A I Guerra Mundial foi um conflito que se estendeu do ano de
1914 a 1918. O Brasil tomou parte no entrevero a partir de 1917, do dia 5 de
abril especificamente. Até então o país decidira pela neutralidade. O que mudou
o cenário foi o afundamento do navio a vapor Paraná, integrante da Marinha
Mercante do Brasil e que levava consigo um carregamento de café por ocasião do
ataque, próximo ao litoral da França, perpetrado por um submarino alemão. Três
marinheiros brasileiros morreram em decorrência.
As notícias da tragédia fizeram despertar a ira dos
brasileiros contra a Alemanha: lojas e empreendimentos de alemães foram
atacados, por exemplo.
No dia 20 de maio próximo, outro ataque, desta feita contra
o navio Tijuca, igualmente navegando águas francesas, novamente um ataque de
submarino alemão.
Apesar dessas ofensivas, o governo brasileiro não se decidiu
inicialmente pela declaração de guerra contra o Império alemão; preferiu, em
vez disso, fazer uma singela suspensão das relações bilaterais, em 1ª de junho
de 1917.
Embora o Brasil tenha se aliado contra a Tríplice Aliança
(Alemanha e Império Austro-Húngaro), não foram enviadas tropas tupiniquins
nesse momento.
A resposta do Kaiser foi devastadora: no dia 26 de maior
afundaram o navio Lapa; no dia 18 de outubro atacaram o navio Macau; no dia 23
de outubro o mesmo Macau foi atacado novamente, com o sequestro do comandante;
em 1º de novembro, os navios Acari e Guaíba foram atacados. Todos por
submarinos alemães.
Diante desses numerosos ataques, o presidente da República à
época, Wenceslau Braz, editou a Lei da Guerra, de 16 de novembro de 1917.
Dentre outras medidas, foram cassadas as licenças que permitiam o funcionamento
de bancos e companhias de seguro pertencentes a alemães.
O clima bélico que tomou conta das relações internacionais
entre Brasil e Alemanha sucedeu um longo período de relações amigáveis e de
trocas comerciais e culturais intensas. O Brasil enviou durante muitos anos
seus oficiais para treinamento junto ao Exército alemão, que já ostentava a
reputação de mais eficiente e bem organizado do mundo. Ainda, grande parte das
encomendas bélicas brasileiras era adquirida de fornecedores alemães.
A população se dividiu inicialmente. Germanófilos (entusiastas
da adesão ao lado alemão do conflito) e aliadófilos (entusiastas da adesão ao
lado oposto) disputavam simpatizantes para suas causas. Dentre os aliadófilos,
perfilavam-se nomes de intelectuais como o de Ruy Barbosa. Para recrutar mais
reforços para seu lado, os aliadófilos criaram associações, como a Liga de
Defesa Nacional e a Liga Brasileira pelos Aliados, que levavam suas
argumentações para todo o país. Mas foi só mesmo após o afundamento ostensivo
de navios brasileiros e da consequente morte de cidadãos brasileiros que o
clima antigermânico tomou conta dos cidadãos. Houve de depredações de imóveis
de imigrantes alemães a manifestações de rua antigermânicas.
Caso curioso foi o do navio Rio Branco, que o governo brasileiro
cedeu à Inglaterra em meio ao esforço de guerra e que terminou por ser afundado
pelo inimigo. Felizmente não havia marinheiros brasileiros a bordo. Este caso
não despertou a ira pública, diferente do ataque seguinte, contra o navio
Paraná, conforme já citado.
O Brasil havia se decidido por entrar no conflito. Mas
restava uma pergunta: com que armas lutar? As Forças Armadas brasileiras não
contavam com treinamento nem com tecnologia bélica que lhe habilitasse a
participação naquela guerra. Seriamos como a Polônia, enviando tropas a cavalo
para combater tanques na II Guerra Mundial? Essa foi a razão para que o Brasil
se limitasse ao papel de fornecer suporte para as tropas envolvidas na guerra.
O exército do Brasil contava com 54 mil homens, mas seu potencial estava muito
reduzido após décadas do descaso liberal da República Velha.
Já em plenas ações de guerra, o Brasil enviou uma divisão
naval que contava com embarcações do Rio Grande do Sul, da Bahia, da Paraíba,
do Rio Grande do Norte, do Piauí e de Santa Catarina, em 16 de maio de 1918.
Apesar desse envio, na Conferência Interaliada em Paris, no
fim de 1917, ficou decidido que a maior contribuição do Brasil no âmbito do
conflito mundial se daria nas necessidades de saúde. Afinal, aquela Guerra se
caracterizou pela carnificina nos campos de batalha, o que elevou assombrosamente
as demandas por médicos, enfermeiros, farmacêuticos. Além disso, a gripe
espanhola se tornou epidêmica na Europa.
A Missão Militar Médica brasileira abriu um hospital em
Paris, que atendeu as vítimas tanto das balas quanto do vírus.
O governo brasileiro também ofereceu pilotos, navios
militares e estrutura médica para a região do estreito de Gibraltar, local
estrategicamente localizado na entrada do Mediterrâneo. Lá, um surto de gripe
espanhola eliminava soldados e civis mais rapidamente do que os tiros inimigos.
Outro ponto interessante: uma junta de soldados brasileiros
atuou no conflito como observadores, ao lado dos franceses. Outro grupo,
composto por oficiais da marinha, tomou treinamentos na Inglaterra, na Itália e
nos EUA.
A Marinha do Brasil contribuiu ainda enviando uma Divisão
Naval de Operações de Guerra para patrulhar a costa da África, caçando
submarinos alemães, pois o estrago que eles causavam já tinha levado à escassez
de embarcações de guerra dos Aliados. Essa divisão sofreu perdas pesadíssimas
em função de um surto de gripe espanhola abordo.
Além disso, até o fim do conflito, o governo brasileiro
confiscou 45 navios alemães quando navegavam águas brasileiras – a título de
indenização.
Os navios brasileiros enviados a Gibraltar tinham a função
de evitar que submarinos alemães adentrassem o Mediterrâneo, evitando que repetissem
ali o massacre de navios que estavam fazendo no Atlântico. Tinham também a
missão de oferecer o apoio logístico das tropas Aliadas na região.
Foi em novembro de 1918 que o Brasil se viu às voltas com um
“conflito” que levou o jocoso nome de “batalha das toninhas”. Faltava pouco
para a decretação do cessar-fogo, quando o cruzador Bahia foi alertado da
presença de submarinos U-Boats na região do Gibraltar. À noite, um soldado
avistou o que parecia ser um periscópio e alertou toda a tripulação do perigo
que todos estavam correndo. Os soldados tomaram posição com suas armas e
fizeram uma sessão de fogo cerrado contra o “inimigo”, até que perceberam
tratar-se tão-somente de um cardume de toninhas, uma espécie de golfinho.
Essa embarcação, o Bahia, teria um fim bastante infeliz em
1945, quando um acidente com munição durante um teste de armas levou à morte
339 membros da tripulação.
Além das já citadas, tropas de brasileiros combateram na
região da Jutlândia, entre Dinamarca e Alemanha, além de regiões da Europa
ocidental, local principal dos conflitos da I Guerra.
No cômputo geral, embora os números não sejam muito
precisos, cerca de 2 mil brasileiros tomaram parte no conflito mundial; desses,
cerca de 550 sucumbiram. A maior parte vitimizada pela gripe espanhola. A
primeira baixa de um brasileiro se deu em Londres, fuzilado por ingleses.
Nascido na França, o soldado brasileiro fazia parte de uma rede de espionagem
alemã: foi descoberto e devidamente condenado à morte.
O período da I Guerra Mundial também foi marcado por um
crescimento significativo da economia brasileira. A infestação de submarinos
alemães em águas internacionais transformou a travessia do Atlântico numa
aventura quase suicida. Em razão disso, o comércio internacional foi desmantelado
e produtos brasileiros fundamentais, como o café, acumulavam perdas em estoques
nunca exportados. Tais perdas inclusive foram denunciadas por ocasião do Tratado
de Versalhes, em 1919.
Esses fatos levaram à perda do poder de compra do cidadão,
em razão do aumento dos preços das mercadorias no varejo, em regra, importadas.
A insatisfação popular levou ao fortalecimento dos movimentos sindicais e da
classe trabalhadora.
Essa crise abriu espaço para o movimento de industrialização
do país, cuja estopim foram os produtos manufaturados destinados a substituir
seus equivalentes cuja importação estava suspensa. Embora o capital inicial
desses investimentos saíssem do bolso de agricultores tradicionais, a perda de poder
político do campo em relação às cidades levou a República Velha, do
café-com-leite, do compadrio, à degradação e a seu fim, em 1930.
Por outro lado, a demanda dos países europeus por
matérias-primas para o fabrico de armamentos levou ao beneficiamento da pauta
de exportações do Brasil, agregando principalmente a borracha aos produtos que
mais traziam dividas para o país.
Rubem L. de F. Auto
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