Retornando no tempo até 4 bilhões de anos atrás, o que
chamamos de vida não passava de células isoladas e de estrutura bastante
rudimentar. Formas de vida mais complexas, como os vertebrados, surgiram apenas
cerca de 500 milhões de anos atrás, segundo os registros fósseis.
Nesse período, era abundante a variedade de peixes, anfíbios
e répteis. E foi no final deste período, há cerca de 250 milhões de anos, que
surgiram os mamíferos. Crê-se que os continentes estavam juntos, formando uma única
massa de terra chamada Pangeia. Iniciado o afastamento, causado por atividades no
interior da crosta terrestre, e após vulcões e terremotos deste decorrentes
darem origem a cordilheiras e outros acidentes geográficos, há 65 milhões de
anos os continentes tomaram a forma como os conhecemos atualmente.
A Era Mesozoica se iniciou há 225 milhões de anos na
sequência de um evento de extinção de espécies, que vitimou os primeiros
primatas, que acabavam de dar o ar de sua existência. Esta Era teve fim há 65
milhões de anos, a cargo de outro evento de extinção. Foi neste período que os
dinossauros dominaram todo o mundo, no ar e no mar. Também foi aqui que os
primeiros mamíferos definitivos, isto é, sucessores daqueles extintos no início
do Mesozoico.
Os fósseis de mamíferos mais antigos já encontrados datam de
70 milhões de anos atrás. Trata-se de um mamífero placentário. A Era seguinte,
o Cenozoico, viu essa adaptação evolutiva se estender a inúmeros outros
mamíferos.
O evento de extinção ocorrido no fim do Mesozoico dizimou do
planeta a maior parte das formas de vida existentes – os dinossauros são apenas
o exemplo mais patente. Este fato levou à disponibilização de recursos
alimentares abundantes aos sobreviventes. Foi o caso de um pequeno roedor, um
feliz mamífero que deixaria uma plêiade de descendentes.
Os mamíferos são o caso mais bem sucedido de como uma
espécie pode se adaptar ao ambiente que o cerca. A razão da desse sucesso
reside nos seus cérebros mais desenvolvidos, que permitem o processamento de
uma quantidade maior de informação. Grande parte dessa capacidade extra adveio
do córtex e do neocórtex maiores. Além disso, rusgas e convoluções que formam
sulcos no cérebro aumentaram a área da superfície cerebral, possibilitando um
acúmulo maior de neurônios.
Essa evolução do cérebro é consequência direta do aumento do
período de gestação. Quanto maior o tempo para o desenvolvimento do feto, mais
complexo se torna o organismo. Além disso, mamíferos marsupiais vivem um
segundo estágio de crescimento, agora fora do útero, durante o qual ocorre a
amamentação se encarrega de dar às estruturas neurais mais capilaridade.
Deve-se ter e mente que as interações sociais que acometem
os mamíferos nesse estágio da vida incentivam o desenvolvimento cerebral.
Outra ferramenta poderosa no desenvolvimento dos mamíferos
foi o surgimento de uma aracada dentária variada e funcional. Dentes incisivos
para o corte, dentes caninos para morder e perfurar, dentes molares e
pré-molares para triturar. Agora poderiam ter acesso a uma variedade bem maior
de alimentos.
A capacidade de manter a temperatura corporal interna levou
à povoação de diversas partes do planeta, onde a exposição ao sol é
dificultada. Assim, ainda mais recursos naturais estavam à sua disposição.
Durante o Paleoceno, surgiram os primeiros primatas, embora
os debates a esse respeito ainda não estejam totalmente finalizados. Mas,
durante o Eoceno (de 55 a 34 milhões de anos atrás) mais de 200 espécies de
primatas já foram reconhecidas. Essas evidências apontam que os primatas já
estavam totalmente disseminados por todo o globo. Mas, no final do Eoceno,
foram todos eles extintos.
Foi então que o final do Eoceno e o começo do Oligoceno, entre
34 e 23 milhões de anos atrás, viu o surgimento dos primeiros antropoides,
subordem que inclui macacos, símio e humanos.
A deriva dos continentes ajudou a separar espécies que
passaram a se desenvolver de maneira independente, no Velho e no Novo Mundo.
Contudo, alguns creem que macacos primitivos tenham feito a travessia em galhos
e troncos que funcionavam como jangadas.
O Mioceno, de 23 a 5 milhões de anos atrás, viu o
aparecimento dos primeiros hominídeos. Eles eram de diversas espécies e estavam
espalhados geograficamente pela Ásia, África e Europa. Devido a essa dispersão
e às condições típicas de cada região, avanços evolutivos ocorreram.
A datação de fósseis de hominídeos é prolífica. Os primeiros
fósseis de hominídeos encontrados na África datam de 23 a 14 milhões de anos
atrás; na Europa, entre 13 e 11 milhões de anos; na Ásia, entre 16 e 7 milhões
de anos atrás. Esses hominídeos eram corpulentos, deixando assim a era dos
gibões para trás.
A principal característica típica dos hominídeos em relação
a seus primos primatas e o bipedismo. Andar sobre duas pernas é algo que os
macacos modernos fazem eventualmente, por distâncias curtas e de maneira bem
desajeitada. Já os hominídeos eram capazes de caminhar por enormes distâncias,
o que lhes economizava energia, por ser uma meneira de se locomover gastando
menos energia.
É difícil saber qual evento especificamente levou os
ancestrais dos humanos a descer das árvores e explorar a savana, mas esse fato
expôs a superioridade da caminhada sobre as habilidades de se dependurar em
árvores. Provavelmente foi algum acontecimento relacionado a mudanças
climáticas, quando a área ocupada por florestas se reduziu e em seu lugar
surgiram pastagens, ocupadas por arbustos. Além disso, andar sobre duas pernas
torna a vigilância contra predadores mais eficiente.
Outra vantagem anotada pelo bipedismo é a menor exposição do
corpo aos raios solares, especialmente quando o sol está a pino. Isso ajuda a
manter a temperatura corporal em níveis mais baixos. Foi essa a vantagem que
levou ao aprimoramento das técnicas de caça, quando hominídeos perseguiam
animais de grande porte à distância, de forma a mantê-los sempre em movimento.
O superaquecimento que causavam em animais sem a capacidade de manter a
temperatura corporal baixa tornava a presa fácil para o caçador.
Deve-se observar que o bipedismo propicia que o indivíduo
use seus braços para carregar coisas enquanto se movimenta. Esse fato levou ao
desenvolvimento das habilidades manuais, que culminaram no desenvolvimento de
ferramentas. Diz-se que aqui surgiu a evolução boi-cultural, quando a vantagem
dos indivíduos decorre do ambiente cultural em que estão imersos.
As ferramentas logo se transformaram em armas de caça e, de
fato, os hominídeos se tornaram caçadores invejáveis, e assim foi cruzado o
rubicão que separava os seres comedores de carniça dos caçadores ricos em
proteínas e calorias.
Com o tempo, hominídeos e primatas aprofundaram o fosso que
os separam. Os pés perderam a capacidade de agarrar troncos e se tornaram capazes
de suportar o peso do corpo durante as caminhadas, as pernas propiciaram
maiores passadas, os joelhos passaram a ajudar o equilíbrio corporal; caixa
torácica e pélvis passaram a suportar melhor o peso dos órgãos; o buraco
occipital possibilitou o apoio para o crânio enquanto eretos. As curvas da coluna
cervical possibilitaram a manutenção do centro de gravidade acima da pélvis.
Mas isso não é tudo. Muito mais há a ser descoberto.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro: “Os neandertais e cro-magnon: a história e o
legado do primeiro povo a migrar para a Europa”
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