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quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

CONSTANTES EVOLUÇÕES, APESAR DOS INSISTENTES RETROCESSOS



Retornando no tempo até 4 bilhões de anos atrás, o que chamamos de vida não passava de células isoladas e de estrutura bastante rudimentar. Formas de vida mais complexas, como os vertebrados, surgiram apenas cerca de 500 milhões de anos atrás, segundo os registros fósseis.

Nesse período, era abundante a variedade de peixes, anfíbios e répteis. E foi no final deste período, há cerca de 250 milhões de anos, que surgiram os mamíferos. Crê-se que os continentes estavam juntos, formando uma única massa de terra chamada Pangeia. Iniciado o afastamento, causado por atividades no interior da crosta terrestre, e após vulcões e terremotos deste decorrentes darem origem a cordilheiras e outros acidentes geográficos, há 65 milhões de anos os continentes tomaram a forma como os conhecemos atualmente.

A Era Mesozoica se iniciou há 225 milhões de anos na sequência de um evento de extinção de espécies, que vitimou os primeiros primatas, que acabavam de dar o ar de sua existência. Esta Era teve fim há 65 milhões de anos, a cargo de outro evento de extinção. Foi neste período que os dinossauros dominaram todo o mundo, no ar e no mar. Também foi aqui que os primeiros mamíferos definitivos, isto é, sucessores daqueles extintos no início do Mesozoico.

Os fósseis de mamíferos mais antigos já encontrados datam de 70 milhões de anos atrás. Trata-se de um mamífero placentário. A Era seguinte, o Cenozoico, viu essa adaptação evolutiva se estender a inúmeros outros mamíferos.

O evento de extinção ocorrido no fim do Mesozoico dizimou do planeta a maior parte das formas de vida existentes – os dinossauros são apenas o exemplo mais patente. Este fato levou à disponibilização de recursos alimentares abundantes aos sobreviventes. Foi o caso de um pequeno roedor, um feliz mamífero que deixaria uma plêiade de descendentes.

Os mamíferos são o caso mais bem sucedido de como uma espécie pode se adaptar ao ambiente que o cerca. A razão da desse sucesso reside nos seus cérebros mais desenvolvidos, que permitem o processamento de uma quantidade maior de informação. Grande parte dessa capacidade extra adveio do córtex e do neocórtex maiores. Além disso, rusgas e convoluções que formam sulcos no cérebro aumentaram a área da superfície cerebral, possibilitando um acúmulo maior de neurônios.

Essa evolução do cérebro é consequência direta do aumento do período de gestação. Quanto maior o tempo para o desenvolvimento do feto, mais complexo se torna o organismo. Além disso, mamíferos marsupiais vivem um segundo estágio de crescimento, agora fora do útero, durante o qual ocorre a amamentação se encarrega de dar às estruturas neurais mais capilaridade.

Deve-se ter e mente que as interações sociais que acometem os mamíferos nesse estágio da vida incentivam o desenvolvimento cerebral.

Outra ferramenta poderosa no desenvolvimento dos mamíferos foi o surgimento de uma aracada dentária variada e funcional. Dentes incisivos para o corte, dentes caninos para morder e perfurar, dentes molares e pré-molares para triturar. Agora poderiam ter acesso a uma variedade bem maior de alimentos.

A capacidade de manter a temperatura corporal interna levou à povoação de diversas partes do planeta, onde a exposição ao sol é dificultada. Assim, ainda mais recursos naturais estavam à sua disposição.

Durante o Paleoceno, surgiram os primeiros primatas, embora os debates a esse respeito ainda não estejam totalmente finalizados. Mas, durante o Eoceno (de 55 a 34 milhões de anos atrás) mais de 200 espécies de primatas já foram reconhecidas. Essas evidências apontam que os primatas já estavam totalmente disseminados por todo o globo. Mas, no final do Eoceno, foram todos eles extintos.

Foi então que o final do Eoceno e o começo do Oligoceno, entre 34 e 23 milhões de anos atrás, viu o surgimento dos primeiros antropoides, subordem que inclui macacos, símio e humanos.

A deriva dos continentes ajudou a separar espécies que passaram a se desenvolver de maneira independente, no Velho e no Novo Mundo. Contudo, alguns creem que macacos primitivos tenham feito a travessia em galhos e troncos que funcionavam como jangadas.

O Mioceno, de 23 a 5 milhões de anos atrás, viu o aparecimento dos primeiros hominídeos. Eles eram de diversas espécies e estavam espalhados geograficamente pela Ásia, África e Europa. Devido a essa dispersão e às condições típicas de cada região, avanços evolutivos ocorreram.

A datação de fósseis de hominídeos é prolífica. Os primeiros fósseis de hominídeos encontrados na África datam de 23 a 14 milhões de anos atrás; na Europa, entre 13 e 11 milhões de anos; na Ásia, entre 16 e 7 milhões de anos atrás. Esses hominídeos eram corpulentos, deixando assim a era dos gibões para trás.   

A principal característica típica dos hominídeos em relação a seus primos primatas e o bipedismo. Andar sobre duas pernas é algo que os macacos modernos fazem eventualmente, por distâncias curtas e de maneira bem desajeitada. Já os hominídeos eram capazes de caminhar por enormes distâncias, o que lhes economizava energia, por ser uma meneira de se locomover gastando menos energia.

É difícil saber qual evento especificamente levou os ancestrais dos humanos a descer das árvores e explorar a savana, mas esse fato expôs a superioridade da caminhada sobre as habilidades de se dependurar em árvores. Provavelmente foi algum acontecimento relacionado a mudanças climáticas, quando a área ocupada por florestas se reduziu e em seu lugar surgiram pastagens, ocupadas por arbustos. Além disso, andar sobre duas pernas torna a vigilância contra predadores mais eficiente.

Outra vantagem anotada pelo bipedismo é a menor exposição do corpo aos raios solares, especialmente quando o sol está a pino. Isso ajuda a manter a temperatura corporal em níveis mais baixos. Foi essa a vantagem que levou ao aprimoramento das técnicas de caça, quando hominídeos perseguiam animais de grande porte à distância, de forma a mantê-los sempre em movimento. O superaquecimento que causavam em animais sem a capacidade de manter a temperatura corporal baixa tornava a presa fácil para o caçador.

Deve-se observar que o bipedismo propicia que o indivíduo use seus braços para carregar coisas enquanto se movimenta. Esse fato levou ao desenvolvimento das habilidades manuais, que culminaram no desenvolvimento de ferramentas. Diz-se que aqui surgiu a evolução boi-cultural, quando a vantagem dos indivíduos decorre do ambiente cultural em que estão imersos.

As ferramentas logo se transformaram em armas de caça e, de fato, os hominídeos se tornaram caçadores invejáveis, e assim foi cruzado o rubicão que separava os seres comedores de carniça dos caçadores ricos em proteínas e calorias.

Com o tempo, hominídeos e primatas aprofundaram o fosso que os separam. Os pés perderam a capacidade de agarrar troncos e se tornaram capazes de suportar o peso do corpo durante as caminhadas, as pernas propiciaram maiores passadas, os joelhos passaram a ajudar o equilíbrio corporal; caixa torácica e pélvis passaram a suportar melhor o peso dos órgãos; o buraco occipital possibilitou o apoio para o crânio enquanto eretos. As curvas da coluna cervical possibilitaram a manutenção do centro de gravidade acima da pélvis.

Mas isso não é tudo. Muito mais há a ser descoberto.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro: “Os neandertais e cro-magnon: a história e o legado do primeiro povo a migrar para a Europa”

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