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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

PACIFICAÇÃO DE PIRATAS – A ERA DE OURO DA PIRATARIA



O período entre 1715 e 1725 ficou conhecido como a Era de Ouro da Pirataria. Cerca de 20 comodoros bem conhecidos entre si, acompanhados de alguns milhares de tripulantes foram capazes de empreender essa façanha: durante esses 10 anos, nenhuma potência europeia, Inglaterra, França ou Espanha foi capaz de aportar em suas colônias. O Caribe ficou absolutamente isolado da Europa e qualquer navio que se aproximasse seria logo alvo de piratas.

Os piratas eram, em geral, ingleses ou irlandeses, embora fossem também numerosos os escoceses, franceses, africanos. Poderiam encontrar-se também holandeses, dinamarqueses, suecos e índios americanos. Embora proviessem de nacionalidades e culturas diversas, a pirataria criou uma espécie de amálgama, uma cultura comum. Ainda que um navio pirata estivesse tripulado apenas por ingleses, este partiria imediatamente em socorro de outro navio pirata, ainda que este outro se encontrasse tripulado apenas por franceses.

O regime de governo vigente nos navio piratas era a democracia: os capitães eram nomeados e depostos por voto; os ganhos de suas ações eram repartidos igualitariamente entre todos; as decisões mais importantes eram tomadas por conselho aberto; marinheiros acidentados e incapacitados para o trabalho recebiam auxílio pecuniário. Tudo isso criava um mundo idílico para marinheiros que vivenciavam o ambiente de tirania, humilhação e enforcamento vigente nas marinhas daquela época.
Os piratas são antigos na história do mundo. Estavam na Grécia, em Roma, na Europa Medieval, na China dos Qing – mesmo hoje são inúmeros os piratas que atacam navios e, por vezes, matam sua tripulação.

Deve-se deixar claro, contudo, que corsários e piratas são categorias diversas. Os corsários agem em tempos de guerra e com autorização – ou sob ordens – do Estado. Foi o caso de sir Francis Drake, ou de sir Henry Morgan. Ambos foram condecorados; Morgan foi nomeado vice-governador da Jamaica. William Kidd traçou uma história mais incomum: corsário, nascido rico, tornou-se pirata após desentendimentos com os diretores da Companhia das Índias Orientais, a maior empresa inglesa do período.

Os piratas do século XVIII eram bandidos conhecidos, criminosos procurados por todas as nações. Envolviam-se frequentemente em revoltas sociais e políticas. Anteriormente, eram marinheiros, servos, escravos fugidos...

A rotina sádica e brutal, sempre injusta, vigente nos navios mercantes levava à debandada total dos marinheiros sempre que um navio pirata os atacava.

Escravos fugindo da sua condição subumana buscavam a república bucaneira logo que souberam de navios piratas atacando navios negreiros e chamando a tripulação para se juntar a eles com plena igualdade. Alguns mulatos chegaram a capitães, inclusive. E assim foi se formando um bastião de liberdade no seio de uma zona marcada pelo trabalho escravo.

No auge dos ataques, Grã-Bretanha, França e Espanha ficaram isoladas de suas colônias americanas, as rotas comerciais restaram interrompidas, rotas de fornecimento de escravos não mais operavam, informações sobre a administração local não eram mais expedidas. Mesmo embarcações fortemente armadas demonstravam pavor de cruzar com embarcações piratas.

A força de coerção era tamanha que agora eles não ameaçavam não apenas navios, mas colônias inteiras. Piratas ocuparam a ilha britânica de Sotavento, ameaçaram as Bermudas, bloquearam o acesso à Carolina do Sul – em diversas ocasiões. Fortunas imensas foram acumuladas por piratas.
Mas, um homem chamado Woodes Rogers, poria um fim a esse interessante episódio da história. Ex-pirata, lagou o botim para servir como corsário na guerra travada pela Inglaterra contra França e Espanha. Rogers chegou a liderar um cerco contra uma cidade espanhola, havia saído muito ferido numa batalha contra um galeão espanhol no Pacífico e, não menos significativo, foi um dos primeiros navegadores a circunscreverem o globo.

Foi quando chegou ao fim a era dos bucaneiros da República dos Piratas na América Central.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “A República dos Piratas – A verdadeira história dos Piratas do Caribe”

CHUTANDO O PRECONCEITO COPA A FORA



Estádio Rasunda, Suécia, 1958. Palco da final da Copa de 1958, transcorridos apenas 4 minutos de jogo, a perspectivas que pareciam difíceis pioraram significativamente. O gramado estava encharcado após o aguaceiro que se abateu sobre Estocolmo durante a noite anterior.

Se a equipe brasileira parecia atolada em campo, os suecos demonstravam uma impressionante habilidade para deslizar no aguaceiro, empurrados pelos gritos ensurdecedores da torcida da casa. Os favoritos não queriam dar esperanças aos adversários. O técnico inglês George Raynor já havia derrotado os então campeões do mundo, a Alemanha ocidental, e cortado as asas dos soviéticos.

Além de estarem muito bem organizados, os suecos eram habilidosos com a bola nos pés. Fizeram o primeiro gol da partida logo aos 4 minutos. Jogada plástica: lançamento, infiltração, passe para o capitão Nils Liedholm. O craque domina a bola, dribla Orlando, aproveita e deixa Bellini para trás também. Depois de dominar a bola, chuta no canto de Gilmar.

Gol digno dos melhores craques brasileiros daquela época. Enfim, jogadores disciplinados, bem organizados, psicologicamente bem preparados e que sabiam jogar bonito. O Brasil parecia ter uma tarefa hercúlea, quase impossível pela frente.

Vinte anos antes, na França, o Brasil caía nas semifinais contra a Itália após um penalty inexplicável de Domingos da Guia. Em 1950, o Brasil caía frente ao Uruguai na última partida, quando necessitava de apenas um empate para se sagrar campeão do mundo. Em 1954, o Brasil encenou um vexame de proporções diplomáticas. Após ser dominado pela qualidade superior da seleção húngara, o Brasil perdeu o autocontrole e deu início a uma briga generalizada em campo, que deixou uma imagem péssima do Brasil para o resto do mundo.

Em 1956, quando pisou pela primeira vez em Wembley, a seleção brasileira caiu frente à seleção inglesa.

Nada mais natural do que divulgarmos para todo o mundo nossas limitações emocionais, mais uma vez. E essa limitação psicológica, em muito, era devida à presença massiva de jogadores negros e mulatos no plantel tupiniquim, diziam os críticos.

Pois bem, Valdir Pereira, o inesquecível Didi, não parecia acreditar nessa teoria. Negro, 29 anos à época, fizera parte da derrota na Suíça, em 1954. Foi ele quem, em campo na final de 1958, viu a rede brasileira ser balançada e, calmamente, pegou a bola das mãos do zagueiro Bellini e a pôs no centro de campo. Quando se viu cercado pelos seus ansiosos companheiros, disse sua frase lapidar:

- Vamos lá, acabou a moleza. Vamos encher esses gringos de gols!

E foram! Didi passa para Vavá, que devolve, Didi lança na ponta direita para Garrincha, que domina avança e chuta cruzado... quase gol! Mas foi o início da demolição dos argumentos mais preconceituosos acerca do futebol bretão e a incapacidade de negros e mulatos o praticarem com perfeição. Didi encarnava o Zumbi e a seleção brasileira era seu quilombo. Ele veio para libertá-lo das correntes do racismo mais entranhado.

Mas outros negros perfilados naquele escrete se encarregariam de pegar em armas  ao lado de Didi. E igualmente fariam história.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Campeões da raça: negros da Copa de 1958”

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

MANICÔMIO-BRASIL SOBRE RODAS: TRÂNSITO ASSASSINO E MOTORISTAS HOMICIDAS



Resolver o problema do trânsito no Brasil começa por se afastar da ideia de que mudanças legislativas têm tal poder. Ter um código de trânsito mais adiantado do que o sueco, o alemão ou o britânico; instalar equipamentos de controle de tráfego americanos; ter ruas tão belas e modernas quanto as bulevares parisienses, tudo isso de nada vale se nossos motoristas não forem respeitosos com as leis e regras de trânsito quanto suecos, alemães, ingleses, americanos e franceses.

As mudanças nas leis somente causam algum efeito se a sociedade que as receber tiver consciência de sua necessidade e preparada para suas consequências. Mudanças causam reações negativas e desagradam quando dizem um sonoro “não pode!” a pessoas que há muito repetem aquele mesmo comportamento, agora vedado.

O Brasil viu esse fenômeno quando decidiu tornar obrigatório o uso do cinto de segurança. Embora essa útil invenção tenha mais de cinquenta anos, o Brasil só viu  a polêmica aumentar quando, em 1979, o engenheiro Mário Fernando Petzhold desenvolveu o projeto que regulamentaria o cinto de três pontos.

Em 1985, houve uma primeira tentativa de torna-lo obrigatório, mas a população recentemente saída de um regime repressor foi decididamente resistente. Em 1998, com a entrada em vigor do atual Código de Trânsito Brasileiro, a discussão se polarizou entre os que acusavam serem os brasileiro incapazes de cumprir leis, e os que viam o cinto de segurança como uma mentira da indústria de automóveis criada para espoliar ainda mais os pobres consumidores. Sustentavam inclusive que o cinto aumentaria o número de óbitos no trânsito ao “impedir” que as vítimas deixassem o veículo após um acidente – enfim, típico fenômeno tupiniquim quando leigos completos em dado assunto desandam a criar e divulgar teorias sem qualquer embasamento técnico-teórico. Enfim, era mais uma lei que nunca “pegaria”.

Desnecessário dizer que, após alguns anos, poucos motoristas ainda se recusavam a afivelar o simples acessório.

Com a entrada em vigor da Lei 11.705, a polêmica “Lei Seca”, em 2008, o enredo se repetiu. Esse diploma legal tornou infração atos até então considerados irrelevantes, inofensivos mesmo. O conceito de beber e de bêbado são bastante fluidos na nossa cultura: bêbado é o outro, o vizinho, o desconhecido da mesa ao lado; beber não. Beber lembra comer na presença de amigos e parentes, mesa farta, comida boa. Ficar de porre é algo que não atinge os nossos: eles sabem beber, e o fazem em profusão, mas sem perder a compostura. Enfim, os desconhecidos sempre bebem mais e costumam perder o controle do recato. Evidentemente, a lei coercitiva deve ser aplicada apenas àqueles indisciplinados estranhos, nunca aos nossos valorosos amigos.

A régua legal trazida pela Lei Seca pôs todos esses códigos sociais ilógicos e de longa data abaixo ao pôr um completo estranho, o policial atuante na blitz, para aplicar a lei a todos, sem hesitação (afinal, ele não nenhuma daquelas pessoas), exigindo-se que soprem no bafômetro. Igualitária e mecanicamente, sem espaço para a relativização pela proximidade social.

De novo uma lei cerceadora, novamente foram suscitados protestos de toda monta. A nova Lei seria prejudicial para o comércio, ao reduzir o consumo em estabelecimentos assentados na venda de bebidas alcoólicas. Novamente, leis e costumes travavam disputa no ringue. Com o tempo, parece ter-se assentado na consciência nacional que dirigir alcoolizado é irresponsável e constitui um delito intolerável.

Grande parte dos problemas de trânsito no Brasil se devem à ilógica transformação do automóvel em veículo de transporte de massa. Esta opção foi feita em detrimento de todas as demais. Não só isso: simultaneamente a individualização do transporte por meio dos automóveis, observa-se um descaso com o transporte público coletivo, sem que se tomasse qualquer medida para tornar seus usuários mais obedientes às regras de uso dos equipamentos públicos e, igualmente, sem que se atualizassem as normas de uso das vias públicas.

De fato, optar-se por meios de transporte que mantenham seus usuários a salvo do contato com seres humanos pobres e ignorantes é uma atitude aristocrática plenamente em voga no Brasil desde os tempos das liteiras e dos palanquins. Gilberto Freyre revelava em “Sobrados e Mucambos” que a elite brasileira se opôs com afinco à entrada em operação das carruagens, repetindo o mesmo comportamento mais tarde, com a chegada dos bondes e dos trens. Isto é, a democratização dos espaços urbanos e do uso dos equipamentos urbanos sempre foi mal vista pelas classes mais ricas.

Aliás, locomover-se, por qualquer meio, sempre foi um obstáculo quase invencível na cidade do Rio de Janeiro, diga-se. Viajantes que aqui estiveram ainda no século XIX já davam testemunho do péssimo estado de conservação dos logradouros públicos. Caso uma senhora desejasse sair de casa, fato raríssimo naqueles tempos, deveria chamar uma carruagem ou uma cadeirinha. A cadeirinha era movida por dois carregadores, um localizado na frente, o outro na retaguarda. Não lhes é permitido parar para descansar – no máximo trocavam o ombro sacrificado durante a viagem. A ornamentação delas dependia das possibilidades do seu dono.

Os brasileiros preferimos formas de relacionamento social baseadas numa hierarquia vertical: gostamos de saber quem manda nessa casa. Norma de natureza aristocrática que reina em nossa sociedade há séculos, ela se opõe e anula as formas horizontais de convivência social, isto é, que pregam a igualdade entre os cidadãos.

Somente esse fato explica o imenso regresso que representou o abandono do trem, modal de deslocamento preferido para longas distâncias, e do bonde, espécie de trem para pequenas distâncias, em benefício do automóvel, logo que os saltos econômicos trazidos pelo desenvolvimentismo alimentaram o sonho individualista de que cada qual tivesse seu próprio meio de transporte – além da possibilidade de se diferenciar dos demais pelo preço de seu carro, símbolo de seu sucesso individual. E então se iniciou nosso problema de falta de espaço nas vias públicas para todos os veículos motorizados, grande parte dos quais transportando apenas um angustiado e atrasado “supercidadão”.

O desenvolvimento de motores e de instrumentos mecânicos no Brasil foi atrasado pelo uso desmedido de escravos. Como sói ocorrer em sociedades eminentemente escravistas, uma elite minuta conformado por clérigos, médicos, advogados dedicava-se  a legitimar, justificar um sistema sem engenheiros e especialistas em propor resoluções para problemas práticos cotidianos. O foco dos “doutos” era a manutenção do status quo, nunca foi a inovação, o progresso. Aqui, os escravos eram tudo: carroças, veículos de carga, esgoto, máquinas a vapor...

Os códigos sociais usuais se refletem quando, ao volante de um carro, o cidadão-motorista de pele clara, dono de uma carro caro, com mais dinheiro na conta  bancária, bem inserido em relações de poder, acha-se com o privilégio de mandar as regras de trânsito às favas e fazer uma singela “bandalha”; que pode resultar num acidente de trânsito, que suscitará um engarrafamento, dezenas de buzinas trovejando ao mesmo tempo, irritação, cansaço etc.

O quadro final que se desenha do país, apresenta atualmente uma modernidade em constante movimento, veloz, dominada por relações sociais antiquíssimas, na qual o que menos importa é a habilidade do motorista ou  a atenção do pedestre. O mundo moderno prevê regras simples e para todos: Siga! Pare! A subjetividade de antanho não pode ter espaço.

Se o comportamento de antigamente, quando trazido para a modernidade, deu azo ao carnaval, ao jeitinho, à malandragem, à pequena de quase imperceptível criminalidade, a contemporaneidade viu, por outro lado, um aumento exponencial no número de mortos, um poder Judiciário atolado em processos e um sentimento generalizado de insegurança.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “Fé em Deus e pé na tábua: ou como e por que o trânsito enlouquece no Brasil”

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O METAL DA CORRIDA ATÔMICA



ELETRIC FUNERAL – BLACK SABBATH

Reflex in the sky
Warn you you're gonna die
Storm coming, you better hide
From the atomic tide
Flashes in the sky
Turns houses into sties
Turns people into clay
Radiation, minds decay

Aqui, a letra descreve a forma e os efeitos de uma bomba atômica caindo do céu.

Robot minds of robot slaves
Lead them to atomic graves
Plastic flowers, melting sun
Fading moon falls upon
Dying world of radiation
Victims of mad frustration
Burning globe of obscene fire
Like electric funeral pyre

Aqui, a letra aborda os culpados pela eventual guerra nuclear e explora seus efeitos trágicos sobre as vítimas. E assim segue pelo restante da letra

Buildings crashing down
To earth’s cracking ground
Rivers turn to wood
Ice melt into blood
Earth lies in deathbed
Clouds cry for the dead
Terrifying rain
Is a burning pain

(Electric Funeral)
(Electric Funeral)
(Electric Funeral)
(Electric Funeral)

And so, in the sky
Shines the electric eye
Supernatural king
Takes Earth under his wing
Heaven's golden chorus sings
Hell's angels flap their wings
Evil souls fall to Hell
Ever trapped in burning cells

Reflexos no céu
Avisam que você vai morrer
A tempestade se aproxima, melhor se esconder
Da maré atômica
Brilhos no céu
Transformam casas em ruínas
Pessoas viraram barro
A radiação e a inteligência decaem



Inteligência robótica de robôs escravos
Levam-nos direto para a cova atômica
Flores de plástico, sol derretendo
A lua esmaecida cai do céu
Mundo moribundo de radiação
Vítimas da louca frustração
O globo queimando em chamas obscenas
Como uma pira de um funeral elétrico






Prédios desmoronando
Caindo no solo rachado da Terra
Rios viram madeira
O gelo derrete no sangue
A Terra no seu leito de morte
Nuvens choram pelos mortos
A Chuva medonha
É uma dor fulgurante

(Funeral elétrico)




E então, no céu
Brilha o olho elétrico
Um rei sobrenatural
Põe a Terra sob suas asas
O coral dourado do Paraíso canta
Anjos da morte bate suas asas
Almas malvadas caem no inferno
Para sempre aprisionadas em células flamejantes

Rubem L. de F. Auto

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

CONSTANTES EVOLUÇÕES, APESAR DOS INSISTENTES RETROCESSOS



Retornando no tempo até 4 bilhões de anos atrás, o que chamamos de vida não passava de células isoladas e de estrutura bastante rudimentar. Formas de vida mais complexas, como os vertebrados, surgiram apenas cerca de 500 milhões de anos atrás, segundo os registros fósseis.

Nesse período, era abundante a variedade de peixes, anfíbios e répteis. E foi no final deste período, há cerca de 250 milhões de anos, que surgiram os mamíferos. Crê-se que os continentes estavam juntos, formando uma única massa de terra chamada Pangeia. Iniciado o afastamento, causado por atividades no interior da crosta terrestre, e após vulcões e terremotos deste decorrentes darem origem a cordilheiras e outros acidentes geográficos, há 65 milhões de anos os continentes tomaram a forma como os conhecemos atualmente.

A Era Mesozoica se iniciou há 225 milhões de anos na sequência de um evento de extinção de espécies, que vitimou os primeiros primatas, que acabavam de dar o ar de sua existência. Esta Era teve fim há 65 milhões de anos, a cargo de outro evento de extinção. Foi neste período que os dinossauros dominaram todo o mundo, no ar e no mar. Também foi aqui que os primeiros mamíferos definitivos, isto é, sucessores daqueles extintos no início do Mesozoico.

Os fósseis de mamíferos mais antigos já encontrados datam de 70 milhões de anos atrás. Trata-se de um mamífero placentário. A Era seguinte, o Cenozoico, viu essa adaptação evolutiva se estender a inúmeros outros mamíferos.

O evento de extinção ocorrido no fim do Mesozoico dizimou do planeta a maior parte das formas de vida existentes – os dinossauros são apenas o exemplo mais patente. Este fato levou à disponibilização de recursos alimentares abundantes aos sobreviventes. Foi o caso de um pequeno roedor, um feliz mamífero que deixaria uma plêiade de descendentes.

Os mamíferos são o caso mais bem sucedido de como uma espécie pode se adaptar ao ambiente que o cerca. A razão da desse sucesso reside nos seus cérebros mais desenvolvidos, que permitem o processamento de uma quantidade maior de informação. Grande parte dessa capacidade extra adveio do córtex e do neocórtex maiores. Além disso, rusgas e convoluções que formam sulcos no cérebro aumentaram a área da superfície cerebral, possibilitando um acúmulo maior de neurônios.

Essa evolução do cérebro é consequência direta do aumento do período de gestação. Quanto maior o tempo para o desenvolvimento do feto, mais complexo se torna o organismo. Além disso, mamíferos marsupiais vivem um segundo estágio de crescimento, agora fora do útero, durante o qual ocorre a amamentação se encarrega de dar às estruturas neurais mais capilaridade.

Deve-se ter e mente que as interações sociais que acometem os mamíferos nesse estágio da vida incentivam o desenvolvimento cerebral.

Outra ferramenta poderosa no desenvolvimento dos mamíferos foi o surgimento de uma aracada dentária variada e funcional. Dentes incisivos para o corte, dentes caninos para morder e perfurar, dentes molares e pré-molares para triturar. Agora poderiam ter acesso a uma variedade bem maior de alimentos.

A capacidade de manter a temperatura corporal interna levou à povoação de diversas partes do planeta, onde a exposição ao sol é dificultada. Assim, ainda mais recursos naturais estavam à sua disposição.

Durante o Paleoceno, surgiram os primeiros primatas, embora os debates a esse respeito ainda não estejam totalmente finalizados. Mas, durante o Eoceno (de 55 a 34 milhões de anos atrás) mais de 200 espécies de primatas já foram reconhecidas. Essas evidências apontam que os primatas já estavam totalmente disseminados por todo o globo. Mas, no final do Eoceno, foram todos eles extintos.

Foi então que o final do Eoceno e o começo do Oligoceno, entre 34 e 23 milhões de anos atrás, viu o surgimento dos primeiros antropoides, subordem que inclui macacos, símio e humanos.

A deriva dos continentes ajudou a separar espécies que passaram a se desenvolver de maneira independente, no Velho e no Novo Mundo. Contudo, alguns creem que macacos primitivos tenham feito a travessia em galhos e troncos que funcionavam como jangadas.

O Mioceno, de 23 a 5 milhões de anos atrás, viu o aparecimento dos primeiros hominídeos. Eles eram de diversas espécies e estavam espalhados geograficamente pela Ásia, África e Europa. Devido a essa dispersão e às condições típicas de cada região, avanços evolutivos ocorreram.

A datação de fósseis de hominídeos é prolífica. Os primeiros fósseis de hominídeos encontrados na África datam de 23 a 14 milhões de anos atrás; na Europa, entre 13 e 11 milhões de anos; na Ásia, entre 16 e 7 milhões de anos atrás. Esses hominídeos eram corpulentos, deixando assim a era dos gibões para trás.   

A principal característica típica dos hominídeos em relação a seus primos primatas e o bipedismo. Andar sobre duas pernas é algo que os macacos modernos fazem eventualmente, por distâncias curtas e de maneira bem desajeitada. Já os hominídeos eram capazes de caminhar por enormes distâncias, o que lhes economizava energia, por ser uma meneira de se locomover gastando menos energia.

É difícil saber qual evento especificamente levou os ancestrais dos humanos a descer das árvores e explorar a savana, mas esse fato expôs a superioridade da caminhada sobre as habilidades de se dependurar em árvores. Provavelmente foi algum acontecimento relacionado a mudanças climáticas, quando a área ocupada por florestas se reduziu e em seu lugar surgiram pastagens, ocupadas por arbustos. Além disso, andar sobre duas pernas torna a vigilância contra predadores mais eficiente.

Outra vantagem anotada pelo bipedismo é a menor exposição do corpo aos raios solares, especialmente quando o sol está a pino. Isso ajuda a manter a temperatura corporal em níveis mais baixos. Foi essa a vantagem que levou ao aprimoramento das técnicas de caça, quando hominídeos perseguiam animais de grande porte à distância, de forma a mantê-los sempre em movimento. O superaquecimento que causavam em animais sem a capacidade de manter a temperatura corporal baixa tornava a presa fácil para o caçador.

Deve-se observar que o bipedismo propicia que o indivíduo use seus braços para carregar coisas enquanto se movimenta. Esse fato levou ao desenvolvimento das habilidades manuais, que culminaram no desenvolvimento de ferramentas. Diz-se que aqui surgiu a evolução boi-cultural, quando a vantagem dos indivíduos decorre do ambiente cultural em que estão imersos.

As ferramentas logo se transformaram em armas de caça e, de fato, os hominídeos se tornaram caçadores invejáveis, e assim foi cruzado o rubicão que separava os seres comedores de carniça dos caçadores ricos em proteínas e calorias.

Com o tempo, hominídeos e primatas aprofundaram o fosso que os separam. Os pés perderam a capacidade de agarrar troncos e se tornaram capazes de suportar o peso do corpo durante as caminhadas, as pernas propiciaram maiores passadas, os joelhos passaram a ajudar o equilíbrio corporal; caixa torácica e pélvis passaram a suportar melhor o peso dos órgãos; o buraco occipital possibilitou o apoio para o crânio enquanto eretos. As curvas da coluna cervical possibilitaram a manutenção do centro de gravidade acima da pélvis.

Mas isso não é tudo. Muito mais há a ser descoberto.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro: “Os neandertais e cro-magnon: a história e o legado do primeiro povo a migrar para a Europa”

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

FAÇA AMOR, NÃO FAÇA GUERRA! BRASIL NA 1ª GUERRA MUNDIAL


A I Guerra Mundial foi um conflito que se estendeu do ano de 1914 a 1918. O Brasil tomou parte no entrevero a partir de 1917, do dia 5 de abril especificamente. Até então o país decidira pela neutralidade. O que mudou o cenário foi o afundamento do navio a vapor Paraná, integrante da Marinha Mercante do Brasil e que levava consigo um carregamento de café por ocasião do ataque, próximo ao litoral da França, perpetrado por um submarino alemão. Três marinheiros brasileiros morreram em decorrência.

As notícias da tragédia fizeram despertar a ira dos brasileiros contra a Alemanha: lojas e empreendimentos de alemães foram atacados, por exemplo.

No dia 20 de maio próximo, outro ataque, desta feita contra o navio Tijuca, igualmente navegando águas francesas, novamente um ataque de submarino alemão.

Apesar dessas ofensivas, o governo brasileiro não se decidiu inicialmente pela declaração de guerra contra o Império alemão; preferiu, em vez disso, fazer uma singela suspensão das relações bilaterais, em 1ª de junho de 1917.

Embora o Brasil tenha se aliado contra a Tríplice Aliança (Alemanha e Império Austro-Húngaro), não foram enviadas tropas tupiniquins nesse momento.

A resposta do Kaiser foi devastadora: no dia 26 de maior afundaram o navio Lapa; no dia 18 de outubro atacaram o navio Macau; no dia 23 de outubro o mesmo Macau foi atacado novamente, com o sequestro do comandante; em 1º de novembro, os navios Acari e Guaíba foram atacados. Todos por submarinos alemães.

Diante desses numerosos ataques, o presidente da República à época, Wenceslau Braz, editou a Lei da Guerra, de 16 de novembro de 1917. Dentre outras medidas, foram cassadas as licenças que permitiam o funcionamento de bancos e companhias de seguro pertencentes a alemães.

O clima bélico que tomou conta das relações internacionais entre Brasil e Alemanha sucedeu um longo período de relações amigáveis e de trocas comerciais e culturais intensas. O Brasil enviou durante muitos anos seus oficiais para treinamento junto ao Exército alemão, que já ostentava a reputação de mais eficiente e bem organizado do mundo. Ainda, grande parte das encomendas bélicas brasileiras era adquirida de fornecedores alemães.

A população se dividiu inicialmente. Germanófilos (entusiastas da adesão ao lado alemão do conflito) e aliadófilos (entusiastas da adesão ao lado oposto) disputavam simpatizantes para suas causas. Dentre os aliadófilos, perfilavam-se nomes de intelectuais como o de Ruy Barbosa. Para recrutar mais reforços para seu lado, os aliadófilos criaram associações, como a Liga de Defesa Nacional e a Liga Brasileira pelos Aliados, que levavam suas argumentações para todo o país. Mas foi só mesmo após o afundamento ostensivo de navios brasileiros e da consequente morte de cidadãos brasileiros que o clima antigermânico tomou conta dos cidadãos. Houve de depredações de imóveis de imigrantes alemães a manifestações de rua antigermânicas.  

Caso curioso foi o do navio Rio Branco, que o governo brasileiro cedeu à Inglaterra em meio ao esforço de guerra e que terminou por ser afundado pelo inimigo. Felizmente não havia marinheiros brasileiros a bordo. Este caso não despertou a ira pública, diferente do ataque seguinte, contra o navio Paraná, conforme já citado.

O Brasil havia se decidido por entrar no conflito. Mas restava uma pergunta: com que armas lutar? As Forças Armadas brasileiras não contavam com treinamento nem com tecnologia bélica que lhe habilitasse a participação naquela guerra. Seriamos como a Polônia, enviando tropas a cavalo para combater tanques na II Guerra Mundial? Essa foi a razão para que o Brasil se limitasse ao papel de fornecer suporte para as tropas envolvidas na guerra. O exército do Brasil contava com 54 mil homens, mas seu potencial estava muito reduzido após décadas do descaso liberal da República Velha.  

Já em plenas ações de guerra, o Brasil enviou uma divisão naval que contava com embarcações do Rio Grande do Sul, da Bahia, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, do Piauí e de Santa Catarina, em 16 de maio de 1918.

Apesar desse envio, na Conferência Interaliada em Paris, no fim de 1917, ficou decidido que a maior contribuição do Brasil no âmbito do conflito mundial se daria nas necessidades de saúde. Afinal, aquela Guerra se caracterizou pela carnificina nos campos de batalha, o que elevou assombrosamente as demandas por médicos, enfermeiros, farmacêuticos. Além disso, a gripe espanhola se tornou epidêmica na Europa.

A Missão Militar Médica brasileira abriu um hospital em Paris, que atendeu as vítimas tanto das balas quanto do vírus.  

O governo brasileiro também ofereceu pilotos, navios militares e estrutura médica para a região do estreito de Gibraltar, local estrategicamente localizado na entrada do Mediterrâneo. Lá, um surto de gripe espanhola eliminava soldados e civis mais rapidamente do que os tiros inimigos.    

Outro ponto interessante: uma junta de soldados brasileiros atuou no conflito como observadores, ao lado dos franceses. Outro grupo, composto por oficiais da marinha, tomou treinamentos na Inglaterra, na Itália e nos EUA.

A Marinha do Brasil contribuiu ainda enviando uma Divisão Naval de Operações de Guerra para patrulhar a costa da África, caçando submarinos alemães, pois o estrago que eles causavam já tinha levado à escassez de embarcações de guerra dos Aliados. Essa divisão sofreu perdas pesadíssimas em função de um surto de gripe espanhola abordo.

Além disso, até o fim do conflito, o governo brasileiro confiscou 45 navios alemães quando navegavam águas brasileiras – a título de indenização.

Os navios brasileiros enviados a Gibraltar tinham a função de evitar que submarinos alemães adentrassem o Mediterrâneo, evitando que repetissem ali o massacre de navios que estavam fazendo no Atlântico. Tinham também a missão de oferecer o apoio logístico das tropas Aliadas na região.

Foi em novembro de 1918 que o Brasil se viu às voltas com um “conflito” que levou o jocoso nome de “batalha das toninhas”. Faltava pouco para a decretação do cessar-fogo, quando o cruzador Bahia foi alertado da presença de submarinos U-Boats na região do Gibraltar. À noite, um soldado avistou o que parecia ser um periscópio e alertou toda a tripulação do perigo que todos estavam correndo. Os soldados tomaram posição com suas armas e fizeram uma sessão de fogo cerrado contra o “inimigo”, até que perceberam tratar-se tão-somente de um cardume de toninhas, uma espécie de golfinho.

Essa embarcação, o Bahia, teria um fim bastante infeliz em 1945, quando um acidente com munição durante um teste de armas levou à morte 339 membros da tripulação.

Além das já citadas, tropas de brasileiros combateram na região da Jutlândia, entre Dinamarca e Alemanha, além de regiões da Europa ocidental, local principal dos conflitos da I Guerra.

No cômputo geral, embora os números não sejam muito precisos, cerca de 2 mil brasileiros tomaram parte no conflito mundial; desses, cerca de 550 sucumbiram. A maior parte vitimizada pela gripe espanhola. A primeira baixa de um brasileiro se deu em Londres, fuzilado por ingleses. Nascido na França, o soldado brasileiro fazia parte de uma rede de espionagem alemã: foi descoberto e devidamente condenado à morte.

O período da I Guerra Mundial também foi marcado por um crescimento significativo da economia brasileira. A infestação de submarinos alemães em águas internacionais transformou a travessia do Atlântico numa aventura quase suicida. Em razão disso, o comércio internacional foi desmantelado e produtos brasileiros fundamentais, como o café, acumulavam perdas em estoques nunca exportados. Tais perdas inclusive foram denunciadas por ocasião do Tratado de Versalhes, em 1919.

Esses fatos levaram à perda do poder de compra do cidadão, em razão do aumento dos preços das mercadorias no varejo, em regra, importadas. A insatisfação popular levou ao fortalecimento dos movimentos sindicais e da classe trabalhadora.

Essa crise abriu espaço para o movimento de industrialização do país, cuja estopim foram os produtos manufaturados destinados a substituir seus equivalentes cuja importação estava suspensa. Embora o capital inicial desses investimentos saíssem do bolso de agricultores tradicionais, a perda de poder político do campo em relação às cidades levou a República Velha, do café-com-leite, do compadrio, à degradação e a seu fim, em 1930.

Por outro lado, a demanda dos países europeus por matérias-primas para o fabrico de armamentos levou ao beneficiamento da pauta de exportações do Brasil, agregando principalmente a borracha aos produtos que mais traziam dividas para o país.


Rubem L. de F. Auto

Fonte: livro “O Brasil nas Guerras Mundiais: uma história que deveria ser honrada" 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

VAI PRA UNIÃO SOVIÉTICA! OS BEATLES FORAM... E VOLTARAM



BACK IN THE USSR – THE BEATLES

Flew in from Miami Beach BOAC
Didn't get to bed last night
On the way the paper bag was on my knee
Man I had a dreadful flight

Desembarquei vindo de Miami Beach pela BOAC (antiga British Airways)
Não dormi numa cama nessa noite
Durante o voo, o saco de vômito estava nos meus joelhos
Cara, tive um voo horrível

I'm back in the U.S.S.R
You don't know how lucky you are boy
Back in the U.S.S.R

Estou de volta à USSR
Você não sabe po quão sortudo você é, rapaz
De volta à USSR

Been away so long I hardly knew the place
Gee it's good to be back home
Leave it till tomorrow to unpack my case
Honey disconnect the phone

Estive tanto tempo fora, quase não reconheci o lugar
Deus, como é bom estar de volta
Espero até amanhã para abrir minha mala
Querida, tire o telefone da tomada

I'm back in the U.S.S.R
You don't know how lucky you are boy
Back in the U.S
Back in the U.S
Back in the U.S.S.R

Estou de volta à USSR
Você não sabe o quão sortudo você é, rapaz
(...)

Well the Ukraine girls really knock me out
They leave the West behind
And Moscow girls make me sing and shout
That Georgia's always on my mind

Bem, as ucranianas realmente me derrubaram
Elas deixam as ocidentais para trás
As moscovitas me fazem cantar e me esgoelar
Aquela Georgia (no Cáucaso) estará sempre na minha memória  

[Guitar Solo: Paul McCartney]

I'm back in the U.S.S.R
You don't know how lucky you are boys
Back in the U.S.S.R

Well the Ukraine girls really knock me out
They leave the West behind
And Moscow girls make me sing and shout
That Georgia's always on my mind

Show me round your snow-peaked mountains way down south
Take me to your daddy's farm
Let me hear your balalaikas ringing out
Come and keep your comrade warm

Mostre-me a silhueta de seus picos de neve até o sul
Leve-me até a fazenda de seu papai
Deixe-me ouvir o som de suas balalaicas
Venha e aqueça seu camarada

I'm back in the U.S.S.R
You don't know how lucky you are boys
Back in the U.S.S.R


Rubem L. de F. Auto