Pesquisar as postagens

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

PEGUEM SEUS QUARKS, HÁDRON E BÓSONS E FAÇAM BOM PROVEITO!


Desenvolver uma explicação lógica que trace o desenvolvimento do espaço, tempo, matéria e energia, desde o Big Bang, há cerca de 13,7 bilhões de anos é um dos maiores “tour de force” intelectuais já empreendidos pelos humanos.

Tal empreitada deve unir em uma só explicação as quatro forças fundamentais da natureza: gravidade, eletromagnetismo e forças nucleares forte e fraca. Estas devem ser capazes de interagirem, combinarem-se e mesmo se unirem numa única força: a metaforça. A explicação da origem de tudo também deve ser capaz de unir dois ramos da física atualmente incompatíveis: mecânica quântica e relatividade geral.  

O grande obstáculo dos pretendentes ao trono de “explicador da humanidade” é um período, a princípio infinitesimalmente pequeno, conhecido como “era de Planck”: os primeiros 10-43 segundos de existência do Universo (o primeiro décimo de milionésimo de trilionésimo de trilionésimo de segundo), após o Big Bang.

O limite de velocidade a que a informação pode viajar é a barreira da velocidade da luz: 3 X 108 metros por segundo. Por conseqüência, um observador localizado em qualquer ponto do Universo, naquele período, veria somente 3 X 10-35 metros à sua frente (10-43 s X 3 X108 m/s), ou seja, trezentos bilionésimos de trilionésimos de trilionésimo de metro). O monumental físico alemão Max Planck, considerado o pai da mecânica quântica, foi o responsável pela introdução desses conceitos impressionantemente diminutos, além de ter criado o conceito de energia quantizada em 1900.

O fim da era de Planck foi marcado pelo descolamento da força da gravidade das demais. O instante 10-35 segundo viu o descolamento das forças eletrofraca e nuclear forte. Mais tarde, foi a vez da força eletrofraca se dividir em forças eletromagnéticas e nuclear fraca. Agora, a força fraca controla a desintegração radioativa, a força forte une as partículas localizadas no núcleo atômico e a força eletromagnética mantém os átomos unidos em moléculas. A gravidade une matérias com massa relevante.

Em apenas um trilionésimo de segundo, o cosmos reunia todas as propriedades fundamentais, tendo cada um dos ramos da física seu livro-texto próprio, à espera de uma teoria que as una.

Quando a separação das forças forte e eletrofraca, o universo era um oceano de quarks, léptons e suas contrapartes antimatérias, ao lado de bósons (partículas que tornaram essas outras partículas capazes de interagir umas com as outras), nenhuma delas divisível.

Os fótons pertencem à família dos bósons. Os léptons mais famosos são os elétrons e os neutrinos. Os quarks vivem dentro dos núcleos atômicos e possuem nomes abstratos como: up e down; strange e charmed; top e bottom.

O nome “bóson” é derivado do nome do físico indiano Satyendranath Bose. Lépton vem de “leptos”, pelavra grega para leva, pequeno. Já quark vem da frase “Three quarks for Muster Mark”, da obra Finnegans Waje, de James Joyce.

A era quark-lépton do Universo, o primeiro trilionésimo de segundo do Cosmos promoveu a descoberta de um outro estado da matéria: a sopa de quarks, assim batizado em 2002. Foi uma era em que quarks adensavam o Universo.

Alguma das separações de força que vimos deu origem a uma assimetria cósmica, na qual partículas de matéria eram mais numerosas do que partículas de antimatéria. Esse pequeno desequilíbrio (1 partícula a cada bilhão), é o que permite que existamos hoje. Caso esse desequilíbrio não existisse, toda a massa do universo teria sido aniquilada antes do primeiro segundo da existência do Universo; somente restariam fótons, ou seja, luz e nada mais.

Após mais um período de inflação, a temperatura do Universo se reduziu abaixo de 1 trilhão de graus Kelvin. Passara-se um milionésimo de segundo desde o Big Bang, e o Universo não tinha mais temperatura ou densidade suficiente para cozinhar quarks. Agora era possível a união entre essas partículas, dando origem aos hádrons (da palavra grega hadros, que significa grosso). A transição quark para Hádron produziu prótons e nêutrons, além de outras mais pesadas – todas elas combinações de quarks.  

Durante a era hádron, os fótons não tinham mais a energia necessária para formar novos pares quark-antiquark – Sua E era menor do que a mc2 dos pares a serem criados, conforme a equação E = mc2 de Einstein. O mesmo ocorreu quanto à criação de pares hádron-anti-hádron. A cada 1 bilhão de aniquilações de quarks gerava 1 bilhão de fótons, mas apenas um hádron sobrevivia. Estes hádrons deram origem a galáxias, estrelas e planetas – e pessoas, claro.

Então o processo anterior se repetiu para os elétrons e pósitrons, que se aniquilavam e davam origem aos 1 elétron em 1 bilhão. O Universo era invadido por um mar ainda maior de fótons, ao passo que os demais elétrons e pósitrons morriam.

Enquanto o cosmos esfriava, com temperaturas que ficavam abaixo de 100 milhões de graus, prótons se uniam a prótons e nêutrons, formando núcleos atômicos. O Universo criado era composto de 90% de núcleos de hidrogênio e 10% de hélio (havia também deutério, trítio e lítio).

Passaram-se até aqui dois minutos da criação. Pelos 380 mil anos seguintes quase nada muda. Os elétrons tinham ampla liberdade para vaguear entre fótons, até que a temperatura do universo reduziu abaixo de 3 mil graus Kelvin (cerca de metade da temperatura da superfície do Sol). Foi então que os elétrons assumiram posição em órbitas ao redor dos núcleos atômicos. Nasciam os átomos como os conhecemos. Tais átomos estavam inseridos em meio a fótons. Foi assim que partículas e átomos formaram o universo primordial.

Atualmente, em qualquer parte do Universo existe a impressão digital cósmica de fótons de micro-onda à temperatura de 2,73 graus, uma redução de mil vezes nas energias dos fótons desde o nascimento dos átomos.

Mas resta o grande questionamento: O que existia antes do início? Os religiosos tendem a crer que alguém deu o chute inicial em tudo, dando início à cadeia de fenômenos que se sucedeu. Para eles, a resposta é Deus, seja ele qual for.

Para a ciência, talvez tudo já estivesse aí, desde sempre... enfim, resta “apenas” achar evidências, provas...   
   

Rubem L. de F. Auto


Fonte: livro “Origens: catorze bilhões de anos de evolução”    

Nenhum comentário:

Postar um comentário