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segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

FAÇA AMOR, NÃO FAÇA GUERRA! BRASIL NA 1ª GUERRA MUNDIAL


A I Guerra Mundial foi um conflito que se estendeu do ano de 1914 a 1918. O Brasil tomou parte no entrevero a partir de 1917, do dia 5 de abril especificamente. Até então o país decidira pela neutralidade. O que mudou o cenário foi o afundamento do navio a vapor Paraná, integrante da Marinha Mercante do Brasil e que levava consigo um carregamento de café por ocasião do ataque, próximo ao litoral da França, perpetrado por um submarino alemão. Três marinheiros brasileiros morreram em decorrência.

As notícias da tragédia fizeram despertar a ira dos brasileiros contra a Alemanha: lojas e empreendimentos de alemães foram atacados, por exemplo.

No dia 20 de maio próximo, outro ataque, desta feita contra o navio Tijuca, igualmente navegando águas francesas, novamente um ataque de submarino alemão.

Apesar dessas ofensivas, o governo brasileiro não se decidiu inicialmente pela declaração de guerra contra o Império alemão; preferiu, em vez disso, fazer uma singela suspensão das relações bilaterais, em 1ª de junho de 1917.

Embora o Brasil tenha se aliado contra a Tríplice Aliança (Alemanha e Império Austro-Húngaro), não foram enviadas tropas tupiniquins nesse momento.

A resposta do Kaiser foi devastadora: no dia 26 de maior afundaram o navio Lapa; no dia 18 de outubro atacaram o navio Macau; no dia 23 de outubro o mesmo Macau foi atacado novamente, com o sequestro do comandante; em 1º de novembro, os navios Acari e Guaíba foram atacados. Todos por submarinos alemães.

Diante desses numerosos ataques, o presidente da República à época, Wenceslau Braz, editou a Lei da Guerra, de 16 de novembro de 1917. Dentre outras medidas, foram cassadas as licenças que permitiam o funcionamento de bancos e companhias de seguro pertencentes a alemães.

O clima bélico que tomou conta das relações internacionais entre Brasil e Alemanha sucedeu um longo período de relações amigáveis e de trocas comerciais e culturais intensas. O Brasil enviou durante muitos anos seus oficiais para treinamento junto ao Exército alemão, que já ostentava a reputação de mais eficiente e bem organizado do mundo. Ainda, grande parte das encomendas bélicas brasileiras era adquirida de fornecedores alemães.

A população se dividiu inicialmente. Germanófilos (entusiastas da adesão ao lado alemão do conflito) e aliadófilos (entusiastas da adesão ao lado oposto) disputavam simpatizantes para suas causas. Dentre os aliadófilos, perfilavam-se nomes de intelectuais como o de Ruy Barbosa. Para recrutar mais reforços para seu lado, os aliadófilos criaram associações, como a Liga de Defesa Nacional e a Liga Brasileira pelos Aliados, que levavam suas argumentações para todo o país. Mas foi só mesmo após o afundamento ostensivo de navios brasileiros e da consequente morte de cidadãos brasileiros que o clima antigermânico tomou conta dos cidadãos. Houve de depredações de imóveis de imigrantes alemães a manifestações de rua antigermânicas.  

Caso curioso foi o do navio Rio Branco, que o governo brasileiro cedeu à Inglaterra em meio ao esforço de guerra e que terminou por ser afundado pelo inimigo. Felizmente não havia marinheiros brasileiros a bordo. Este caso não despertou a ira pública, diferente do ataque seguinte, contra o navio Paraná, conforme já citado.

O Brasil havia se decidido por entrar no conflito. Mas restava uma pergunta: com que armas lutar? As Forças Armadas brasileiras não contavam com treinamento nem com tecnologia bélica que lhe habilitasse a participação naquela guerra. Seriamos como a Polônia, enviando tropas a cavalo para combater tanques na II Guerra Mundial? Essa foi a razão para que o Brasil se limitasse ao papel de fornecer suporte para as tropas envolvidas na guerra. O exército do Brasil contava com 54 mil homens, mas seu potencial estava muito reduzido após décadas do descaso liberal da República Velha.  

Já em plenas ações de guerra, o Brasil enviou uma divisão naval que contava com embarcações do Rio Grande do Sul, da Bahia, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, do Piauí e de Santa Catarina, em 16 de maio de 1918.

Apesar desse envio, na Conferência Interaliada em Paris, no fim de 1917, ficou decidido que a maior contribuição do Brasil no âmbito do conflito mundial se daria nas necessidades de saúde. Afinal, aquela Guerra se caracterizou pela carnificina nos campos de batalha, o que elevou assombrosamente as demandas por médicos, enfermeiros, farmacêuticos. Além disso, a gripe espanhola se tornou epidêmica na Europa.

A Missão Militar Médica brasileira abriu um hospital em Paris, que atendeu as vítimas tanto das balas quanto do vírus.  

O governo brasileiro também ofereceu pilotos, navios militares e estrutura médica para a região do estreito de Gibraltar, local estrategicamente localizado na entrada do Mediterrâneo. Lá, um surto de gripe espanhola eliminava soldados e civis mais rapidamente do que os tiros inimigos.    

Outro ponto interessante: uma junta de soldados brasileiros atuou no conflito como observadores, ao lado dos franceses. Outro grupo, composto por oficiais da marinha, tomou treinamentos na Inglaterra, na Itália e nos EUA.

A Marinha do Brasil contribuiu ainda enviando uma Divisão Naval de Operações de Guerra para patrulhar a costa da África, caçando submarinos alemães, pois o estrago que eles causavam já tinha levado à escassez de embarcações de guerra dos Aliados. Essa divisão sofreu perdas pesadíssimas em função de um surto de gripe espanhola abordo.

Além disso, até o fim do conflito, o governo brasileiro confiscou 45 navios alemães quando navegavam águas brasileiras – a título de indenização.

Os navios brasileiros enviados a Gibraltar tinham a função de evitar que submarinos alemães adentrassem o Mediterrâneo, evitando que repetissem ali o massacre de navios que estavam fazendo no Atlântico. Tinham também a missão de oferecer o apoio logístico das tropas Aliadas na região.

Foi em novembro de 1918 que o Brasil se viu às voltas com um “conflito” que levou o jocoso nome de “batalha das toninhas”. Faltava pouco para a decretação do cessar-fogo, quando o cruzador Bahia foi alertado da presença de submarinos U-Boats na região do Gibraltar. À noite, um soldado avistou o que parecia ser um periscópio e alertou toda a tripulação do perigo que todos estavam correndo. Os soldados tomaram posição com suas armas e fizeram uma sessão de fogo cerrado contra o “inimigo”, até que perceberam tratar-se tão-somente de um cardume de toninhas, uma espécie de golfinho.

Essa embarcação, o Bahia, teria um fim bastante infeliz em 1945, quando um acidente com munição durante um teste de armas levou à morte 339 membros da tripulação.

Além das já citadas, tropas de brasileiros combateram na região da Jutlândia, entre Dinamarca e Alemanha, além de regiões da Europa ocidental, local principal dos conflitos da I Guerra.

No cômputo geral, embora os números não sejam muito precisos, cerca de 2 mil brasileiros tomaram parte no conflito mundial; desses, cerca de 550 sucumbiram. A maior parte vitimizada pela gripe espanhola. A primeira baixa de um brasileiro se deu em Londres, fuzilado por ingleses. Nascido na França, o soldado brasileiro fazia parte de uma rede de espionagem alemã: foi descoberto e devidamente condenado à morte.

O período da I Guerra Mundial também foi marcado por um crescimento significativo da economia brasileira. A infestação de submarinos alemães em águas internacionais transformou a travessia do Atlântico numa aventura quase suicida. Em razão disso, o comércio internacional foi desmantelado e produtos brasileiros fundamentais, como o café, acumulavam perdas em estoques nunca exportados. Tais perdas inclusive foram denunciadas por ocasião do Tratado de Versalhes, em 1919.

Esses fatos levaram à perda do poder de compra do cidadão, em razão do aumento dos preços das mercadorias no varejo, em regra, importadas. A insatisfação popular levou ao fortalecimento dos movimentos sindicais e da classe trabalhadora.

Essa crise abriu espaço para o movimento de industrialização do país, cuja estopim foram os produtos manufaturados destinados a substituir seus equivalentes cuja importação estava suspensa. Embora o capital inicial desses investimentos saíssem do bolso de agricultores tradicionais, a perda de poder político do campo em relação às cidades levou a República Velha, do café-com-leite, do compadrio, à degradação e a seu fim, em 1930.

Por outro lado, a demanda dos países europeus por matérias-primas para o fabrico de armamentos levou ao beneficiamento da pauta de exportações do Brasil, agregando principalmente a borracha aos produtos que mais traziam dividas para o país.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “O Brasil nas Guerras Mundiais: uma história que deveria ser honrada" 

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