o mundo. Os eventos relacionados àquela guerra ocorridos na América do Norte ficaram conhecidos como Guerra Franco-Indígena. Os colonos lutaram lado a lado com os soldados britânicos, como súditos leais e orgulhosos da Coroa britânica.

Os conflitos tiveram fim em 1763, tendo os britânicos como vencedores. Mas a Coroa britânica estava falida. Para que as forças de segurança britânicas continuassem a proteger as colônias americanas, estas deveriam pagar os custos desse serviço: isto é, deveriam pagar impostos. Além disso, a Coroa decidiu que novos assentamentos a Oeste, além dos montes Apalache, estavam vedados – com isso evitavam aumento de despesas e novos conflitos envolvendo os índios locais.

Em 1765, uma nova medida teratológica foi enfiada goela abaixo dos colonos: a Lei do Selo exigia a presença de um selo em todos os documentos legais, dentre outros. A revolta foi grande, especialmente por não se consultar em momento algum a opinião dos colonos atingidos por aquela lei.  

Decididos a não permitir serem tratados como cidadão de segunda classe, exigiram que somente a Assembleia local poderia aprovar a criação de impostos: “Não à taxação sem representação” passou a ser o slogan de protesto.

A Lei do Selo foi revogada. Mas o Parlamento britânico não aceitou a exigência de autonomia para criação de impostos e aprovou uma série de impostos sobre bens importados pelas colônias.
A revolta dos colonos atingiu novos patamares. Agora os colonos se autodenominavam “ingleses nascidos livres” e viam as medidas da metrópole como agressões gratuitas de uma tirania corrupta.

Em face do clima político em plena ebulição, Westminster revogou todos os impostos incidentes sobre importações pelas colônias, exceto um: o imposto sobre o chá, produto importado do Oriente.
Pois bem. Em 1773, almejando resolver os problemas financeiros que solapavam a Companhia das Índias Orientais, uma imensa quantidade de chá foi enviada às colônias americanas – tudo agravado com o infame imposto de importação.

Este foi o estopim para o evento que ficaria conhecido como Tea Party, ou Festa do Chá - que se tornaria o Partido do Chá, denominação usada para o Partido Conservador americano. Este fato ocorreu em Boston, cidade da então colônia de Massachusetts. Um grupo autodenominado de patriotas invadiu uma embarcação que transportava chá, todos fantasiados de índios nativos, e jogaram toda a carga no mar.

Indignados com a atitude rebelde, o governo inglês impôs medidas repressivas contra a colônia de Massachusetts. Em resposta, os representantes das colônias realizaram o Primeiro Congresso Continental, onde decidiram por banir todas as importações oriundas da Grã Bretanha. Essa medida levou a um inevitável conflito armado, em 19 de abril de 1775, quando soldados britânicos que procuravam um depósito de armas dos colonos trocaram tiros com fazendeiros rebeldes.

Os colonos passaram imediatamente a serem considerados inimigos: o rei George enviou tropas inglesas, com reforço de mercenários alemães, para darem um fim nas convulsões sociais que despontavam.

Diante daquela declaração de guerra, um Segundo Congresso Continental teve lugar, em setembro de 1775. Em 1776, no dia 4 de julho, as treze colônias endossaram um documento: a Declaração de Independência.

Bom, como se sabe, declarar a independência exige coragem; conquistá-la, exige sangue. A Grã Bretanha era àquela altura o maior império do planeta, contava com a maior marinha e tinha colônias em torno de todo o Planeta. Suas forças militares eram disciplinadas, bem treinadas, muitíssimo bem aparelhadas e, como se não bastasse, um número significativo de colonos permaneceram fiéis à Coroa e até lutaram ao lado dos soldados ingleses.

Entretanto, nem mesmo esses motivos intimidaram os bravos “ingleses nascidos livres”. Organizaram-se em milícias (os patriotas), que foram treinadas e tornadas tropas eficazes pelo seu comandante, George Washington (primeiro presidente dos EUA). Duas enormes vantagens estavam ao lado dos milicianos: conheciam muito bem o terreno em que seriam disputadas as batalhas e dispunham de linhas de abastecimento rápidas e confiáveis, enquanto seus adversários tinham de cruzar o Atlântico.

Quando, em 1777, os empedernidos colonos derrotaram os cambaleantes ingleses em Saratoga, os franceses se uniram aos rebeldes e transformaram aquela luta de independência numa nova guerra imperialista que opunha os dois maiores inimigos do século XVIII.

Então, 1783, a Grã Bretanha foi obrigada a reconhecer a independência das 13 Colônias, após a assinatura do Tratado de Paris – e de uma lágrima escorrida dos olhos lacrimejantes de um incrédulo William Pitt.

Nasciam então os Estados Unidos da América. Mas logo ficaria claro que o fim da guerra marcava o início de uma longa discussão acerca do tipo de nação que fundariam. O grande ponto de discórdia era a existência de um governo central – não queriam trocar uma tirania por outra. Os Artigos da Confederação, desde 1781 previam a  união dos Estados, mas muitos Estados (ex-colônias) relutavam se submeterem às decisões do governo central. Duas facções se engalfinhavam: os federalistas, que pregavam a favor de um governo central forte; e os antifederalistas, que temiam a perda de autonomia dos estados.

Em 1787, uma Convenção Constitucional realizada na Filadélfia chegou a um meio termo e redigiu uma Constituição Federal. Este livro foi redigido por um jovem agricultor da Virgínia: Thomas Jefferson (terceiro presidente dos EUA). Embora escravagista e contrário à industrialização do país, expressou sentimentos liberais e profundamente humanos  quando fez constar: “Consideramos que essas verdades são evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais; que são dotados por seu Criador de direitos inerentes e inalienáveis; que entre eles estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade...”

Da queda-de-braço entre federalistas e antifederalistas, os primeiros saíram-se vitoriosos. A República dos EUA nasceu na forma de um governo central forte, separado em três Poderes independentes e harmônicos, sob a vigília atenta e perene dos estados e do povo.

A Constituição foi ratificada em 1788. A conciliação com os antifederalistas deu vazão à Declaração de Direitos, composta pelas 10 primeiros Emendas à Constituição: estavam garantidos a liberdade de religião, de opinião, de imprensa, o devido processo legal, dentre outros.

Todavia, um ponto permaneceu obscuro e as rusgas surgidas em torno dele marcariam os próximos 100 anos daquela República recém-nascida: a escravidão.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “50 Ideias de História do Mundo”

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