10-43 SEGUNDOS... O COMEÇO DE TUDO!
Há cerca de 14 bilhões de anos, aquilo que chamamos de tudo,
ou de universo, ou de toda a matéria existente cabia numa cabeça de alfinete.
Tudo, todas as forças básicas da natureza estavam concentradas num ponto cuja
temperatura alcançava inimagináveis 1030 graus Celsius. Este estado
de coisas persistiu até o instante 10-43 segundos (1 dividido por 1,
seguido de 43 zeros). Este instante foi o momento a partir do qual todas as
leis da matéria passaram a fazer sentido.
Nesse momento, buracos negros surgiam espontaneamente, desapareciam
e voltavam a surgir a partir da energia, mantida no interior de um campo de
força unificado (reunia todas as forças da natureza em si). Toda essa energia
contida formava uma estrutura esponjosa e espumante que, ao borbulhar, tornou a
estrutura do espaço-tempo curvada. Ainda não era possível distinguirem-se os
fenômenos da teoria da relatividade geral (válida para grandes corpos) e da
mecânica quântica (que estuda as estruturas subatômicas).
Ao se expandir ainda mais, o Universo esfriou, o que fez a
força da gravidade se destacar das demais. Um pouco mais tarde, as forças
nuclear forte e a eletrofraca (ambas mantém os núcleos dos átomos coesos) se
separaram. Tal fenômeno liberou uma enorme quantidade de energia. A expansão
resultante foi uma rápido aumento de dez vezes na qüinquagésima potência no
tamanho do universo. Essa inflação do universo foi de tal monta que esse
período do nosso Universo foi batizado de “época da inflação”. Essa expansão
estendeu e suavizou a matéria e a energia. A partir de então, as diferenças de
densidade entre pontos distintos do Universo foi reduzida para menos de 1 por
cem mil.
Todo o cenário até aqui descrito é declaradamente
especulativo. A partir de agora, todos os fenômenos descritos foram confirmados
em laboratórios.
O universo ainda era quente, muito quente. Ao ponto de fótons
converterem sua energia em pares de matéria-antimatéria. Esse pares, pouco
após, colidiam e voltavam a se tornarem fótons. Interessante notar que a
separação das forças, no período anterior, não manteve a simetria entre
matérias e antimatérias, o que levou a um excesso de matérias em relação às
antimatérias: 1 a mais a cada 1 bilhão de pares.
Foi justamente esse desequilíbrio que permitiu a criação do
Universo como ele é. Caso contrário, o Universo seria composto apenas de luz e
nada mais.
Conforme o Universo esfriava, a força eletrofraca se dividiu
em força eletromagnética e em força nuclear fraca. A queda da energia dos
fótons levou à cessação da criação de pares de partículas matéria-antimatéria a
partir dos fótons que já existiam.
Durante um período crucial de apenas 3 minutos, a matéria se
transformou em prótons e nêutrons. Muitas desses prótons e nêutrons se
combinaram e formaram núcleos atômicos simples. Elétrons, que perambulavam livremente,
dispersaram os fótons, o que reduziu a luz, dando origem a uma espécie de sopa
opaca composta por matéria e energia.
Mais algum tempo, e o Universo esfriou até uns milhares de
graus Celsius – ainda um pouco mais quente do que um alto-formo -, o que
permitiu que os elétrons se movessem mais lentamente, permitindo-se assim que
eles fossem capturados por núcleos atômicos que deles se aproximassem. Assim
nasceram os primeiros átomos de hidrogênio, hélio e lítio.
O Universo era agora transparente à luz visível. Esses primeiros
fótons, capazes de atravessar o Universo livremente, formam a radiação cósmica
de fundo, observável em micro-ondas.
Os primeiros bilhões de anos do Universo foram marcados por
expansão e esfriamento. A matéria gravitava e se concentrava, dando origem às
galáxias. Bilhões de galáxias, compostas por bilhões de estrelas, cada qual
passando por fusão nuclear extrema em seu núcleo. As fusões nucleares ocorridas
em estrelas com massa superior a 10 vezes a massa do Sol forma capazes de
originar dezenas de elementos essenciais à vida. As explosões das estrelas em
supernovas espalharam esses elementos por todo a galáxia, enriquecendo-as
quimicamente.
Cerca de 7 a 8 bilhões de anos após as primeiras supernovas,
surgiu uma estrela medíocre, o nosso Sol, numa região medíocre (o braço de Órion),
de galáxia medíocre (a nossa Via Láctea), numa região medíocre do Universo (a
periferia do superconglomerado de Virgem).
A nuvem de gás a partir da qual surgiu o nosso Sol era
pesada, a ponto de reunir matéria suficiente para gerar planetas, asteróides e cometas,
aos montes. Essa matéria, contida na imensa nuvem de gás, foi se aglomerando e
se condensando enquanto circundava o Sol.
Ao longo dE centenas de milhões de anos posteriores, cometas
de alta velocidade e outros corpos se chocaram contra os planetas, impedindo
assim que surgissem moléculas complexas vida em suas superfícies, originando a
vida. Com a redução dos corpos cósmicos, os planetas se esfriaram.
Um deles, que chamamos de Terra, nasceu numa órbita capaz de
sustentar oceanos em sua forma líquida. Um pequeno deslocamento adiante ou
atrás, originaria vapor de água ou montanhas de gelo. Evidentemente, desprovida
de vida.
Os oceanos líquidos e quimicamente ricos, em função de um
fenômeno ainda desconhecido, surgiram bactérias anaeróbicas simples, capazes de
converterem a imensa quantidade de dióxido de carbono na atmosfera em oxigênio.
Este oxigênio sustentou a vida aeróbica que se formou, evoluiu e dominou os
oceanos e, posteriormente, os continentes.
Os pares de átomos de oxigênio que formaram o dióxido de
carbono, eventualmente, apresentavam-se em trio: o ozônio que, capturado na
atmosfera superior, protege a Terra dos fótons ultravioletas emitidos pelo Sol
e que são prejudiciais às nossas moléculas.
Toda a diversidade que conhecemos é produto da incrível plasticidade
dos átomos de carbono, capazes de se combinarem com uma imensidade de outros,
em moléculas simples e complexas.
Quanto aos choques da Terra com objetos cósmicos, embora com
freqüência reduzida, ainda ocorre. Há apenas 65 milhões de anos (menos de 2% do
que se passou até aqui, desde o Big Bang), um asteróide de 10 trilhões de
toneladas atingiu a Península de Yucatán, no México. Mais de 70% da flora e da
fauna terráqueas foram eliminadas: todos os dinossauros, entre eles.
Desde então, os mamíferos passaram a contar com um nicho
ecológico possível. Um ramo desses mamíferos, os primatas, deu origem a uma
espécie, os Homo Sapiens, que evoluiu a um nível de inteligência que o
capacitou a criar aquilo que chamamos de ciência.. e a querer saber como
chegamos até aqui.
Rubem L. de F. Auto
Fonte: livro “Origens: catorze bilhões de anos de evolução”
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